Novo surto de poliomielite no mundo acende sinal amarelo sobre risco da doença

Novo surto de poliomielite no mundo acende sinal amarelo sobre risco da doença

Pela segunda vez neste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um sinal de alerta para as autoridades de saúde do mundo com relação a novos casos registrados de poliomielite. Um surto no Paquistão deixou oito crianças paralisadas, e, no Afeganistão, uma criança também foi afetada. O novo alerta emitido em junho soma-se à manifestação da autoridade de saúde mundial ocorrida há três meses. Em março, depois de mais de 30 anos, o primeiro caso de poliomielite já havia sido identificado em Israel, em um menino de 4 anos que não havia tomado a vacina, totalizando sete casos ao todo de paralisia flácida na região. Apesar de a doença já estar erradicada no Brasil desde 1990, a infectologista Analíria Pimentel faz um alerta sobre o risco da volta da doença e a necessidade de ampliar a cobertura vacinal, que caiu para 67% em 2021. O número é abaixo dos 95% recomendados pela OMS. 

“Enquanto houver uma criança infectada, crianças de todos os países correm o risco de contrair a poliomielite. Se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200 mil novos casos no mundo, a cada ano, dentro do período de uma década. Em um mundo altamente interligado, esses agentes podem atravessar fronteiras geográficas e infectar qualquer pessoa que não esteja protegida”, comentou a infectologista Analíria Pimentel, pediatra e responsável técnica do Hope Vacinas, um novo serviço do Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope).

O novo surto identificado neste mês no Paquistão foi motivado, segundo as autoridades de saúde, pelo fato de os pais terem falsamente marcado a si próprios e aos seus filhos como vacinados. Além das marcações falsas, as recusas são um dos principais motivos do recente surto. “Por isso temos que ficar atentos à cobertura vacinal. Esses dois países ainda têm o vírus selvagem da poliomielite”, explica a médica Analíria Pimentel. Segundo a OMS, o Paquistão e Afeganistão são os dois países onde o vírus da poliomielite ainda é endêmico. O Paquistão não registrava casos de poliomielite desde janeiro de 2021.

Em Israel, o vírus encontrado em março deste ano foi achado em amostras de esgoto na área, logo após um surto no Malawi, África, ligado a uma cepa que circula no Paquistão. Já são sete casos identificados em crianças em Israel. Uma investigação epidemiológica foi aberta para avaliar a cobertura vacinal na região e a cepa, que seria uma mutação da cepa selvagem, a mais perigosa.

No Brasil, segundo a OMS, a poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil, foi erradicada no Brasil em 1994. A doença deixou de afetar milhares de crianças brasileiras após a grande campanha de vacinação em massa. Entretanto, as taxas de imunização contra a poliomielite estão em queda, o que liga um sinal de alerta das autoridades de saúde para o risco de volta da endemia.

Em 2015, a cobertura vacinal da poliomielite em crianças de menos de um ano de idade era de 98,29% no Brasil. Em 2020, chegou em 75,81% e no ano passado caiu para 67%, segundo a Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI/DT). A cobertura das doses de reforço (a de gotinha) registrada em 2021 é ainda menor: 52%. O último paciente com poliomielite no Brasil foi identificado em 1989, na cidade de Sousa, na Paraíba. Em 1994, o país recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de eliminação da transmissão do vírus causador dessa enfermidade.

A infectologista Analíria Pimentel explica que a Poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca de pessoas doentes e provocar ou não a paralisia.

 A doença pode surgir sem sintomas, e também com as manifestações neurológicas mais graves, causando paralisia e até mesmo a morte. A maioria das pessoas infectadas não fica doente e não manifesta sintomas, deixando a doença passar despercebida. Alguns dos sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez de nuca, meningite.

Já na forma paralítica da poliomielite, ocorre instalação súbita de deficiência motora, acompanhada de febre, assimetria acometendo, sobretudo a musculatura dos membros, com mais frequência os inferiores; flacidez muscular, com diminuição ou abolição de reflexos profundos na área paralisada; sensibilidade conservada; persistência de paralisia residual (sequela) após 60 dias do início da doença.

Prevenção

Embora ocorra com maior frequência em crianças, a pólio pode ocorrer também em adultos que não foram imunizados. Por isso, é fundamental ficar atento às medidas preventivas, como lavar sempre bem as mãos, ter cuidado com o preparo dos alimentos e beber água tratada.

No caso das clínicas privadas, a vacina contra a poliomielite segue indicada para todas as crianças brasileiras num esquema de cinco doses injetável vinculadas  a vacina pentavalente ou hexavalente. No PNI, o esquema é de três doses com a penta e os reforços por via oral.

“A vacinação é a única forma de prevenção da poliomielite. Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas conforme o esquema de vacinação da rotina e na campanha nacional anual”, explica  Analíria Pimentel. “Programas de vacinação bem-sucedidos, assim como as sociedades bem-sucedidas, dependem da cooperação de cada indivíduo para assegurar o bem de todos”, afirmou Analíria Pimentel. 

A infectologista Analíria Pimentel é a responsável técnica do Hope Vacinas. O novo serviço foi criado há quatro meses dentro do propósito do Hospital de Olhos de Pernambuco de cuidar das pessoas, entendendo a importância das vacinas na prevenção e no controle de doenças. O Hope tem 69 anos, conta com mais de 70 especialistas em sua equipe médica, e tem serviços em todas as áreas da oftalmologia (exames, cirurgias e atendimentos em consultórios), laringologia e agora em vacinas. A sede do Hope fica na Ilha do Leite. Além da unidade central, conta com cinco unidades no Recife (nos shoppings Plaza, Recife e RioMar), Olinda (Shopping Patteo Olinda) e Piedade (Shopping Guararapes). 

Texto publicado no https://www.tribunanordeste.com.br/novo-surto-de-poliomielite-no-mundo-acende-sinal-amarelo-sobre-possivel-volta-da-doenca