Falta de canais estruturados e políticas internas podem estar entre os principais motivos
Analisando proporcionalmente o número de funcionários, as grandes corporações apresentam um volume significativamente menor de denúncias em comparação às pequenas e médias empresas. É o que diz o Anuário de 2024,que avaliou mais de três mil companhias.
O estudo aponta um índice de 141% de registros em organizações com até 50 colaboradores, enquanto entre aquelas na faixa de 51 a 200 empregados o percentual cai para 22,4%. A proporção de relatos segue diminuindo conforme cresce o número de funcionários: empresas entre 201 e 500 pessoas registraram 9,8%, e as companhias com mais de 10.000 apresentaram o menor valor, com 5,6%.
A explicação para esse cenário está na fragilidade estrutural que costuma marcar as empresas de menor porte, como a ausência de programas de governança corporativa e compliance. A falta de mecanismos de integridade e de políticas internas bem definidas contribuem para a maior incidência de relatos, conforme indica a pesquisa.
Nessas organizações, também é mais comum que não aconteçam treinamentos frequentes sobre ética e postura no ambiente de trabalho, ou ainda não existam códigos de conduta, abrindo espaço para a ocorrência de comportamentos inadequados, como assédio, discriminação e fraudes.
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é fundamental que a empresa disponha de um canal acessível para que tanto os colaboradores quanto o público externo, como clientes e fornecedores, possam relatar eventuais irregularidades.
Com a criação da lei Nº 14.457/2022, que discorre sobre as exigências do Programa Emprega + Mulheres, a criação de um canal de denúncias corporativo, também conhecido como hotline, se tornou ainda mais importante.
A legislação exige que empresas com Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (Cipa), realizem procedimentos para o recebimento e acompanhamento de denúncias. Além disso, é preciso apurar os fatos e, quando for o caso, aplicar sanções administrativas aos responsáveis diretos e indiretos pelos atos de violência e assédio sexual.
Maioria das denúncias é feita de forma anônima
A lei 14.357 também exige que o canal de denúncias possa garantir o anonimato do seu colaborador, visando proteger a sua identidade e fazendo com que ele se sinta encorajado, sem medo de possíveis represálias. Segundo a pesquisa, 77,3% das denúncias registradas são anônimas, enquanto apenas 22,7% são feitas por pessoas identificadas.
O Sebrae também recomenda que esse portal seja administrado por, pelo menos, dois colaboradores, com a intenção de que a informação seja transparente e tratada com imparcialidade.
Além de permitir que irregularidades sejam conhecidas, investigadas e corrigidas com agilidade, a existência de um canal de denúncias corporativo também atua como fator preventivo, desencorajando condutas antiéticas dentro do ambiente profissional.
Assédio moral lidera os relatos
Entre os principais motivos de denúncia nas empresas avaliadas, o assédio moral aparece como o mais recorrente, com 43,3% dos registros, independentemente do porte ou setor de atuação da organização. Em seguida, aparecem casos de violação de controles (10,1%), favorecimento de fornecedores (6,2%), roubos, furtos e desvios (5,6%) e assédio sexual (3,9%). Outros tipos de queixas somam 30,9%.
O levantamento também reforça que conhecer a natureza das denúncias permite à organização tomar medidas preventivas e corretivas mais abrangentes. A partir dessa análise, é possível reforçar treinamentos internos, melhorar os canais de comunicação e implementar ferramentas de controle e acompanhamento mais precisas.
Segundo o Sebrae, estabelecer uma cultura organizacional pautada no respeito e na integridade exige ações contínuas. Assim como criar canais de denúncia, é fundamental promover capacitações regulares sobre temas como ética, preconceito e combate ao assédio.
Essa orientação é apontada como ainda mais relevante quando a empresa identifica, por meio de pesquisas de clima ou dos próprios relatos recebidos, uma recorrência de comportamentos inadequados.