Enquanto você lê essa frase, Usain Bolt, o velocista mais rápido do mundo, já correu, muito provavelmente, até a China. Medalhista Olímpico em Londres (2012) e Pequim (2008), na modalidade 100m, o atleta coleciona recordes e tem um desempenho difícil de ser superado. Se preparando para participar dos Jogos Olímpicos do Rio, surgiu a dúvida: será que os bons resultados dependem exclusivamente da agilidade e dos treinos intermináveis do esportista jamaicano?
A resposta para a questão é bem simples e pode ser encontrada nos fatores de tempo e clima. Acredite se quiser, temperatura, umidade relativa do ar, vento e radiação solar podem, e influenciam muito no desempenho de um atleta durante as provas. Isso fica ainda mais óbvio quando as atividades acontecem a céu aberto, como no caso do atletismo. “As modalidades mais expostas são a maratona e a marcha atlética, pois são disputadas em locais abertos (fora dos estádios) e por um tempo mais longo. As demais também sofrem, no entanto, podem ser um pouco mais protegidas do vento e radiação solar por serem dentro dos estádios”, explica Fábio Luiz Teixeira Gonçalves, especialista em biometeorologia pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Michele Fernandes, meteorologista da Climatempo, as condições climáticas podem causar a mudança de local e até cancelamento de várias provas. Além disso, a umidade relativa do ar abaixo dos 30% pode interferir da saúde dos atletas. “Doenças cardíacas e respiratórias são agravadas e podem ocorrer sintomas como cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta”, explica.
No caso específico da modalidade que lançou Bolt ao estrelato, Gonçalves afirma que a condição climática ideal pode dar uma boa ajuda na hora de garantir o primeiro lugar do pódio. “Temperaturas amenas, abaixo dos 25ºC, e umidade entre 40% e 70% favorecem o desempenho. O vento a favor também pode melhorar a performance”, diz. Aliás, a presença de rajadas de vento e suas variações é tão importante que a própria Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) usa esse fator como um dos critérios para homologação de recorde nas provas de 100 e 200 metros. Segundo as regras oficiais é considerada a velocidade máxima de 2,0 m/s.
No Rio 2016, o atletismo deve ser uma das provas que mais vai sofrer influência do tempo. Agosto é mês de Inverno, com a média de temperatura mínima de 19°C e máxima de 26°C. A Cidade Maravilhosa tem um histórico de altas temperaturas, com média anual de 24ºC. As chuvas também costumam ser constantes, com cerca de 1250 mm por ano. Por ser uma região litorânea, a presença dos ventos fortes não é rara. Nesta época do ano, é comum a atuação de sistemas meteorológicos em alto mar que intensificam os ventos na região costeira. Não é à toa que as delegações estrangeiras já participaram dos chamados eventos teste, buscando estarem um pouco mais preparadas para as provas.
Outra modalidade muito influenciada pelo clima é a vela. Como os atletas contam com a agitação do mar e força do vento para competir, qualquer mudança do tempo pode prejudicar as provas. Em 2014, a falta de vento atrapalhou o velejador Bruno Fontes, que terminou o Mundial de Vela em 12° lugar. Já em 2012, nas Olimpíadas de Londres, a ventania foi capaz de cancelar algumas baterias e derrubar uma das competidoras australianas na água, o que atrasou o desempenho de toda a equipe.
E a meteorologia não tem notícias muito animadoras para quem vai competir nos primeiros dias do Rio 2016. ”O vento deve ficar intenso ao longo do dia 6 e também no dia 8, quando começam as provas de vela. O tempo fica fechado e pode acumular os maiores volumes de chuva, entre 10 e 20mm”, finaliza a meteorologista da Climatempo.