- Carolina McCardell e Celia Godoy Nakamura, sócias do escritório McCardell & Godoy Advogadas, especializadas em Direito das Famílias
Após anos de intensa disputa judicial, terminou um dos casos judiciais mais ruidosos dos últimos tempos, envolvendo os atores Johnny Depp e Amber Heard. Depois de o casal assinar um acordo de divórcio, a atriz entrou com uma ação contra o ex-marido exigindo uma ordem de restrição física e com diversas acusações de violência, mais um valor de indenização altíssimo. Johnny Depp entrou com outra ação contra a ex-mulher, também pedindo uma indenização por cancelamento de contratos e prejuízo à sua imagem.
A decisão, tomada por unanimidade, estipulou um pagamento de US$ 2 milhões pelo ator à ex-esposa e uma indenização de R$ 15 milhões de Amber Heard para Johnny Depp. Pelos valores estipulados, presume-se que a decisão pendeu a dar ganho de causa ao marido.
Apesar de não ser propriamente um caso de separação litigiosa, sendo que o divórcio foi anterior à disputa, o caso é um bom exemplo de como uma separação litigiosa, na imensa maioria das vezes, não é um bom caminho para se chegar a um acordo.
Seja nos EUA, seja no Brasil, uma separação, quando fica mal resolvida, pode resultar uma série de danos posteriores, como alienação parental, difamação, conflito de lealdade de criança entre pai e mãe e danos e traumas de difícil reparação e traumas, que só poderão ser superados após muitas sessões de psicanálise e de psiquiatria.
No caso de empresários, executivos, destaques em suas áreas de atuação, com a disseminação das redes sociais, esse os danos se multiplicam exponencialmente, sem limites e sem freios. Os envolvidos que estão ligados à mídia e construíram uma carreira calcada em sua imagem são diretamente atingidos em suas fontes de renda ao serem material de exploração intensiva pelas mídias de fofoca.
Não é incomum que as acusações de agressão moral e física, abuso sexual de pais contra filhos recaiam sobre os homens, que imediatamente já são julgados pelo implacável tribunal das redes sociais. Até que se prove o contrário, o homem é culpado e, quando conseguir provar sua inocência, poderá ter sido tarde demais.
Claro que não é o objetivo minimizar o combate aos graves e diários abusos sofridos por mulheres e crianças em todo mundo, principalmente no Brasil, principalmente dentro de seus próprios lares.
É preciso entender que vítima é vítima, não importa o gênero, assim como a mulher, o homem também precisa de proteção. O julgamento entre as estrelas de Hollywood acabou, mas as batalhas do dia a dia continuam. É preciso proteger a pessoa, o agressor não tem sexo. Aliás, muitas vezes se utiliza dele e de sua suposta fragilidade para impor sua crueldade.
Ao acompanhar a destruição publicada da imagem, a dor provocada na família e nos amigos, a irresponsabilidade em usar a mídia para se promover e a oportunidade de canalizar uma série de sentimentos como ambição, revanchismo, crueldade que, além das perdas financeiras incalculáveis, atingiram o ator Johnny Depp, é preciso ter em vista que existem outros meios de se chegar a uma separação tranquila. No Brasil, mediação, constelação familiar, ajuda psicológica estão à disposição para quem realmente quer recomeçar uma nova vida.
É necessário que o Poder Judiciário também reflita sobre os limites, as consequências e, principalmente, em mecanismos de aprimoramento da proteção da pessoa. Depp demorou 6 anos para lutar e conseguir provar sua inocência.
Existem muito Depps que estão nessa mesma luta, aliás, lutas ainda piores e de consequências devastadoras para os filhos, a família e o trabalho. É preciso tirar o estigma imposto à figura masculina, que muitas vezes é muito mais frágil, sensível e vulnerável do que todos possam imaginar.