Educação respeitosa é um movimento bastante novo que tem como proposta ensinar e estabelecer limites em crianças de maneira empática e sem utilizar castigos físicos. Apesar de já existir a Lei nº 13.010, conhecida como a Lei do Menino Bernardo que ampara na proteção de crianças e a proibição de palmadas entre outros tipos de violência física e emocional, ainda se tem um índice altíssimo de violência infantil.
De acordo com os dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, analisados em estudo produzido pelo comitê científico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), no Brasil são registrados 673 casos de violência contra crianças de até 6 anos por dia, ou 28 a cada hora, e na maioria dos casos os suspeitos por agressão são pais, madrastas, padrastos ou avós.
Diante desse cenário, as discussões sobre a saúde mental infantil são acendidas e geram preocupações quanto aos limites da educação. Para Carol Bitar, psicóloga, especialista em neurociência e defensora de uma infância protegida, a educação positiva pode ser um meio de romper o ciclo de violência e mostrar que é possível educar e estabelecer limites de maneira respeitosa.
“Educar de maneira respeitosa não deveria ser olhado como uma forma diferente de educar, afinal, o respeito deve existir em todos os tipos de relações. Ainda carregamos uma cultura de violência muito forte dentro das estruturas familiares, e as crianças são as mais vulneráveis”, diz Carol.
A psicóloga explica que educar de maneira respeitosa não tem relação com permissividade, como muitos acreditam. Ela diz que é possível ensinar valores, respeito e regras sem machucar ou comprometer a integridade física e emocional da criança.
“Educar de maneira respeitosa vai exigir dos pais estudo sobre infância e maneiras de condução. Estudamos para tudo nessa vida, inclusive até para amamentar, mesmo sendo algo natural e instintivo, ainda assim precisamos de orientação. Por que não estudar sobre educação e infância? Os pais e adultos, de forma geral, que lidam com crianças precisam levar isso a sério. Muitos prejuízos emocionais estão sendo causados pela falta de conhecimento dos adultos”.
Sobre as palmadas
As palmadas ainda são muito utilizadas pelos pais como método educativo, e isso vem sendo debatido pela ciência sobre os inúmeros prejuízos dessas ações. De acordo com a pesquisa “Childhood maltreatment predicts adult inflammation in a life-course study”, crianças criadas em famílias duras são propensas a doenças crônicas mais tarde na vida. Para Carol, que também é especialista em comportamento, crianças submetidas ao medo, punições e todo um estresse constante, ficará registrada em sua memória imunológica, aumentando o risco de adoecimento físico e emocional a curto, médio e até longo prazo.
“Todo estresse e medo causado na infância gera uma inflamação natural no nosso corpo. Quanto mais cedo esse indivíduo for submetido ao estresse, consequentemente, mais processos inflamatórios serão desenvolvidos, ocasionando assim, o que chamamos de ‘memória imunológica’, ou seja, essa inflamação ficará marcada nas células desse sujeito”.
Carol destaca que as palmadas podem falar muito sobre a falta de estratégias e ferramentas de como conduzir as crianças no dia a dia, como também sobre a pouca capacidade de diálogo entre pais e filhos, por isso a importância de estudar sobre educação.
“Além disso, o ato de bater também está muito relacionado à infância desses pais. Adultos que apanharam na infância aprendem esse repertório comportamental e replicam com os próprios filhos. Por isso, precisamos urgentemente quebrar o ciclo de violência”.
Uma pesquisa recente feita nos EUA que foram incluídos 75 estudos em 13 países, concluiu que a palmada aumenta significativamente o risco de resultados negativos e problemas. Nessa mesma pesquisa foi observado que o apanhar não estava ligado com o bom comportamento da criança, ao invés disso, a palmada estava conectada ao pior comportamento da criança.
“Muitos pais acreditam que devemos punir crianças para ensinar, mas o mais interessante é que dentro das outras diversas relações familiares, ninguém bate no marido, a esposa ou amigos para ensinar. Mas quando se trata de criança, muitos se justificam que é educação”.
Instagram: @carolbitar_