O formato de terapia digital se populariza como uma facilidade no momento em que problemas emocionais crescem de forma preocupante
Não é novidade que a pandemia de Covid-19 trouxe, além do adoecimento físico, problemas relacionados à saúde mental. De acordo com uma pesquisa do DATASUS, que ouviu 17.491 pessoas em 2020, os transtornos mais presentes durante o primeiro ano de pandemia foram a ansiedade (86,5%), estresse pós-traumático (45,5%) e depressão grave (16%).
Acompanhando essa crescente alarmante, subiu também o número de psicólogos que pediram autorização do Conselho Federal de Psicologia para prestarem atendimento em psicologia online. Entre março e dezembro de 2020, 99.100 profissionais solicitaram essa autorização — antes da pandemia, o Conselho tinha 30.677 profissionais autorizados para o serviço remoto, segundo o DATASUS.
A psicóloga clínica Lanna Oliveira é uma dessas profissionais e relata que a adaptação é constante. “Há algumas diferenças entre o presencial e o online. Quando eu já possuo um comparativo do presencial daquele paciente, o online se torna mais difícil. Já com o paciente que começa online, eu consigo fluir com mais facilidade a minha abordagem”, conta.
Tendo a análise corporal como uma de suas principais ferramentas de abordagem, a psicóloga relata que, mesmo com a facilidade de atendimento, sente uma limitação. “Essa análise corporal é minha qualidade como profissional, então no online sinto que só consigo ir até um certo nível. Os pacientes acham ótimo pela facilidade. E, apesar de ser uma realidade que veio para ficar, acredito que esse atendimento vai ser híbrido daqui a alguns anos”, diz Lanna.
A jornalista Natália Rocha, 22 anos, conta que começou a utilizar esse formato de terapia no começo da pandemia e aponta que não se vê prejudicada pelo formato online. Pelo contrário, pois para ela o elemento principal desses encontros é a conversa. “Particularmente, eu amo a praticidade da consulta pela internet. Com certeza ganho pelo menos uma hora do meu dia por não precisar me deslocar até a clínica. Fora que estar em casa também gera um conforto maior na hora de abrir o que se passa na minha vida para a psicóloga”, relata.
Quem trabalha com serviços em telemedicina também sente essa mudança de aceitação com relação a serviços de saúde online. Willians Pires, CEO do aplicativo Unicallmed, que liga profissionais a pacientes, afirma que na sua plataforma, os atendimentos psicológicos são os campeões de procura. “O atendimento online não vem para substituir o presencial, mas para facilitar o acesso ao profissional. Um grande problema é que hoje, apesar de muitas pessoas precisarem de acompanhamento, há uma relutância em dar o primeiro passo e procurar o profissional. Com o atendimento online, grande parte dessa barreira é quebrada, pois o acesso se torna simplificado”, diz.
Segundo o empresário essa também é uma forma do paciente testar diferentes profissionais e abordagens antes de partir para o presencial. “Na psicologia o paciente busca o atendimento que mais funciona para si e essa busca pode ser cansativa para muitos, o que pode culminar em um abandono do tratamento. Desta forma, a telemedicina ajuda a fazer com que esse indivíduo encontre de maneira mais fácil aquele profissional abordagem que melhor atende, sem precisar ir de clínica em clínica”, analisa.
O aplicativo Unicallmed chegou ao mercado recentemente com a proposta de eliminar a postergação. O sistema é similar ao de aplicativos como Ifood ou Uber, no qual profissionais cadastrados — neste caso, médicos, psicólogos, nutricionista e afins — estão à disposição para atender clientes de acordo com a demanda.