Armando Kolbe Junior (*)
O tema do momento é o metaverso e não ficará restrito às grandes companhias de tecnologia. Recentemente, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou a mudança de nome da rede social para Meta e o novo objetivo do grupo: criar o metaverso cujo termo é a junção do prefixo meta, que em grego significa além, com universo. Este conceito já está incorporado em vários mercados, entre eles o de games, e chama a atenção de muitas indústrias – do luxo às startups.
Junto desse conceito novas siglas como VR, AR, RM e XR surgem e precisamos entendê-las. A Realidade Virtual (VR) é um ambiente totalmente artificial e significa imersão total em um ambiente virtual. A Realidade Aumentada (AR) é um complemento, coloca objetos virtuais sobrepostos em um ambiente do mundo real, ou seja, é a realidade aprimorada com objetos digitais. Já a Realidade Mista (RM) é um ambiente virtual combinado com o mundo real e a Extended Reality (XR) / Metaverse significa uma mistura de todos os itens anteriores.
Muitos afirmam ser este o futuro da internet: um universo virtual onde as pessoas vão poder interagir como se estivessem fisicamente presentes, representadas por avatares. Em outras palavras, são influenciadores digitais que assumem formas humanas. Lembrando que, na China, o conceito de avatar foi substituído pelo de “meta-humano”, mas isso já é outra história. Voltando ao metaverso, e aos NFTs (categoria de criptoativos), ambos são tendências – desde que se consolidem –, de acordo com relatório do Morgan Stanley. E poderão gerar até US$ 50 bilhões (R$ 277 bilhões) de receita no mercado de luxo até o ano de 2030. Ressaltando que NFTs funcionam como certificados de propriedade ligados a um produto digital como, por exemplo, uma ilustração ou uma fotografia. Se compararmos ao mundo físico, corresponde à escritura de uma casa.
Neste ano de 2021 algumas startups relacionadas a essa área já conseguiram quase US$ 10,4 bilhões (R$ 55,8 bilhões) de fundos de capital de risco, segundo o site americano Crunchbase que é especializado em investimentos. Existem, inclusive, novos fundos no mercado especializados unicamente em empresas desse tipo, que combinam a realidade virtual e aumentada, proporcionando aos usuários experiências 3D e imersivas nos ambientes digitais.
Quando as redes sociais surgiram, as pessoas criavam seus próprios perfis online. Agora, com o metaverso, elas vão poder levar o corpo físico para dentro das telas. Então podemos vislumbrar, em um futuro não muito distante, aqueles hologramas dos filmes de ficção científica se tornando realidade cada vez mais. Não muito diferente do que ocorreu nos anos 2000, com o Second Life, e mais recentemente com o Pokémon GO, em 2016, que estava varrendo o mundo. Muitos sentiram que estávamos à beira de uma revolução de Realidade Aumentada.
Atualmente, não é só o Facebook que se movimenta. A iniciativa privada e os governos estão investindo cada vez mais na criação do metaverso, onde pessoas poderão interagir fazendo uso de avatares. Esse mundo que se abre vai exigir inúmeras novas tecnologias, protocolos, empresas preparadas, inovações e descobertas para funcionar.
Com o advento de uma nova internet este “novo universo” (metaverso = prefixo grego meta, que significa além, + universo) certamente trará novas oportunidades. Ao contrário do que se diz, de que o avanço da tecnologia tira chances, na verdade teremos transformações na atuação humana. Para que se torne realidade essa jovem geração da rede, algumas novas profissões para o trabalho com o metaverso também terão que ser criadas para seguir essa tendência. De acordo com o website .cult, até 2030 teremos pessoas atuando nas seguintes funções:
Cientista de pesquisa do metaverso – Nas principais universidades e grandes empresas de tecnologia, os cientistas de pesquisa que envolvem a Realidade Aumentada (AR) e a Realidade Virtual (VR) já são uma referência. Porém, à medida que o metaverso for se tornando uma realidade amplamente aceita, vamos precisar de muito mais capacidade intelectual.
