A pandemia do novo coronavírus causa danos sanitários óbvios (já são mais de 300 mil mortos no Brasil e previsão de 500 mil até o fim do primeiro semestre de 2021), mas também danos econômicos sensíveis. Prova disso é a relação que certas indústrias, nomeadamente a de restaurantes e bares, têm com a crise. Por um lado, os restaurantes e bares precisam estar abertos para poder vender e faturar, mantendo milhões de empregos. Para se ter uma ideia, em 2020 foram perdidas mais de 1,3 milhões de vagas no setor, com 300 mil empresas da área fechadas de norte a sul do país. Por outro lado, os restaurantes e bares estão entre as principais fontes de contaminação do vírus. Afinal, por mais que os locais cumpram as regras de segurança (ofereçam álcool gel e distanciamento), ainda assim são majoritariamente ambientes fechados com pessoas sem máscara conversando e colocando objetos na boca.
Neste momento, vivemos um agravamento sério da pandemia do novo coronavírus. A média móvel nacional de casos de Covid-19 segue em uma constante alta, com recordes consecutivos sendo estabelecidos dia após dia. O mesmo vale para o número recorde de mortes no país. Ao mesmo tempo, 8 em cada 10 bares e restaurantes não têm dinheiro em caixa para pagar os funcionários. Uma estimativa da versão paulista da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) diz que, a cada dia em que a pandemia permanece, o estado perde 300 estabelecimentos, 1.800 empregos e uma contribuição de R$45 milhões ao PIB do país.
Para muitos bares e restaurantes, a solução para tentar se manter de pé é migrar para o setor de delivery. Por lá, o faturamento tem aumentado consideravelmente (no ano passado, os aplicativos de entrega tiveram rendimento 187% maior do que em 2019).
No entanto, um dos empecilhos para trabalhar com os aplicativos de delivery é a alta taxa de serviço cobrada por eles. Em alguns casos, ela pode chegar a 25% do valor do pedido, o que encarece o produto, reduz as vendas e a lucratividade dos bares e restaurantes.
Para ajudar o setor a se manter de pé nesse momento, o Rappi (um dos maiores aplicativos de entrega do país com mais de 200 mil entregadores e presente em 60 das maiores cidades nacionais) anunciou um corte no valor da taxa de entrega dos seus pedidos.
A partir do dia 5 de abril, as comissões cobradas pelo aplicativo dos restaurantes que usam a sua estrutura de vendas e entrega diminuirá consideravelmente para tentar mitigar os efeitos negativos que a pandemia tem causado no setor. A partir da data, a comissão máxima para vendas feitas no marketplace (em que a entrega é feita pelo próprio parceiro) será de 5% até o dia 31 de dezembro de 2021. Já a entrega feita no modo full service (o entregador é parceiro Rappi) terá comissão máxima de 18% até 4 de julho de 2021.
O subsídio do Rappi, no entanto, não é automático. Os restaurantes e bares terão de manifestar o interesse em contar com as novas taxas de comissão pelo próprio aplicativo e, os parceiros que já contam com comissões abaixo desses valores, não sofrerão alteração. Após o fim das datas, as taxas voltarão para os valores normais, definidos em contrato. O mesmo vale para novos restaurantes e bares que comecem a trabalhar com o Rappi nesse período.
Essa medida não é nova, com o Rappi já tendo feito algo do tipo no ano passado, no então pior momento da pandemia. Na ocasião, o Rappi reduziu as taxas de comissão para os restaurantes, além de diminuir também o tempo de repasse dos pagamentos (de 14 dias para apenas uma semana). Além disso, o aplicativo isentou o aluguel de quem usava suas dark kitchens para preparar os pedidos.
Outra ajuda que deverá vir para os restaurantes e bares será um fluxo de caixa de R$100 milhões para agilizar os repasses de pagamentos aos parceiros. A ideia é garantir liquidez e permitir que os valores cheguem mais rapidamente na conta das empresas, para que elas possam pagar seus funcionários e fornecedores.
Com isso, a ideia é estimular que os consumidores possam comprar em suas lojas favoritas em Rappi, ajudando os estabelecimentos a se manterem de pé e operando durante esse momento complicadíssimo para o setor.
Outros aplicativos de entrega propuseram reduções parecidas. O iFood anunciou uma queda na comissão também para 18% até o fim de março de 2021, com a antecipação de R$4 bilhões em recebíveis para os restaurantes (desde o início da pandemia, o iFood já antecipou R$12 bilhões para as empresas). Além disso, o app entrará no serviço de linhas de crédito para bares e restaurantes, com uma linha de R$500 milhões para as empresas parceiras. O objetivo é auxiliar pelo menos 200 mil estabelecimentos a pagar as suas contas com esse crédito.
O Uber Eats, outro aplicativo de entrega, também anunciou reduções. Quem trabalha com entregadores próprios pagará uma taxa de apenas 5% do valor dos pedidos nos próximos 30 dias, enquanto os restaurantes que usarem os entregadores do serviço pagarão 10%. No total, as reduções são de 70% e 40%, respectivamente. Já os novos restaurantes que entrarem no serviço ganharão 1 mês inteiro sem pagar taxas ao serviço. Além disso, o Uber Eats investirá R$70 milhões extras em marketing para aumentar o fluxo de pedidos nos restaurantes cadastrados, aumentando a demanda para os parceiros.