Sandra Maura, CEO da TOPMIND
O avanço do comércio eletrônico vai ao encontro do novo perfil do consumidor, muito mais exigente, informado e que busca novas experiências na hora de comprar. No entanto, essa nova realidade de consumo se apresenta como um desafio para a estratégia de vendas de lojas físicas do varejo, ainda mais porque o comércio eletrônico no Brasil teve um aumento de 7,5% em 2017 e deverá ampliar ainda mais este ano, segundo dados da Ebit. As vendas pela Internet devem totalizar R$ 53 bilhões em 2018, o equivalente a um incremento de 12% em relação ao ano passado.
Esse crescimento das vendas do mercado digital vem sendo impulsionado principalmente por uma evolução tecnológica que permite, por exemplo, traçar perfis individuais de consumidores e oferecer produtos ou serviços totalmente personalizados. Estratégias digitais como essa estão sendo utilizadas para aumentar as vendas online e também as experiências nas lojas, que cada vez mais estão sendo reformuladas para despertarem a atenção dos clientes.
Para diminuir a distância entre o mundo físico e virtual, o varejo brasileiro deverá começar a explorar mais as vantagens dos dispositivos inteligentes como a Internet das Coisas (IoT). Trata-se de um novo movimento digital, mas que já está conectando milhares de aparelhos que cercam a vida cotidiana. Essa revolução une conectividade aos aplicativos móveis. Hoje, os sensores já captam e armazenam hábitos e preferências dos consumidores e podem ser instalados em diversos lugares, incluindo pontos de venda, centros de controle de estoque, departamentos de vestuário e até prateleiras.
Cada vez mais, lojas físicas estarão utilizando soluções de TI para conectar hardware, software, serviços e dispositivos de Internet das Coisas (IoT) para modernizar suas estruturas e fazer estudos sobre a preferência de cada um dos clientes. Será a era dos Analytics, com ferramentas capazes de registrar dados dos consumidores em tempo real, permitindo, inclusive, informações precisas para reposicionamento correto de produtos em prateleiras, análises de públicos de cada loja, horários de consumo e até os interesses de cada consumidor.
Graças a essa nova realidade, as prateleiras deixarão de ser apenas um móvel de exposição para se tornarem uma das principais ferramentas estratégicas de marketing das marcas. Com isso, lojistas poderão interagir de forma totalmente personalizada com seus consumidores por meio de tecnologias de análise de dados.
Além de aproximar fornecedores e clientes, os sistemas de IoT podem ser aplicados em praticamente todas frentes do varejo. Isso inclui gerenciamento de estoques, acompanhamento de inventários, redução de fraudes, otimização de atividades de funcionários e até reposição de produtos conforme o consumo diário.
Mais da metade dos novos negócios irá incorporar algum elemento de Internet das Coisas até 2020, segundo o Gartner. Estimativas mostram que já temos mundialmente 8,4 bilhões de “coisas” conectadas em uso. Desse volume, o segmento de consumo é o maior usuário de dispositivos conectados, respondendo por 5,2 bilhões de unidades, o que representa 63% do número total de aplicações em uso. A expectativa global é ter mais de 20,4 bilhões de sistemas conectados até 2020.
Além de medidores inteligentes, aplicações desenvolvidas especialmente para setores da indústria, como o varejo, impulsionarão o uso de coisas conectadas com pelo menos 1,5 bilhão de novas unidades implementadas. Com isso, teremos novas demandas por serviços de TI para integração de sistemas e dispositivos de Internet das Coisas, criando oportunidades globais de negócios superiores e US$ 250 bilhões por ano, pois cada vez mais fornecedores serão acionados para implementar e gerenciar sistemas de IoT.
Certamente, o primeiro e mais importante passo para essa revolução será marcado pelo planejamento das estruturas de TI para abrigar novos equipamentos capazes de indicar novas ideias para aumento de vendas e interação com clientes. Alcançar a integração completa para ativos conectados à IoT é provavelmente mais desafiador do que se pensa, por conta da complexidade dos ambientes de TI, e que cada empresa possui suas características próprias. Terminais de IoT precisarão ser conectados a um gateway para agregar dados de sensores e enviar para uma plataforma inteligente que possa fornecer os recursos de TI necessários para administrar o consumo de dados.
Novas formas de conexão terão de ser exploradas, inclusive com ofertas via aplicativos móveis para um controle rápido e fácil das aplicações corporativas. Será, portanto, crucial qualificar as expectativas em torno de uma implementação para garantir a entrega dos benefícios esperados. No centro dessa transformação digital estará a mudança de operações de manutenção para novos sistemas inteligentes que captam dados a cada novo segundo.
A exemplo das novas lojas da Amazon nos Estados Unidos, o varejo brasileiro precisará se reinventar para oferecer aos novos consumidores ambientes cada vez mais convidativos, tendo a tecnologia como fator estratégico para transformar a jornada digital, independentemente de onde a compra será feita, seja pelos dispositivos móveis ou diretamente na loja física. Aplicar a Internet das Coisas aos negócios será uma questão de sobrevivência para as empresas que desejam ampliar suas vantagens competitivas em um acirrado e inovador mercado de consumo.