A segurança industrial é uma prioridade em qualquer setor. Pelo menos, deveria ser já que, infelizmente, o tema não possui a mesma relevância dependendo da indústria. Existe uma diferença visível entre os cuidados em ambientes de Óleo e Gás, por exemplo, e em atmosferas de poeira no Agro. Enquanto o primeiro é um setor maduro, com normas rigorosas e bem estabelecidas devido ao seu histórico de alto risco, o segundo, muitas vezes, não recebe a mesma atenção, apesar dos perigos potenciais e similares.
A indústria de Óleo e Gás é reconhecida pelo seu alto nível de risco inerente, refletindo em uma abordagem proativa em relação à segurança. Desde a concepção dos projetos, a engenharia já trabalha com a ideia de lidar em um ambiente explosivo. Por isso, cada detalhe é pensado para minimizar riscos, seguindo uma série de processos, normas específicas, implementação de equipamentos Ex e inspeções periódicas. Soma-se a isso o fato de que há poucas pequenas empresas no setor de exploração de petróleo, o que facilita a fiscalização, já que grandes corporações possuem equipes totalmente dedicadas à inspeção das plataformas e realizam auditorias constantes para garantir a conformidade e a segurança de equipamentos e das pessoas que trabalham nelas.
Em contrapartida, muitas fábricas que operam em atmosferas de poeira, como grãos, açúcar, madeira, metais, entre outros, não tomam os mesmos cuidados, muitas vezes por desconhecimento dos riscos. Parte delas trabalha com equipamentos industriais comuns e não cumpre os processos vigentes de segurança, colocando em perigo a integridade de quem trabalho no lugar. Ao realizar palestras e treinamentos em campo, percebo que muitos colaboradores não estão cientes das substâncias explosivas com as quais lidam no dia a dia, e só começam a buscar soluções para minimizar esses riscos após serem informados.
Essa reatividade é uma característica bem marcante do setor agrícola, que frequentemente corrige problemas apenas após a ocorrência de incidentes. Pequenas empresas familiares, que constituem grande parte desse setor, geralmente crescem sem uma estrutura de segurança robusta – como uso de equipamentos Ex – tornando a adequação posterior mais demorada e onerosa. Acrescenta-se a essa realidade o fato de que a formação educacional desses profissionais raramente inclui disciplinas focadas na segurança de processos voltados para Áreas Classificadas.
O baixo índice de fiscalização é outro fator que contribui para a persistência dos riscos em indústrias de poeira. Empresas menores enfrentam altos custos para se adequar após estarem operacionais, sendo muito mais eficiente e econômico “nascer” já em conformidade com as normas de segurança. Além disso, o custo jurídico e de reconstrução após um incidente é infinitamente maior do que investir na adequação desde o início.
Nos últimos anos, percebi um aumento na demanda por informações sobre segurança em atmosferas explosivas, impulsionado por incidentes que alertaram o setor para esses riscos. Até mesmo as seguradoras, por exemplo, estão cobrando prêmios mais altos de empresas com ambientes de poeira que têm riscos de explosão, e não usam equipamentos Ex, nem realizam inspeções periódicas, enquanto os bombeiros estão mais rigorosos na liberação de alvarás, exigindo documentação completa que antes não era solicitada.
A revisão constante das normas técnicas e a presença maior de fiscais do Ministério do Trabalho em eventos, auditorias e em visitas surpresa nas empresas são sinais de que o cerco está se fechando para a negligência com a segurança e é hora dessas organizações começarem a seguir as recomendações necessárias. Felizmente, existem medidas que podem ser tomadas para mitigar o risco de explosões em ambientes de poeira:
- Estudo de classificação de áreas: É crucial que todas as empresas que lidam com materiais em pó realizem uma avaliação de riscos para identificar áreas onde a poeira explosiva pode estar presente.
- Equipamentos adequados: Equipamentos com tipo de proteção específicos para evitar explosões (Ex) devem ser instalados em todas as áreas onde a poeira explosiva se encontra. Isso inclui motores, sensores, luminárias, interruptores e até mesmo dispositivos e ferramentas portáteis.
- Treinamento de funcionários: Os trabalhadores precisam estar cientes dos riscos, saber como trabalhar com segurança e operar equipamentos em ambientes explosivos.
- Manutenção e inspeções periódicas: É importante realizar manutenções frequentes em todos os equipamentos Ex para garantir que estejam funcionando corretamente. Inspeções periódicas também precisam ser feitas a fim de mostrar que os dispositivos estão operando como o planejado e se há necessidade de atualização.
A conscientização, a educação, a implementação de produtos Ex e a inspeção mais detalhada são essenciais para garantir que todas as indústrias, independentemente do porte, operem com a máxima segurança possível.
*Leandro da Rocha Ducioni é coordenador de engenharia da Schmersal Brasil