Por Eduardo L’Hotellier*
Você certamente já se deparou com o assunto que está rendendo muito debate nos últimos tempos, os super aplicativos. No continente asiático, alguns modelos têm se popularizado entre os consumidores; no mercado ocidental, este movimento ainda está começando a ganhar tração. Com a compra do Twitter, por Elon Musk, há uma nova euforia sobre a possibilidade da rede social se tornar um super app. Mas afinal, o que as empresas esperam ao almejar tanto isso? Eu vou te dar um spoiler, a resposta tem a ver com querer o seu tempo e a sua atenção.
Não faz muito tempo que a Uber anunciou que passaria a disponibilizar em sua plataforma a possibilidade de solicitar viagens de avião, trem e até aluguel de carros. É um movimento realizado pela startup para se tornar um super app no setor de transportes. A companhia entra em um grupo cada vez maior de empresas que querem oferecer uma gama imensa de soluções e serviços no mesmo app.
Atualmente, é possível jogar games no app da Netflix, realizar transações financeiras no app da Magazine Luiza e reservar passagens de avião em app de banco. Essas empresas se inspiram no modelo do WeChat, desenvolvido pela Tencent, que começou como um app de mensagens e, hoje, oferece basicamente de tudo lá na China. De serviços financeiros a entrega de comida, a companhia ajudou a definir o conceito de super app no mundo.
Inclusive, em 2017 tive a oportunidade, pela Monashees, de conhecer a China e aprender um pouco mais sobre a cultura e modelo de negócio das empresas chinesas. Os empresários levam muito a sério empreender e crescer rápido, seja qual for o segmento de indústria, sendo importante se posicionar à frente quando o assunto é expansão dos negócios, mesmo que para isso seja preciso se reinventar no mercado e tentar estratégias ousadas.
Por mais que o mercado ocidental esteja avançando na implementação desses aplicativos que prometem uma experiência completa, ainda há muito o que ser estudado para, de fato, tornar hegemônico o conhecimento do público sobre esses apps no Brasil. A ILUMEO desenvolveu uma pesquisa, chamada “Super Apps – Estudo do Comportamento do Consumidor e Marcas”, que identificou o termo pouco conhecido, mesmo entre o público early adopter, que são mais abertos à inovação e tecnologia.
Por isso, conhecer o público é um dos principais objetivos das organizações e todos os anos são gastos bilhões de dólares para atingir esta meta. Para se ter uma ideia, em 2021 os brasileiros passaram quase cinco horas e meia por dia, em média, no celular, segundo um relatório do App Annie. Isso corresponde a um terço do tempo que a gente passa acordado.
Seja por lazer, trabalho, compras e até a contratação de serviços, existem pouquíssimas tarefas que as pessoas não realizam de olho numa tela. Com tantos estímulos vindo de vários lugares a todo momento, a maior competição que existe no mercado atual é por atenção.
Quanto mais tempo o cliente passa na plataforma ou site de uma empresa, considerando que toda a experiência de compra vai acontecer ali, menos tempo ele passa na plataforma concorrente, e maior é a chance de indicar a empresa para outras pessoas, além de melhorar o relacionamento com a marca. E os super apps, ao entregarem tudo o que o cliente precisa, recebe em troca todas as informações que deseja.
No entanto, é importante considerar que existem riscos, como a possibilidade de uma empresa sofrer imbróglios jurídicos por conta de potenciais monopólios. Além disso, se não houver um critério bem estabelecido, as empresas podem expandir sem direcionamento, perdendo a qualidade e o foco nas soluções.
Pude notar também que a ousadia nos negócios é uma característica forte no mercado chinês. Para os empresários do país, proteger o mercado local é uma forma de garantir a concorrência interna. E a forma como eles se fecham para fortalecer a produção e negócios locais impacta em todas as frentes e é visto por todos os lados. Desde a produção até a distribuição, o que inclui também as formas de pagamento.
Da mesma forma que os shopping centers fazem há bastante tempo, os super apps buscam oportunidades para impulsionar o mercado ocidental em um novo ponto de transformação da indústria, assim como já faz o mercado oriental. O WeChat, que já possui mais de 1 bilhão de usuários na China, é uma aspiração não só para Musk, mas também para todo um mercado que enxerga essa tendência de forma muito atenta.
*Eduardo L’Hotellier, fundador e CEO do GetNinjas