Deveria ser um pouco mais do que 6 horas da manhã quando cruzamos a sinaleira em direção para Santa Maria, cidade do interior do Rio Grande do Sul, onde daríamos um treinamento. O sol já espiava aqueles 5 meninos em frangalhos que dormiam em caixas de papelão. Há um milhão de desculpas para essa situação, mas que é vergonhosa, ela é vergonhosa.
Estamos sendo mortos pela doença do auto-interesse. Deveríamos nos perguntar pela manhã quando vamos ao espelho fazer a barba ou passar o batom, o que nos sobra se tirassem nossas coisas? A casa bonita, o carro confortável que ano após ano tem que ser mais confortável, os eletrodomésticos que de tão pouco uso permanecem nas caixas, as porcelanas, a cristaleira, o emprego, o cargo, o salário e a posição. Os vinhos, o perfume importado, aquilo, aquela coisa que ninguém tem. Esse sentimento tão forte por objetos vem nos transformando em coisas de carne e osso. Sentados numa mesa improvisada, compartilhamos uma massa muito simples, os talheres também são improvisados e veja você que naquele almoço quase faltavam pratos. Repare e confesse: os momentos mais eternos de nossas vidas os objetos sempre são figuras secundárias. Por que estamos fazendo deles protagonistas de nossa história?
“O tempo do relógio está acelerando com tal velocidade, que a vida das pessoas é cada vez mais esmagada pelo estresse, pela exaustão e pela impossibilidade de realização das múltiplas demandas existentes sobre ela. Lutamos para impedir que a nossa vida se fragmente” (James O’dea|Você nasceu para um tempo como este).Esta é a lista dos 5 homens mais ricos do mundo: 1º – Warren Buffett – Americano – 77 anos – 62 bilhões de dólares, 2º – Carlos Slim Helu & family – Mexicano – 68 anos – 60 bilhões de dólares, 3º – William “Bill” Gates III – Americano – 52 anos – 58 bilhões de dólares, 4º – Lakshmi Mittal – Indiano – 57 anos – 45 bilhões de dólares, 5º – Mukesh Ambani – Indiano – 50 anos – 43 bilhões de dólares. Tentamos encontrar da mesma forma no Google a lista dos 5 homens mais bondosos ,mas não tem nada lá, além das contribuições e adoções duvidosas da celebridades que correm por mídia. O que nos remete a pensar é que faltem uns 62 milhões de Chico Xavieres, uns 60 milhões de Madre Terezas, uns 58 bilhões de Ghandis, enfim, como nos faz falta e têm sido caro para humanidade pessoas que valham pelo seu caminho no bem e não apenas pela sua acumulação de objetos. Seres que com seu exemplo nos digam que não é só a lâmpada que ilumina o escuro, muito pelo contrário, que a luz vem do coração. Para um coração fragmentado, mesmo holofotes ligados não são suficientes para acabar com a escuridão.
Não nos recordamos quem era o homem mais rico do século passado, mas é imortal a lembrança de Francisco de Assis conversando com os passarinhos e isso é muito mais que religião, Francisco de Assis é religiosidade. O auto-interesse é aquele lobo que se alimenta da individualização, “é também o tempo em que o despertador da natureza, já soando muito alto, reverberará através da psique da humanidade como uma experiência coletiva, como uma freqüência ou ressonância compartilhada (James O’dea|Você nasceu para um tempo como este).
No nosso Instituto temos uma campanha de doação de sangue que se realiza toda última sexta-feira do mês para auxiliar o Hemocentro em Porto Alegre que abastece mais de 40 hospitais da rede pública. Encaminhamos essa informação até o presente momento para em torno de 50 mil pessoas e ninguém se apresentou.
Os meninos dormindo nas caixas de papelão, um número escandaloso de drogados, prostituição de menores, matas sendo derrubadas, animais em extinção, desequilíbrios de toda ordem: nas relações sentimentais, no desenvolvimento de crianças e jovens, no abuso daqueles que tem dinheiro em relação aos que não tem, assédio moral nas empresas. Tal de toma lá e não dá cá. Tristeza de toda ordem: mães que choram, pois seus filhos foram para guerra. Mães que choram, pois seus filhos não têm o que comer. Mães que choram, pois apanham de seus maridos. Pais que choram, pois quando uma mãe chora é porque o mundo está perdido. A mãe Terra, mãe da nossa natureza chora agora por nós. A pergunta é a seguinte que nos leva a uma reflexão coletiva, desejamos permanecer nessa casa? Será que um número de pessoas sairá dessa cegueira do auto-interesse a tempo? Se o nosso sucesso é medido pelo acúmulo de objetos e coisas que possuímos, o que teremos que fazer para modificar esse conceito? Será que desejamos mesmo acabar com a ganância para nos tornarmos seres cooperativos? Livre é o homem que não se consola, pois não é prisioneiro de suas próprias desculpas. Como diria Pablo Neruda, os peixes estão presos ao vento!
Autor: Paulo Ricardo Silva Ferreira – Educador Facilitador. Presidente do Instituto Eckart Desenvolvimento Humano e Organizacional. Doutorando em Ciências Empresariais pela Universidade de Leon/Espanha, administrador de empresas, curso de psicologia, pós-graduado em administração hospitalar.
Redator: Sander Machado – Profissional de comunicação, redator. Coordenador do Núcleo Celebração do Instituto Eckart. Diretor Criativo da ILê Comunicação.