Todos os anos, ideias de produtos e soluções inovadoras são guardadas nas bibliotecas das universidades brasileiras sem a chance de serem desenvolvidas na prática. Os desafios para que as pesquisas científicas encontrem o caminho do mercado – como baixo investimento no setor e inexperiência do pesquisador para lidar com o mercado – impedem que a sociedade se beneficie desses estudos. Mas há iniciativas que buscam mudar essa realidade.
Através do empreendedorismo, a pesquisadora Patrícia Ponce decidiu levar ao mercado seu estudo sobre o reaproveitamento de resíduos agrícolas para a produção de embalagens e utensílios biodegradáveis e compostáveis. Em agosto de 2020, ela fundou a startup daNatureza.
Para o processo de criação da empresa, Patrícia contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e participou do programa de inovação Catalisa ICT, iniciativa do Sebrae com o apoio da Wylinka.
Segundo a pesquisadora, a rede de apoio foi fundamental em sua trajetória. ”Eu já sabia que não seria fácil empreender. São muitos desafios que precisam ser transpostos para se chegar mais perto do tão desejado produto validado e pronto para ser colocado no mercado.”
Dentre os desafios, ela destaca a preparação do pesquisador como empreendedor. “É preciso conhecer a dor do cliente, saber se ele está disposto a comprar a ideia, conhecer a legislação envolvida em seu negócio, proteger a marca e o produto com patentes”, exemplifica. “É preciso procurar ajuda.”
Planos de expansão
No final do ano passado, a da Natureza fez a primeira venda de kits de plantios com vasos biodegradáveis para um escritório de advocacia, nicho de mercado que Patrícia diz não ter imaginado que atenderia se não fosse a orientação recebida durante o programa Catalisa ICT.
Para o futuro, a cientista e empreendedora planeja dar continuidade à participação no programa de inovação para diversificar e aumentar a produção e, assim, expandir para novos mercados.
Empreendedorismo, consultorias e parcerias: conheça os caminhos possíveis
O empreendedorismo é apenas um dos caminhos possíveis para a pesquisa científica chegar até o mercado, como esclarece a CEO da Wylinka, Ana Carolina Calçado. “Uma grande empresa pode encontrar nas universidades e centros de pesquisa uma solução tecnológica e fazer o licenciamento desse ativo para a exploração comercial”, pontua. “Também acontece de algumas universidades e pesquisadores prestarem serviços de consultoria técnica para a iniciativa privada.”
Outra possibilidade destacada por Ana são as encomendas públicas. “Nesse caso, o cliente é o governo e ‘encomenda’ na universidade alguma solução tecnológica. Quando o Butantã ou a Fiocruz produzem vacinas que usamos no SUS, isso é um exemplo de parceria público-privada na qual a ciência não só dialoga, mas gera resultados significativos para o mercado e para a sociedade.”
Mas para que esses caminhos sejam trilhados, é necessário fazer a ponte entre o conhecimento produzido nas instituições e a sociedade. O processo inclui desde a validação dos produtos até a preparação dos cientistas para atender o mercado, o que exige recursos financeiros e humanos.
Quase 3 mil soluções são inseridas no mercado
A Wylinka – organização sem fins lucrativos que tem como propósito mobilizar e desenvolver instituições e ecossistemas para a inovação e o empreendedorismo – trabalha com iniciativas que buscam sanar esses gargalos. “Em 10 anos de existência, foram 7.670 pessoas capacitadas em todos os nossos projetos. No total, foram criadas quase 3 mil soluções de base científica com foco no mercado”, destaca Ana.
Ela afirma que o ecossistema de inovação está motivado para superar os desafios. “Mobilizamos mais de 2.570 atores – entre mentores, palestrantes voluntários e instituições que apoiaram a execução dos projetos da Wylinka – com o foco em levar a formação empreendedora à comunidade acadêmica. Mas ainda há muito espaço para crescer.”
Entre os projetos desenvolvidos pela Wylinka está o curso Ciência na Ponta, que oferece a capacitação para os cientistas transformarem a pesquisa acadêmica em uma startup. Durante dez semanas, os inscritos participam de módulos para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, a identificação de oportunidades para a aplicação da pesquisa e a comunicação do negócio no mercado.
A Wylinka foi escolhida pelo Sebrae para executar capacitações no programa Catalisa ICT, que também tem o objetivo de inserir a pesquisa científica no mercado. Para isso, os pesquisadores participam de várias fases para a estruturação do negócio através de mentorias, capacitações sobre gestão e apoio financeiro.
Outras parcerias da Wylinka são desenvolvidas junto com o Sebrae for Startups, uma iniciativa do Sebrae São Paulo que busca conectar as empresas de base tecnológica do Estado e os possíveis parceiros a fim de fomentar e fortalecer o ecossistema de inovação, através de uma série de programas. Junto ao Sebrae for Startups, a Wylinka atua nos programas Lab Vendas Científicas, Acelerando Cientistas e Atômica, abarcando desde a fase de criação de ideias e soluções até o atendimento de startups científicas que querem escalar as suas vendas.