Paula Casarini*
Quando falamos em inclusão de pessoas LGBTQIAP+, é fato que já avançamos vários passos (basta imaginar o nível de hostilidade enfrentada por elas na década de 80, por exemplo). Naquela época, era comum presenciarmos conteúdos extremamente preconceituosos e até violentos na TV aberta, algo completamente impensável nos dias de hoje.
Mas ainda existe muita estrada pela frente quando o assunto é diversidade, em todos os aspectos. No mercado de trabalho não é diferente.
As estatísticas de empregabilidade desse grupo demonstram a importância do debate sobre o tema e escancara a necessidade de colocar em prática ações concretas para ajudar na transformação dessa realidade.
Estima-se que existam aproximadamente 18 milhões de pessoas que fazem parte dessa comunidade no Brasil. No entanto, de acordo com o levantamento Demitindo Preconceitos, realizado pela Santo Caos em 14 estados brasileiros, 38% das empresas ainda mostram restrições para a contratação de homossexuais.
No mesmo estudo, 40% dos entrevistados afirmaram já terem sofrido discriminação por sua orientação sexual no ambiente corporativo. O número vai ao encontro de outro percentual que revela muito sobre a invisibilidade LGBT+ no mercado de trabalho: em uma pesquisa do Center Talent for Innovation, 61% dos profissionais disseram esconder de colegas e gestores a sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.
Entre pessoas trans, o quadro é ainda mais alarmante, visto que nem costumam ter acesso a oportunidades de trabalho formal. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% dessa população tem a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência.
Diante de números estarrecedores as empresas têm papel preponderante para a criação de políticas e novas práticas para ampliar as chances das pessoas LGBTQIAP+ no mercado de trabalho. Ações voltadas para este objetivo não devem ser apenas uma questão de marketing ou de cumprimento de check list para parecer algo que não é. É preciso promover iniciativas que visem acolher genuinamente estas pessoas, criar mais oportunidades, ouvir, melhorar o ambiente e, principalmente, criar a cultura da diversidade.
É inegável a influência que a liderança da empresa exerce em toda a organização e o quanto é árdua a luta contra o que já está estruturalmente enraizado. Por isso, é fundamental que as empresas trabalhem em prol de transformações, conduzindo ações concretas para atração, retenção e engajamento desses profissionais. É fundamental focar no desenvolvimento do time sobre os vieses inconscientes, identidade de gênero e orientação sexual e comunicação inclusiva e não-violenta.
A valorização das diferenças é essencial dentro de uma organização, pois só assim será possível construir um ambiente seguro, respeitoso, inclusivo e que possibilite aos profissionais serem quem eles desejam não apenas fora, mas dentro do ambiente corporativo. O desejo é que no futuro este tema seja tratado com a naturalidade e com o respeito que ele merece.
Na Colliers, temos um código de ética dividido em capítulos que são definidos em torno de um tema único que é o respeito com o qual devemos tratar a todos e sermos tratados. A empatia aqui é palavra de ordem e buscamos fazer isso genuinamente. Tudo começa com nossas políticas internas, voltadas para uma nova mentalidade.
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Paula Casarini é CEO da Colliers, empresa líder em serviços profissionais diversificados e gestão de investimentos