Estrategista de metaverso – A questão é que as ideias são baratas, mas a execução é cara. Quando tivermos o metaverso funcionando, a capacidade de planejar e implementar todas as questões de funcionalidades em um mundo totalmente virtual será absolutamente essencial para a maioria das organizações. Ou seja, selecionar as coisas certas para fazer neste mundo digital em expansão.
Desenvolvedor de ecossistemas – Não vai surgir do nada o metaverso, nem apenas pela vontade de Zuckerberg. Será necessário todo um ecossistema a ser construído em torno dele. Sensores, CPUs, GPUs, processos KYC, produção de energia sustentável, computação de ponta, leis, regulamentações e etc. Se o mundo é complexo, digitalizá-lo será ainda mais.
Gerente de segurança do metaverso – Alguns ainda pensam que a internet é um lugar seguro para todos. Mas definitivamente não é e, se alguém pensa que o metaverso será melhor nesse quesito, está redondamente enganando. Logicamente, teremos inúmeras oportunidades para tornar o metaverso um lugar seguro e inclusivo, só que isso não ocorrerá sem muito trabalho.
Construtor de hardware do metaverso – O metaverso não será construído unicamente em código. Sua construção será em sensores, câmeras e fones de ouvido, entre outros. Os sensores permitirão que você sinta o toque de alguém, por exemplo, ou câmeras que perceberão se você está em um dia bom ou péssimo, ou ainda fones de ouvido que sentem o sol ao seu redor e projetam um dia de verão, no mundo digital, para maior realismo.
Contador de histórias (storyteller) – À medida que a experiência e o conceito de gamificação continuarem a ganhar força, é lógico que teremos a experiência da Realidade Estendida (Extended Reality (XR) / Metaverse) contemplada por grandes histórias e com as quais poderemos aprender grandes lições. Vamos todos acabar querendo participar mais seja rindo, chorando, vivenciando experiências excêntricas no mundo digital.
Construtor de mundos – Estes profissionais precisarão ter visão de futuro e serem imaginativos para criarem um mundo que ainda não existe na forma de uma tecnologia ou solução de produto. E deverão levar em conta as regras e a ética deste metaverso, dois pontos que, igualmente, ainda estão em construção.
Especialista em bloqueio de anúncios – Sabemos que o Meta (ex-Facebook) ganha muito dinheiro com a venda de anúncios e o metaverso, provavelmente, será executado de uma maneira muito semelhante, sendo que neste novo universo você será seguido, literalmente, com esses anúncios. Os bloqueadores de anúncios serão os especialistas que atuarão nesse momento.
Especialista em segurança cibernética (cyber-security) – O metaverso será o novo alvo perfeito para ataques cibernéticos e fraudes, pois junto dele virão novas possibilidades como: avatares hackeados, roubo de NFTs (uma categoria de criptoativos que funcionam como certificados de propriedade ligados a um produto digital), vazamentos de dados biométricos / fisiológicos, enfim, a probabilidade de coisas darem errado é enorme.
Esses são alguns exemplos e, rapidamente analisando tudo o que nos espera, podemos dizer que teremos tudo no metaverso. Segurança, conforto, penteados personalizáveis, controles dos pais, quebra-cabeças, complementos, widgets, notificações, otimizações, coerência ideológica, portais de prazer e punição, protocolos, inúmeros tipos de sensores, novas tecnologias e mais uma longa lista.
Entretanto, tudo isso não vai acontecer de uma vez, inovações e descobertas vão acontecer enquanto o metaverso já estiver funcionando e as adaptações serão constantes. Esse novo mundo vai exigir empresas preparadas e é aí que entra um ecossistema de startups, com pessoas trabalhando em inúmeros empregos, para chegar perto de suas grandes ambições. Quem se preparar antes terá mais êxito, a hora é agora!
(*) Armando Kolbe Junior é coordenador do curso de Gestão de Startups e Empreendedorismo Digital do Centro Universitário Internacional UNINTER