Não é um “déjà vu” de 2021, mas também não é flexibilização total ainda. Especialista orienta que cuidados devem ser mantidos para proteger a família e a si mesmo porque as variantes continuam surgindo, a vacinação não é total e a pandemia ainda não acabou
O marco deste Natal e da virada de ano para 2022 será, certamente, a possibilidade de poder encontrar presencialmente familiares e amigos, algo que só é possível devido à vacina contra a COVID-19. Porém, mesmo com o avanço da imunização em Curitiba e no Paraná, a prevenção, o cuidado e a cautela não devem ser deixados de lado. O médico cooperado Moacir Pires Ramos, especialista em infectologia e epidemiologista integrante do Centro de Pesquisa e Inovação da Unimed Curitiba, defende que a manutenção das medidas sanitárias neste período de festas é essencial para a contenção do vírus. “Nós precisamos continuar com o uso de máscara, principalmente em ambientes fechados, bem como manter a higienização das mãos com álcool gel, sempre que possível, e evitar aglomerações. E se o ambiente externo tiver com muitas pessoas presentes, por exemplo, mesmo ao ar livre também coloque a máscara”.
Em Curitiba, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, a cobertura vacinal já ultrapassou 70% da população, ou seja, esse é o total de pessoas imunizadas com as duas doses ou com a dose única. Não chega ao ideal de 80% defendido pela maioria dos especialistas e pelas sociedades de infectologistas, mas sem dúvida vivemos um quadro favorável. Justamente para mantermos a situação dessa maneira outro especialista faz coro, o médico infectologista Jaime Rocha que é diretor de Prevenção e Promoção à Saúde da Unimed Curitiba e responsável pela Unimed Laboratório. “É bom lembrar que a prevenção contra a COVID-19 também vale para a gripe e todos os outros vírus de transmissão respiratória. Ou seja, as medidas preventivas não são exclusivas da pandemia e ajudam a baixar a circulação de outros vírus também. Ter boa cobertura vacinal para um, mas não ter para outro faz com que volte o comportamento de antes, daqueles vírus não cobertos que voltam a aparecer”, explica.
Isso significa que aquela conversa de um ano atrás, quando falávamos de uma suposta “etiqueta” ao encontrar poucos familiares, continua válida para 2021. Para Rocha, o ideal ainda é manter reuniões em grupos pequenos. “Vemos mais festas e circulações de pessoas esse ano, possíveis aglomerações – apesar das recomendações – com mais encontros de amigos e familiares. Então, em relação às festas, a sugestão é estar com as vacinas em dia. Estar imunizado com todas as opções disponíveis – de acordo com o calendário vacinal adequado para cada idade”, aconselha. Ele reforça a importância do entendimento de que as vacinas são uma ferramenta preciosa, elas ajudaram a extinguir doenças do planeta, e é preciso parar com informações falsas absurdas e teorias da conspiração.
“Outra coisa é ter em mente que não é porque tem uma festa que você deve ir a todo custo. Se estiver com sintomas respiratórios não vá! Melhor investigar, testar e se isolar para depois tomar uma decisão. Ir pode significar colocar as outras pessoas em risco”, orienta o infectologista. E estando junto com outras pessoas, segundo ele, tente manter a melhor postura possível, aquelas mesmas do ano passado. “Todos queremos nos encontrar, nos abraçar, temos que verificar se é possível fazer isso com a segurança adequada. Estamos flexibilizando sim, queremos retomar o convívio sim, mas há grandes dúvidas científicas que não vão ser respondidas tão rapidamente para podermos dizer que é 100% seguro. Estamos vendo que ainda não é, infelizmente, e nossos exemplos são a pandemia que ainda persiste e esse surto de influenza agora”, ressalta. O discurso parece até repetido, mas ambos os especialistas trazem essa etiqueta à tona para prevenirmos e consolidarmos a caminhada a fim de tentar chegar no fim disso tudo. A maior arma contra a pandemia, já se sabe faz tempo, é a vacina. Por isso, não dá para deixar de tomar as duas doses do imunizante.
Entrada e saída do Brasil – Esse é outro ponto que os dois infectologistas destacam. A queda dos números de incidência somada a este momento de flexibilização tem feito com que os cuidados sejam deixados de lado no dia a dia e na entrada ou saída de pessoas do país. E isso facilita, segundo Moacir Pires Ramos, a circulação do coronavírus e a entrada de novas variantes. “Se o país não impor medidas de controle sanitário como a exigência de carteira de vacina, ou teste negativo para entrar no país, por exemplo, vamos ter a reintrodução de casos e também uma circulação maior de mutações”, afirma.
Jaime Rocha concorda que o “passaporte sanitário é uma necessidade, temos que ter uma regulamentação internacional. Porém, independentemente de regulamentação, essa é a única forma de assegurar um fluxo de pessoas que trazem menos risco para população. Ter pessoas circulando sem proteção aumenta muito a chance de disseminação de vários vírus respiratórios. A variante Ômicron não vai ser a última, já tivemos a Delta, a P1, porque é da natureza desses vírus fazerem variações com frequência. Provavelmente outras podem vir a surgir, só que surgirão menos variações se tivermos um número maior de pessoas vacinadas, pois mais pessoas imunes fazem ser menor a circulação viral. Isso é da comunidade global e não só da nossa casa, bairro ou prédio. Por isso que, nesse momento, o Brasil está de parabéns por ter uma cobertura vacinal maior do que muitos países considerados de primeiro mundo”, conclui ele, defendendo ainda que, paralelamente, é preciso trabalhar para que a cobertura global traga proteção a todos.