Há uma corrida quase enlouquecedora nesses tempos de agora em busca da certificação, da titulagem, da chancela. Participantes de palestras, cursos, graduações e pós-graduações, habitam os plenários, as escolas, as universidades cada vez menos em busca do conhecimento e cada vez mais na crença de que o papel que irão receber poderá se transformar em papel moeda de inteligência, sem que verdadeiramente essa Inteligência exista.
Estamos chegando no limite do céu. A batalha em tornar tudo uma coisa, tem levado o conhecimento para dentro desse código de barras. Uma batalha travada entre o interesse e o interessante. O conhecimento é interessante porque possibilita mentes mais ágeis, atentas e atenciosas. O interesse pelo carimbo faz dos alunos indivíduos preguiçosos, única e exclusivamente preocupados com suas notas. Seres que negligenciam e abrem mão de seu saber – saber como profissionais, saber como seres conexos com outros seres.
O conhecimento é interessante porque é descoberta, revelador, é invenção. Compartilha aglutinando, desconhece reconhecendo, expande vivenciando, encontra nos desencontros. Enquanto o interesse por isso ou por aquilo, para constar, só para ascender de nível, para cumprir lá uma carga horária é escuridão, rua sem saída, porta sem chave, casa sem janela, noite sem estrelas, dia sem sol, pois é uma decisão sempre muito sombria. Um duelo na sala de aula dos que querem aprender versus os que estão como turistas, um afinal de contas porque tenho que estar aqui nesse treinamento versus os que estão ali se encantando, um dormir de olhos abertos versus os que estão sonhando de olhos abertos.
Temos que fazer o nosso papel no mundo e não o papel fazer o nosso mundo. Meu comprometimento e meus valores são a grande nota. Se realmente estou onde estou, ajo honestamente, minha história de vida, visão de mundo, crenças e desejos passaram a ser reconhecidos como conhecimento e fazer parte das entrevistas. Segundo a Society for Human Resource Management, entidade que reúnem profissionais e consultorias de RH nos Estados Unidos, hoje, 54% dos recrutadores baseiam sua decisão final de contratação na “química” com o candidato. Quer dizer, você vale pelo que é e não pelo que escreveram que é.
É claro que o conhecimento formal pode e deve ultrapassar as fronteiras dos enfoques apenas em ferramentas e propor aos alunos uma trans-educação. Um saber que não fique acomodado no copia e cola, no título e avance para o campo do pensar, do filosófico, da atitude em relação ao processo. Sendo assim, desenvolvendo uma transversalidade entre o conhecimento específico (profissional) e o conhecimento holístico (a minha e a vida como um todo).
Como aprender a aprender? A chave. Estamos enganados se acreditamos que o conteúdo é o conhecimento, resultado do processo de aprendizagem. Um automóvel tem vidros elétricos, ar-condicionado, mas isso não é o dirigir, é acessório, o mesmo se dá com o conteúdo, ele é acessório, é estímulo ao aprender. Portanto, conteúdos didáticos devem ser mais intrigantes, realistas, práticos, relacionados com a realidade de quem estuda para que possa aprender. Nesse sentido Stewart Hase desenvolveu, neste início de século XXI, o conceito da Heutagogia, que tem como eixo a aprendizagem auto-dirigida, auto-descoberta, reconhece as experiências cotidianas, uma perspectiva de conhecimento compartilhado. Isso significa pensar mais no processo que no conteúdo; buscar sentido no mundo de quem aprende e não no de quem ensina; ir além das teorias favoritas.
A melhor moeda que temos é a nossa inteligência. Só a inteligência é provocante, e é na provocação que nasce o inovar. Realmente isso é mais uma vez matéria filosófica. Mas nos parece que agora, exatamente nesse agora, as organizações estão muito mais preocupadas na filosofia de vida, como você se comporta dentro e fora do ambiente de trabalho, do que um mero papel que muitas vezes não fala de verdade, de como alguém se comportou dentro e fora de uma palestra, curso, graduação e pós-graduação.
Autor: Paulo Ricardo Silva Ferreira – Educador Facilitador. Presidente do Instituto Eckart Desenvolvimento Humano e Organizacional. Doutorando em Ciências Empresariais pela Universidade de Leon/Espanha, administrador de empresas, curso de psicologia, pós-graduado em administração hospitalar.
Redator: Sander Machado – Profissional de comunicação, redator. Coordenador do Núcleo Celebração do Instituto Eckart. Diretor Criativo da ILê Comunicação.