A crise sanitária provocada pelo novo coronavírus teve reflexos na economia. Dentro de muitos fatores podemos citar o aumento do desemprego, a diminuição das vendas em comércios físicos e a previsão de rombos nas contas públicas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a taxa de desemprego chegou a 14,6% no 3º trimestre de 2020. Com o aumento do desemprego as pessoas recorrem ao emprego informal.
As pessoas passaram a fazer o que sabem para gerar uma renda extra, bolos de aniversário, salgadinhos, docinhos, aula particular, aula de esporte, artesanato etc. Tudo vale para poder superar a crise. Como são pessoas físicas, esses profissionais costumam cobrar via transferência bancária, em espécie e agora por WhatsApp.
A funcionalidade foi lançada pelo aplicativo em junho desse ano, não atoa o Facebook – dono do aplicativo – escolheu o Brasil para ser o primeiro país a receber a atualização. A ferramenta não cobra taxas entre pessoas físicas e para os usuários do WhatsApp Business (uma versão que disponibiliza mais funcionalidades ao comerciante) a empresa cobra 3,99% por transação. A empresa espera atingir 51 milhões de consumidores.
O Whatsapp é o aplicativo de troca de mensagens mais utilizado no Brasil, segundo o último dado da empresa – de 2017, nesta data 120 milhões de brasileiros utilizavam o aplicativo.
A funcionalidade de pagamento via WhatsApp pode ser vista como um empurrão para os trabalhadores informais já que pode facilitar a maneira em que cobram por seus serviços e produtos. Os consumidores não precisam cadastrar contas no internet banking nem pagarão por taxas de transferência (TED e DOC) pois o Facebook cobra do consumidor como se fosse uma compra no débito ou crédito. Já o pequeno empresário não precisa contratar maquininha de cartão e pagará proporcional aos valores recebidos somente se utiliza o WhatsApp Business.
O Facebook soube aproveitar uma lacuna deixada pelo sistema tributário e de regularização de empresas. Segundo o Sebrae-SP, os custos elevados com a abertura e manutenção de uma empresa e a burocracia são os principais motivos apontados pelos empreendedores para não se registrarem. A informalidade impede que os empreendedores tenham acesso à linha de crédito, não possibilita a contratação de mão de obra de forma legal, aumenta os custos com matéria prima que deverá ser adquirida em comércio regular e não de distribuidores, impossibilita o acesso à direitos como Previdência e cobertura por acidente de trabalho.
Os que estão se aventurando preferem não legalizar antes de ter certeza de que poderá seguir vivendo disso – muitos se veem obrigados a empreender devido às circunstâncias financeiras. É compreensível que não o façam, sabendo disso, o WhatsApp encontrou um nicho de empreendedores pouco atendidos. Somado a isso, o distanciamento social que aumentou as transações financeiras em meios eletrônicos, convertendo o timing de lançamento da funcionalidade quase perfeito.
Mas no meio do caminho tinha uma pedra chamada Pix, a nova forma de transferir dinheiro pode levar o WhatsApp ao fracasso. O Facebook deverá driblar a facilidade proporcionada pelo Banco Central se quiser seguir no páreo. As cifras não são divulgadas, porém é sabido que hoje o WhatsApp não gera lucro ao Facebook e a empresa tem a missão de monetizar a aplicação. Mark Zuckerbeg, CEO do Facebook, já sinalizou que pretende monetizar o aplicativo sem utilizar propagandas de empresas (conhecidos como adds).
Autor: Matheus Cabral da Selectra