*Leonel Conti
A resiliência cibernética não é construída apenas pela compra de ferramentas sofisticadas, mas sim pela adoção de uma abordagem proativa e contínua que envolve toda a organização. Embora a aquisição de tecnologias avançadas seja importante, é apenas uma peça do quebra-cabeça.
Após sofrer um ataque, o impulso inicial da maioria das empresas é mitigar danos e restaurar serviços o mais rápido possível. No entanto, focar exclusivamente na resolução imediata, sem uma análise aprofundada dos gaps e falhas, pode deixar as instituições ainda mais suscetíveis a novos incidentes. A recuperação não deve ser vista como o ponto final, mas como uma oportunidade de fortalecer defesas e repensar a estratégia de segurança.
O Relatório de Custo de uma Violação de Dados da IBM revela que quase metade dos custos decorrentes de um ataque se estende além do segundo ano, principalmente em setores regulamentados como saúde e finanças. As consequências não são apenas financeiras; envolvem a perda de confiança dos clientes, sanções regulatórias e danos à reputação, que podem levar anos para serem reparados.
Para muitas empresas, essa realidade é agravada pela falsa sensação de segurança. Mesmo após sofrerem ataques, 70% das organizações pesquisadas pela Cisco afirmam estar confiantes em suas arquiteturas de segurança, apesar de não possuírem maturidade suficiente para combater ameaças modernas. Esse excesso de confiança pode representar uma armadilha perigosa, deixando lacunas que atacantes experientes exploram facilmente.
Para evitar essa armadilha, a reorganização da segurança deve ir além de “apagar incêndios”. É crucial adotar uma postura de aprendizado contínuo, em que cada incidente é tratado como uma lição valiosa. As empresas precisam reavaliar e adaptar seus planos de cibersegurança com base nas falhas identificadas, incorporando melhorias que fortaleçam as defesas contra ataques futuros.
Nesse contexto, a escolha de um parceiro especializado pode ser decisiva para implementar uma estratégia adaptativa, que se antecipe às ameaças e auxilie na criação de protocolos mais robustos. Por exemplo, a realização de testes de intrusão regulares, simulações de incidentes e análises pós-ataque pode ajudar a organização a identificar fraquezas antes que os atacantes o façam.
Além da adaptação de tecnologias e processos, a mentalidade organizacional precisa ser reavaliada. Muitas vezes, as equipes de segurança operam sob pressão constante e em um ambiente que busca culpados após cada incidente. Essa cultura de culpabilização é prejudicial e desestimula a inovação.
Em vez disso, é preciso promover uma cultura colaborativa e de apoio, em que o fracasso de uma medida de defesa seja visto como uma oportunidade para aprender e melhorar, e não como uma falha individual. Estabelecer uma comunicação aberta e garantir que todos na organização, desde a alta liderança até os colaboradores da linha de frente, compreendam os riscos e as melhores práticas de segurança são passos fundamentais para construir uma resiliência duradoura.
A resiliência cibernética é um processo contínuo que vai além da aquisição de ferramentas sofisticadas. Trata-se de promover uma mudança de mentalidade, enxergando a segurança como um esforço coletivo e dinâmico, em que a preparação, a resposta e a adaptação se complementam. Adotar essa abordagem permite que as empresas não apenas aprimorem sua capacidade de recuperação diante de incidentes, mas também fortaleçam sua posição competitiva em um ambiente cada vez mais digital e repleto de ameaças.
Leonel Conti é Diretor de tecnologia da Redbelt Security