Sem ágio e com proposta única, pelo valor mínimo de outorga, míseros R$ 32,7 milhões. Assim foi o leilão da FIOL, Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que cobre 537 quilômetros, de Caetité a Ilhéus na Bahia. Mesmo com esse desempenho pífio, o resultado foi comemorado pelo governo federal, em mais um capítulo da farsa dos leilões.
Em vez de exaltar uma nova concessão cedida a preço de banana, deveríamos lamentar o rumo que a malha ferroviária e outros modais de transporte estão tomando sob a atual gestão em Brasília. A FIOL é apenas mais um exemplo da série desastrosa de erros que estão cometendo com os leilões de infraestrutura.
Descontando a controvérsia ambiental (que deveria sim, ser examinada com mais cuidado antes de bater o martelo com a concessão), a ideia da ferrovia – ligar o oeste da Bahia ao porto de Ilhéus – é boa. As administrações passadas até chegaram a se empenhar na construção do trecho, concluindo 80% das obras.
Mas, da forma como foi definida no recente leilão, a ferrovia só servirá para transportar commodities, quando deveria estar a serviço da integração de toda a rica região do interior baiano com outras áreas do estado e com o restante do país. Na verdade, o leilão só interessava a uma empresa, muito mais pelo acesso estratégico ao porto de Ilhéus do que pelo transporte de minério de ferro sobre os trilhos.
Levar o certame adiante nessas condições é mais um exemplo do que não deveríamos fazer com nossas ferrovias. Em países desenvolvidos, elas são um símbolo da integração nacional. Mas, aqui, preferimos a postura de país colonizado.
Transporte sobre trilhos não pode se resumir às cargas de commodities. É precisa ter um projeto nacional que conceba não apenas a exploração de todo o potencial ferroviário para o transporte de passageiros e outras matérias-primas, mas também a ligação das ferrovias com os demais modais. Brasília nunca se dedicou a fazer essa lição de casa, por inércia, comodismo, incompetência ou, pior, por estarmos vivendo um jogo de cartas marcadas.
Somos o país da fantasia, em que promessas de investimentos estéreis são comemoradas e vendidas para a mídia como grandes feitos, encobrindo o vazio em que estamos mergulhados pela falta de políticas públicas nacionais de desenvolvimento. Vamos pagar – já estamos pagando, na verdade, com os atuais leilões – um preço muito caro por essa omissão.
Vender ativos importantes como a FIOL a preço de banana, sem nenhuma contrapartida, a não ser o benefício privado, é um desserviço. Um crime perpetrado contra a nação.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro e presidente da Ferrofrente (Frente Nacional pela volta das Ferrovias).