Escrevemos livros, fizemos palestras, desenvolvemos manuais, queremos a todo pano conhecer e aplicar a ética e os regramentos de compliance nas empresas e, por consequência, em nossas vidas.
Mas, quando paramos para pensar no nosso preconceito sobre o dinheiro?
Quando paramos para pensar que o patrão é desonesto como premissa e precisa provar a inocência de ter sucesso?
Quando paramos para ver que isto está arraigado socialmente e principalmente na cabeça do brasileiro, que como consequência direta disto, acaba empreendendo de forma errada, buscando meios espúrios e outras vantagens que geraram o bordão “Jeitinho brasileiro”.
Somos todos então desonestos? Nossa ética é o jeitinho?
Não acredito nisto e como diz uma propaganda que circula na TV e mídias sociais: Os bons são a maioria.
Entretanto, se os bons são a maioria, porque insistimos em dar ouvidos a minoria que descumpre regras, que mancha a marca da maioria?
Divido um interessante texto sobre o tema:
Quem tem dinheiro é desonesto. Será?
Por Sandro Magaldi
Dia desses pesquei um comentário a respeito de um empreendedor de um dos nossos Estudos de Caso que me deixou com a pulga atrás da orelha e disparou uma baita reflexão pessoal que quero compartilhar com você.
Ao conhecer uma das histórias mais instigantes que estudamos em nosso projeto (daquelas que o cara começa do nada e constrói um projeto sólido ao longo dos anos), uma pessoa comentou: “Eu não acredito que aqui no Brasil é possível enriquecer sem transgredir nenhuma lei”. Na verdade, o subtítulo dessa visão é o seguinte: não é possível ser rico no país honestamente.
Hum… Observaçãozinha capciosa, mas vamos lá.
Essa sentença está mais presente no imaginário popular do que pensamos. De tanto ser repetida, caiu na vala do senso comum (como detesto esse cara…).
Apesar de sua simplicidade aparente, ela é de uma profundidade incrível, pois traz consigo crenças forjadas ao longo de séculos e gera consequências importantes no modo de pensar de indivíduos e da sociedade.
Vamos fazer uma análise sobre a consistência da afirmação, ou seja, sua veracidade. Essa sentença se sustenta?
Com a convicção de ter estudado em profundidade a trajetória de mais de 20 empreendedores brasileiros, aliado à minha experiência pessoal, posso afirmar que essa afirmação consiste em uma generalização perigosa que não encontra consonância com a realidade.
É evidente que essa percepção não fortaleceu-se ao acaso. São séculos de uma interpretação muito particular do capitalismo no Brasil onde mistura-se o público com o privado de uma forma espúria, o que gera uma interpretação da ética muito flexível (só para ser bonzinho e elegante com as palavras, pois o que acontece, nesses casos, merece outros adjetivos bem menos nobres).
Esse comportamento se reflete em práticas como as que têm sido apresentadas diariamente na Operação Lava Jato e congêneres que expõem uma verdadeira pilhagem dos recursos públicos por empresas privadas e indivíduos disfarçados de executivos ou empreendedores.
Por outro lado, esses espertalhões não representam a maioria dos cidadãos de bem que progrediram e progridem graças aos seus próprios esforços pessoais, evoluindo em consonância com a lei e todos os preceitos éticos. Reforço minha tese: vivencio e testemunho casos como esse todos os dias da minha vida. Aliás, acredito que a maioria dos leitores desse post se enquadra nessa visão.
Assim, é necessário combatermos essa generalização e delegá-la a quem merece. Esses gatunos devem ser punidos e expurgados do nosso ecossistema.
A consequência dessa generalização (para ser rico é necessário ser desonesto), no entanto, é que me preocupa demais. Essa visão faz parte das chamadas “crenças limitantes”, pois traz consigo um dilema: para que eu prospere financeiramente, trazendo conforto material a mim e a minha família, é necessário que eu transgrida a lei. Pior do que isso. A sentença pressupõe uma escolha pessoal: ou sou honesto ou tenho dinheiro.
Não me conformo com essa visão e nunca me conformarei. Acredito e vivencio a crença de que é possível ser honesto e prosperar materialmente. Inclusive essa é minha opção pessoal. Nunca deixarei de seguir os princípios éticos e prosperarei financeira (como tem sido em toda minha existência).
Temos de banir essa visão maniqueísta, castradora que, no final do dia, é excludente e instrumento de dominação, pois denota o conformismo para quem escolheu pelo caminho da verdade. Groselha pura (para não ser grosseiro utilizando outro termo mais popular).
Liberte-se dos grilhões mentais que lhe impedem de realizar todo seu potencial. Aquele potencial ilimitado que todo ser humano tem e cuja liberdade se inicia dentro da sua mente.
Abaixo a “Era do OU”. Viva a “Era do E”. Quero ser feliz “E” prosperar financeiramente. “E” ser honesto.
Essa é minha opção. E a sua?
Fonte: http://geracaodevalor.com/blog/quem-tem-dinheiro-e-desonesto-sera/
E convido para reflexão:]
O que temos feito de prático no nosso dia a dia além de manuais, regras e ordens aos colaboradores para demonstrar de forma exemplar que a ética e as próprias regras de compliance estão na cultura da empresa?
Ocultar erros, não demitir por pena, deixar o erro acontecer porque não quer se envolver são alguns exemplos do que NÃO PODEMOS ADMITIR se queremos ter introjetado na cultura organizacional os elementos que estão no papel.
MENOS papel e MAIS ação, penso eu, sem eliminar os manuais e regras que são tão importantes como exemplo, contudo sem AÇÃO, de nada servem.
E você? Quais seus exemplos, verdades e ações para transformar o compliance em ética verdadeira e cultural na sua empresa?