Faltando menos de 30 dias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem, a contagem regressiva fica mais presente na vida dos vestibulandos. É hora de foco e concentração. E, para te ajudar nesse momento, o educador e professor de planejamento estratégico, Mario Manhães, dará algumas dicas de preparação para a reta final, além de fazer uma avaliação sobre o sistema de cotas e o ensino atual no Brasil.
1. Como chegar à prova bem preparado?
Mario Manhães: A preparação deve ser intelectual (cognitiva), emocional e física. Intelectual (cognitiva) que é para adquirir o conhecimento que cai na prova, com todas as suas metodologias; emocional porque é um momento de estresse e se o candidato não tiver a capacidade de controlá-lo pode ter um apagão; e física, porque a coluna dói, dói a cabeça e o bumbum, quer dizer, o candidato precisa estar acostumado com essas dores, caso contrário, depois de uma hora ele já começa a ter queda de desempenho.
2. Quais são os erros de comportamento que os alunos mais cometem antes da prova?
Mario Manhães: Os erros mais comuns e mais prejudiciais: o não planejamento para ir ao local de prova; esquecer algum documento, material ou regra, que também é um erro de falta de planejamento; pensar que é possível aprender algo dois/três dias antes do exame e se bombardear de informações e de estresse.
3. É necessário focar em todas as matérias ou somente naquela que se tem mais dificuldade?
Mario Manhães: Os técnicos que elaboram o ENEM são bem preparados, as questões são inteligentes e abrangentes no sentido do conteúdo. Claro que todos os sistemas têm prós e contras. O grande mérito do ENEM foi o de democratizar o acesso. Assim, um aluno que quer estudar nas melhores universidades do país hoje tem muito mais facilidade. Antes, uma aluna que mora no Acre, ele teria de gastar muito tempo e dinheiro para fazer a prova da UFRJ. Hoje ela faz na sua própria cidade. A principal desvantagem é você cobrar o mesmo conteúdo para cursos e locais que são diferentes, assim você não faz uma seleção direcionada. Mas não tem jeito; não há uma forma, ainda, de você conseguir as duas coisas simultaneamente.
4. Como avalia que está o ensino hoje no Brasil, mas precisamente no estado do Rio de Janeiro?
Mario Manhães: Extremamente fraco e sem perspectivas de melhora, no momento. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE) nós podemos virar o Camboja em vinte anos. Isso é algo que está documentado no PNE: uma taxa anual de melhoria de aproximadamente 1,25% ao ano. O ENEM não é um bom indicador e estão querendo que só quem vá para a universidade faça a prova, porque assim os mais fracos, que não querem fazer a universidade, não participarão do exame e o indicador melhorará. É uma maquiagem para melhorar a educação.
5. É favor do sistema de cotas? Acredita que, de certa forma, isso prejudica aquele aluno que passou o ano inteiro estudando? Por quê?
Mario Manhães: Sou branco e sou a favor do sistema de cotas, mas por um tempo determinado, porque ele é um dispositivo para tentar acelerar a redução da desigualdade, mas ele não ataca a causa, que é a baixa qualidade do ensino fundamental. Dessa forma, os fracos e oprimidos sempre precisarão das cotas e sempre serão a minoria. Se fizerem um bom fundamental, ninguém precisará de cotas para entrar na universidade e, ao mesmo tempo, teremos um povo bem mais preparado. Eles têm de atacar a causa: o fundamental.
6. Quais as principais dicas que o senhor dá para quem vai fazer a prova no próximo mês?
Mario Manhães: Não posso dar uma dica para aquilo que o candidato não fez durante toda a vida, tem de ser uma dica para um mês ou duas semanas. Eu sei que alguns estão querendo um modelo possível. Então aí vai: até dois dias antes, treinar o aspecto emocional e físico, quem ainda não os treinou. Quer dizer: para ser bem objetivo: de hoje até dois dias antes da prova: simulado do primeiro dia de prova, verificação da prova e dos erros no mesmo dia, estudo no dia seguinte duas três horas dos pontos que percebeu estarem fracos. Dia seguinte simulado do segundo dia de prova com correção no mesmo dia. E no dia seguinte, duas três horas de concentração nos pontos fracos. Repetiria isso até dois dias antes do exame. Descansaria nesses dois dias, mas sem perder o foco. Nunca dizer acabou, fiz o que tinha de fazer e pronto. Não diga isso para você até o minuto final do segundo dia de prova. Se você disser isso dois dias antes, o seu cérebro receberá um comando para esquecer tudo. Continue concentrado, sem estresse, mas concentrado.
7. Como avalia as questões do enem? Muito complexas, com textos muito grandes? Acredita que as escolas, de forma geral, já preparam o aluno para o enem?
Mario Manhães: Só as escolas mais bem pontuadas preparam realmente os seus alunos para o ENEM, preparam de forma completa: preparam o intelectual, o emocional e o físico. Alguns especialistas condenam a preparação para provas e concursos. Agora, preparar para o ENEM é muito melhor que não preparar para nada. Então quer preparar mais que o ENEM, faça isso, por favor. Só não deixe de preparar para o ENEM, porque a comida que esse aluno vai comer até o fim da vida depende muito de sua nota nesse exame. Mas vamos adicionar um elemento: a preparação não é só uma preparação intelectual, como dissemos. Ao preparar bem um aluno, você o amadurece, porque invariavelmente esse aluno terá de aprender a lidar com: a administração do tempo, com o estresse e com a dor. Então ele cresce em vários aspectos, não só no intelectual; ele se prepara para atingir objetivos mais difíceis, ele vence um degrau a mais no desenvolvimento humano, e um degrau importante, principalmente em termos de se tornar uma pessoa mais forte, mais adulta e mais profissional. Então a concentração em questões tem desvantagens, mas as vantagens também são muitas. O mundo competitivo é um mundo de estresse. Se ele não desenvolver isso precisará dos pais para sobreviver.
8. A redação é a nota de maior peso neste tipo de exame. O que o aluno pode fazer e a quem procurar/recorrer para se sair bem nessa prova?
Mario Manhães: É o ponto mais importante e também é aquele que é menos afetado pela preparação nessas semanas finais. Porque o resultado de uma redação depende de toda a formação de português que o aluno teve em todos esses anos. Só serviria uma dica para aqueles que tiveram infelizmente uma formação fraca no assunto: até o dia do exame fazer várias pequenas redações para treinar as três fases: introdução, desenvolvimento e conclusão, e se preparar para fazer o dobro no dia. Pelo menos a visão estrutural da redação ele pode melhorar um pouco nesse tempo.
9. Acredita que esse tipo de exame avalia a capacidade e inteligência do aluno em sua essência? Se não, que tipo de prova(s) ou até mesmo sistemas poderiam ser utilizados para avaliar melhor um aluno?
Mario Manhães: Não avalia em sua essência, mas segue parâmetros técnicos de qualidade e modelos de questões multidisciplinares como a prova PISA e outros exames internacionais de alto gabarito. E infelizmente, se ele não é perfeito, o problema é que não existe substituto, no meu ver, que consiga traçar uma linha de corte mais adequada do que ele. Boa sorte, meus amiguinhos, e força na reta final.