O Brasil começará a praticar o que os maiores países do mundo já fazem em termos de segurança e eficiência energética do setor automotivo. Com o programa Rota 2030, aprovado como medida provisória pelo Governo Federal, está sendo estabelecida uma série de regras a serem cumpridas pela indústria automobilística nos próximos 15 anos.
O primeiro ciclo, que vai até 2023, estabelece a meta de 11% de melhoria da eficiência energética, enquanto novos índices serão definidos ao final do período. Para isso, as marcas terão que investir em novas tecnologias para reduzir o peso, modernizar os sistemas de propulsão, melhorar a aerodinâmica de seus automóveis e investir em eletrificação, entre outras mudanças. A expectativa é que tenhamos mais veículos elétricos e híbridos, com motor, câmbio e outras peças que priorizem a economia energética. E, sem dúvida, esse cenário só será possível com o uso de sistemas para desenho e teste dos automóveis na tela do computador antes mesmo de sua produção.
No que se refere à segurança, os carros deverão ser repensados e a linha de produção terá que incluir itens como frenagem automática, controle de estabilidade e tração, sistemas eletrônicos de direção autônoma, cinto de segurança de três pontos para passageiros do banco traseiro e a adoção do padrão Isofix para fixação de assentos infantis.
Embora o Congresso Nacional ainda precise aprovar a iniciativa para torná-la lei, o programa pode ser uma oportunidade para montadoras e autopeças desenvolverem produtos mais inteligentes e inovadores, planejando melhor investimentos em tecnologia.
Para aumentar sua competitividade no mercado, as indústrias precisarão acelerar a inovação de produtos, otimizar o desempenho e minimizar falhas, fortalecendo sua capacidade de gerir sistemas complexos, o que é possível com uma plataforma integrada de mecânica, eletrônica, software e simulação.
Precisamos também considerar que para o desenvolvimento desses novos veículos as fábricas deverão estar modernizadas e preparadas, adotando tecnologias estratégicas como IOT e o Digital Twin. O Rota 2030 prevê desconto adicional para abatimento de impostos para os investimentos considerados estratégicos. É uma oportunidade sem precedentes para o desenvolvimento nacional em temas ligados à Quarta Revolução Industrial, como manufatura avançada, sistemas de análises e preditivos, conectividade, nanotecnologia, inteligência artificial e Big Data, entre outros avanços que oferecem às companhias a oportunidade de otimizar e agilizar seus processos internos e aumentar a produtividade e a eficiência.
Nesse contexto, o Digital Twin na manufatura terá um papel fundamental para que essas fábricas inteligentes alcancem todos esses benefícios e estejam alinhadas não apenas à legislação, mas às melhores práticas da indústria automobilística mundial. Essa tecnologia permite, além da virtualização da fábrica, a comunicação entre todos os envolvidos na produção, acelerando o desenvolvido do processo e do produto. Outro benefício é que, por meio da aplicação das ações no ambiente virtual, a execução real é otimizada, já que eventuais falhas podem ser percebidas antes mesmo do início da produção do automóvel.
Vale o alerta que as maiores empresas automobilísticas do mundo já estão utilizando modernas plataformas para o desenho e gerenciamento de qualidade, comprovando que a prática garante o uso inteligente de materiais e melhora a execução da produção, inclusive controlando a qualidade dos processos.
Com essas tecnologias, as montadoras instaladas no Brasil poderão adequar rapidamente seus processos ao patamar de qualidade global, com menos ocorrências de recalls e mais rentabilidade, engajando e aumentando a satisfação de seus consumidores. Ao adotar tais melhorias, as indústrias poderão atender os requisitos do Rota 2030 e, com isso, o Brasil terá uma oportunidade única para se destacar no cenário global.
Por Alejandro Chocolat, Diretor Geral da Dassault Systèmes América Latina