O saque no varejo é algo que veio para ficar. A pandemia do novo coronavírus mostrou o quanto o dinheiro em espécie ainda é importante no Brasil. De fevereiro a junho deste ano, o Papel-Moeda em Poder do Público (PMPP) deu um salto de 29%, passando de R$ 210,2 bilhões para R$ 270,9 bilhões, o maior valor da série histórica do Banco Central, iniciada em dezembro de 2001. É claro que uma boa parte desse montante veio por meio de programas de auxílios do Governo. Ainda assim, não se pode desconsiderar o elevado índice de desbancarizados no País ou o difícil acesso que muitos brasileiros ainda enfrentam para sacar dinheiro em bancos ou caixas eletrônicos.
É importante destacar que o Banco Central vem se esforçando muito ultimamente a fim de facilitar que o saque seja cada vez mais viável para todos os elos da cadeia. Aliás, o BC está se destacando muito nos últimos anos pela forma como tem lidado e impulsionado, consequentemente, a inovação no setor financeiro. PIX e Open Banking são dois exemplos que demonstram esse trabalho. Mas é claro que podemos ir além.
No Reino Unido, por exemplo, uma proposta prevê que as pessoas possam sacar dinheiro de suas contas nos caixas das lojas sem que elas sejam obrigadas a comprar produto algum. Provavelmente, veremos mais iniciativas assim surgindo ao redor do mundo de agora em diante. Mesmo com todo o processo de digitalização, o dinheiro em espécie não deixará de existir e tende a ser a principal moeda de troca das classes mais baixas por muito tempo.
À medida que a digitalização avança e a necessidade de ir ao banco diminui, mais agências serão fechadas, deixando a população que vive mais distante dos grandes centros com mais dificuldades para sacar dinheiro. O problema é que cerca de 65% dos saques realizados em caixas eletrônicos entre março e abril foram realizados pelas classes C e D. Entre 29% e 30% dos brasileiros recebem seus pagamentos em dinheiro vivo. Essa parcela da população não pode ser desassistida.
Com a popularização do saque no varejo, o mercado como um todo ganha, gerando vantagens e redução de custos tanto para clientes diretos como seus usuários finais, além de facilitar o acesso ao dinheiro vivo. É possível que quem utiliza o serviço realize saques com tarifas inferiores às demais taxas praticadas nos canais tradicionais, enquanto varejistas e lojistas podem ampliar suas vendas atraindo um número maior de pessoas para seus estabelecimentos.
Os lojistas e varejistas se beneficiarão ainda com a redução de custos e aumento da segurança em suas lojas já que, como parte do dinheiro dos caixas será sacado pelos consumidores, haverá menos demanda de contratação de carros-fortes para transporte de valor. O manuseio com o dinheiro gera custo, e o torna alvo de roubo. Consequentemente, quanto menos dinheiro tiver em caixa, menor o risco de assaltos.
Aos poucos, o saque de dinheiro no varejo vai ganhando tração e vemos um ritmo de interesse e adoção cada vez maior à medida que grandes redes começam a adotar e os benefícios vão sendo expostos. Não há dúvidas de que é um modelo onde todos ganham, é apenas uma questão de tempo para que essa iniciativa se popularize e chegue para ficar.
*Alexandre Brito é CEO da Hub Fintech