Um dos maiores desafios atuais do país é a reindustrialização. A indústria chegou a contribuir com cerca de 30% do PIB nacional no início da década de 1980, auge da sua representatividade na economia brasileira. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram a perda de importância da indústria na formação do PIB nos últimos anos. Em 2021, o PIB brasileiro somou R$ 8,7 trilhões. A indústria foi responsável por cerca de R$ 1,6 trilhão deste total – ou 18,9%. Dez anos antes, em 2011, o porcentual era de 23,1%.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as causas da perda de competitividade da indústria nacional são muitas. Destacam-se, entre elas, os elevados custos sistêmicos, conhecidos como Custo Brasil, resultado de um sistema tributário complexo, oneroso e cumulativo, a infraestrutura deficiente, o financiamento escasso e caro, a baixa qualidade da educação, o ambiente macroeconômico instável e a insegurança jurídica.
No Brasil e em outros países em desenvolvimento, o fenômeno decorre da primarização da atividade econômica e pode levar a limitações no crescimento de longo prazo, além da acentuação da desigualdade e da exclusão, pois a atividade industrial agrega valor à matriz produtiva, gera renda e empregos de qualidade, enriquece a pauta de exportações e contribui significativamente para o desenvolvimento econômico e social. A cada R$ 1,00 produzido na indústria de transformação, são gerados R$ 2,43 na economia como um todo.
Este quadro de desindustrialização no Brasil difere qualitativamente do ocorrido em outros países. Novas estratégias de desenvolvimento industrial têm sido o grande foco nos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China, Alemanha e demais países da União Europeia. Um levantamento realizado pela CNI sobre os ambiciosos planos destes países nesta área revela que, juntos, eles preveem investimentos da ordem de 5 trilhões de dólares, nos próximos anos, em políticas de apoio às suas respectivas indústrias, com vistas a alcançar objetivos estratégicos, como a digitalização e a descarbonização da economia.
Para o diretor da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB), Bruno Linhares, os governantes e a sociedade tem a difícil missão de reverter este processo e aproveitar a nova revolução industrial em curso, conhecida como Indústria 4.0. “Vivenciamos uma ampla digitalização em toda a sociedade, com o uso massivo da internet, com novas tecnologias de comunicação de dados, com Inteligência Artificial, com o armazenamento das informações em nuvem, com a IOT – Internet das Coisas e muito em breve, com a computação quântica. Essa é a base material para a nova revolução industrial”, diz.
Segundo Linhares, a digitalização ocorre não só no chão de fábrica, com a instalação de plantas inteligentes, mas também na integração com toda a cadeia produtiva. “Em muitos casos, a utilização de dispositivos digitais nos próprios produtos levará a obtenção de informações sobre seu uso, permitindo a construção de novos serviços e a reconfiguração dos métodos de produção, distribuição e consumo. Para isso, é necessário que tenhamos infraestrutura no país para suportar a transmissão, armazenamento e utilização dos dados, que estarão distribuídos por todo o ciclo de produção e consumo, para além do âmbito meramente fabril”, completa.
Um dos principais requisitos desta infraestrutura é a cibersegurança. Em meados de maio deste ano, uma vulnerabilidade encontrada nos sistemas de controles industriais (ICS) da empresa Siemens foi considerada de criticidade alta pelos especialistas da empresa de segurança ISH Tecnologia. A vulnerabilidade permitia que hackers conseguissem desestabilizar um sistema empresarial inteiro de rede elétrica.
“É sério fator de risco o uso indevido ou a interferência de organizações criminosas ou terroristas nos processos e nos dados, afetando a capacidade de produção e distribuição de produtos”, alerta Bruno Linhares. “O Brasil conta com ferramentas importantes de prevenção. Em primeiro lugar a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) que garante a identificação segura de pessoas físicas e jurídicas e chega até Internet das Coisas (IOT) como, por exemplo, com a instalação de certificados digitais nas bombas de combustível. Também contamos com os serviços digitais do governo, como o Portal Gov.br e outras possibilidades de conexão segura”, indica.
“O debate na sociedade sobre cibersegurança é fundamental para que os esforços para a construção de uma infraestrutura digital ocorram de forma estruturada e contínua com a reafirmação e a evolução de políticas públicas que amparem e garantam um terreno adequado para o desenvolvimento industrial, econômico e social que o país necessita”, finaliza Linhares.