O que tem acontecido com o ser humano?
Cada vez mais violento, egoísta, irracional e principalmente neurótico por ser perfeito.
Vislumbramos isto cabalmente na sociedade, mas no universo empresarial tal realidade é gritante, desde a tentativa de ingresso:
Pergunta ao candidato de emprego: Qual seriam os aspectos a serem melhorados na sua pessoa?
Resposta, na maior falta de análise de si mesmo ou cara de pau: Ser menos perfeccionista… Entre outras pérolas, óbvio.
Perfeccionista? Somos obrigados a saber tudo agora? Quem disse isto?
Longa vida aos gestores que compreendem os erros – que são normais e podem ser decorrentes de inúmeras questões – e mais do que isto, não querem encontrar culpados, mas querem encontrar os porquês dos erros para que possam ajustar fluxos e corrigir no futuro.
Assunto aliás que não tem nada de novo, pois Fernando Pessoa já nos brindava com esta reflexão no poema intitulado Poema em linha reta:
Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[538]
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fonte: http://www.releituras.com/fpessoa_linhareta.asp
E daí surgem pessoas perfeitas nos facebooks da vida, onde tudo é festa, magia, onde a vida é um ode a felicidade, enquanto isto, sofrem por dentro (as vezes nem isto acontece, psicopatas mesmo) e esbanjam no universo como se fossem príncipes e princesas de um castelo que só existe em suas mentes e redes sociais.
Precisamos de mais realidade na vida.
Precisamos de mais amor entre nós, seres humanos.
Precisamos de mais vida em nossa vida.
Ser que você é, com seus erros e acertos, é o melhor que pode existir para alguém que vai te contratar e mais, para você mesmo avaliar se a empresa que está te contratando vale a pena.
Ninguém é obrigado a manter-se associado, está nos incisos do artigo 5º da Constituição Federal, ou seja, no rol de requisitos fundamentais.
Seja você mesmo que terá espaço no mercado, pois quem é dono de si tem mais tempo para crescer, aprimorar-se como pessoa e como profissional e não perde tempo com pequinesas ou conversas de corredor de pessoas sem brilho próprio.
#VivaaVidaReal