Dinamara Pereira Machado, Cicero Bezerra e Marcos Ruiz da Silva (*)
Desde o aparecimento da divulgação da temática do Metaverso por Mark Zuckerberg, em diferentes canais de mídias, parece-nos que o assunto vem ganhando espaço nas conversas informais ou, ainda, nas publicações acadêmicas ou patrocinadas. De todo modo, a temática do Metaverso, semelhante à viagem espacial, é uma idiossincrasia. Determinados grupos de pessoas, que são consideradas inovadoras, mudam o mundo a partir de projetos que atendem aos seus interesses particulares e criam, por determinado momento, a expectativa de que vivemos em um mundo perfeito e justo.
Criar um universo paralelo com o Metaverso para termos novos espaços de convivência, novos negócios com as moedas digitais (…) ou, ainda, conquistar novos planetas, turistar em viagem espacial para determinada órbita (…), é antes de mais nada uma contradição. O planeta Terra, amplamente explorado, tem vivido, em nossa Era, várias transformações no meio ambiente. Exploramos os recursos naturais, cultivamos a terra, transgredimos da agricultura familiar para o agronegócio e, ainda, temos no Brasil, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, 116 milhões de pessoas dentro do escopo de insegurança alimentar, sendo que 19 milhões destas passam fome.
Conquistar ou criar espaços de convivência pode realmente ser interessante, mas iremos para estes novos locais (físicos ou digitais) com as fragilidades sociais e éticas que convivemos nos espaços convencionais que já ocupamos. A inovação tem representado, até o momento, a permanência da vida, mas chamamos a atenção para que os processos de inovação e os produtos decorrentes dela precisam ser carregados de humanos que os utilizem para além de seus interesses pessoais.
Implantar o Metaverso requer que a internet de qualidade, considerada 5.0, esteja disponível para todos, e todos significa TODOS, não apenas uma determinada parcela da população que tem possibilidade de arcar com os custos e provedores.
Inovar significa ter coragem para rever o processo histórico e implantar produtos que possam melhorar nossa vida. Não se trata de ser contra o Metaverso ou viagem espacial, até pelo fato de não termos força política e econômica; trata-se de buscar viver com maior igualdade e equidade num mundo tão desigual.
Nessa linha, oferecer à sociedade o Metaverso, como mais uma opção que possa atender às necessidades e desejos das pessoas, parece reproduzir a mesma lógica da distribuição de qualquer recurso, como alimento, água, condições de saneamento, segurança pública e educação, entre outros meios de subsistência ou de desenvolvimento. Se lembrarmos, em particular, das discussões sobre o acesso à educação em época de pandemia, vamos nos recordar de inúmeras barreiras – sociais, econômicas e culturais – que inibiram, dificultaram ou mesmo impediram o acesso à continuidade dos estudos.
É difícil imaginar que com o Metaverso será diferente. No entanto, caso os cientistas da comunicação, empreendedores e todos os demais envolvidos na discussão desse espaço de convivência digital, subordinem suas discussões às questões que transcendam aspectos técnicos e levantem os problemas mais gerais, conseguirão enxergar soluções de problemas públicos que afetam toda uma coletividade.
(*) Dinamara Pereira Machado é doutora em Letras. Diretora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter
(*) Cicero Bezerra é doutor em Teologia. Coordenador da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter
(*) Marcos Ruiz da Silva é doutor em Educação Física. Coordenador da área de Linguagens Cultural e Corporal do Centro Universitário Internacional Uninter