Debate ocorreu durante o lançamento da Rede Soja Sustentável, realizado no último dia 15 de abril, em São Paulo
Nos últimos anos, temos testemunhado um fenômeno sem precedentes no mundo da informação e comunicação: a redução progressiva do protagonismo da mídia convencional na formação da opinião pública das sociedades diante do avanço avassalador da mídia instantânea. Neste contexto, surge a necessidade urgente de repensar o papel da mídia tradicional enquanto veículo de expressão do debate em torno das variáveis complexas indispensáveis ao planejamento da visão de futuro na sociedade contemporânea.
O ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, defendeu a integração entre a capacidade de oferta da agricultura e os anseios e expectativas dos consumidores urbanos. “Com essa ideia, quando eu virei ministro da Agricultura, havia também uma preocupação grande com a soja, pois existia uma explosão de produção. Assim que eu cheguei ao Governo, propus a questão do biodiesel como um instrumento também adicional para o produtor de soja. A ideia era agregar valor à soja e com isso ter uma contribuição também no setor urbano. Um programa que integra o rural e o urbano, e que é sustentável. Uma ação que é muito positiva para o Brasil em termos de produção, renda rural, benefício urbano e sustentabilidade.”
Para o mediador do Painel “Comunicação e Sociedade”, Fernando Barros, diretor do Instituto Fórum do Futuro, recriar um canal de diálogo entre os mundos rural e urbano é uma peça-chave na promoção e compreensão das soluções tecnológicas e científicas sustentáveis voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável. Os participantes do Painel discutiram a criação de canais diretos entre o Agro Tecnológico, a Ciência e a cidadania como elemento indispensável para a viabilização de políticas públicas e privadas que favoreçam a aterrissagem de benefícios e das boas práticas sustentáveis na realidade das diversas cadeias produtivas.
O Diretor de Comunicação da FEBRABAN, João Borges, citou o exemplo de sucesso do café, através da iniciativa de produtores que conseguiram conectar o processo produtivo de suas marcas, de forma direta e transparente, com os consumidores. “Eles criaram canais onde usam informação verídica, pertinente, de forma transparente, nos quais os consumidores constatam a relação entre as boas práticas e a qualidade do produto final”, comentou.
Na visão de Paula Packer, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente, é preciso uma estratégia de comunicação integrada entre os diversos atores do setor agrícola e os órgãos governamentais, de modo a informar e mostrar de forma transparente e eficaz os indicadores de sustentabilidade do agronegócio brasileiro perante o mercado internacional.
No mesmo sentido, Sergio Rocha, CEO da Agrotools, mostrou como o uso de “big data” é indispensável para qualificar, rastrear e certificar empresas e produtores interessados em revestir a sua atividade com selos confiáveis de garantia de sustentabilidade do processo – “uma exigência cada vez maior dos mercados”, disse.
E para superar antigos e novos desafios, será preciso promover debates mais amplos e inclusivos, com questões que integrem diversas perspectivas. Segundo o ex-presidente do CNPq, Evaldo Vilella, será fundamental a construção de uma rede de comunicação horizontal e colaborativa entre os diversos atores do setor agrícola.
Por outro lado, a ciência e tecnologia também enfrentam seus próprios desafios para se destacarem no debate global. Existem barreiras de compreensão solidamente instaladas, seja porque o Brasil continua produzindo notícias ruins nas áreas social e ambiental, seja porque interesses comerciais muitas vezes impedem que as soluções sustentáveis que já conseguimos produzir não conseguem atuar no ambiente político e cultural no qual essa discussão é realizada, seja nos grandes centros do Brasil ou da Europa.
O consultor Mário Salimon apresentou sua proposta de “Gestão da Estratégia”, que consiste em criar um espaço de entendimento voltado para a minimização de conflitos, uniformização da visão e construção de projetos de médio e longo prazo. É neste sentido que o Banco Mundial dá início à proposta já no mês de maio, trazendo para a mesma mesa agências de fomento, a Embrapa, as Universidades, as empresas os produtores e o terceiro setor.
“A Amazônia poderá ser um celeiro global de produtos naturais e sustentáveis e oferecer emprego e renda dignos para seus 28 milhões de habitantes, se conseguirmos aproximar a Ciência e a Tecnologia que já temos da realidade dos usuários finais”, comentou Fernando Barros. “Como as cadeias produtivas na região continuam desorganizadas, apesar dos recursos naturais, humanos e de conhecimentos abundantes e da comprovada capacidade empresarial brasileira, a Amazônia é recordista nacional em fome e miséria, enquanto seu patrimônio continua sendo destruído”, concluiu.