Por Paulo Menzzano, Diretor de Operações da Resource
Não faz muito tempo, as pessoas acreditavam ser um futuro distante sacar dinheiro por meio de impressão digital e realizar pagamentos por aplicativos (apps), selfies, tecnologias vestíveis, biometria, entre outros recursos. Hoje, tudo isso é realidade e caminha para o inimaginável.
O aumento da convergência e a integração entre o comércio eletrônico e a tecnologia móvel mudarão (já estão mudando, na verdade) radicalmente o mercado de pagamentos. E essa movimentação será acelerada por meio do desenvolvimento contínuo de ferramentas de compra on-line e da crescente aceitação do consumidor por esse modelo.
Um dos principais motores dessa transformação é a proliferação de smartphones e tablets e o acesso à internet/celular que servem como um depósito seguro para a transação financeira sem cartão. Analistas do setor estimam que o dinheiro vivo deve dar cada vez mais lugar às soluções em dispositivos móveis em alguns anos. É o que comprova uma pesquisa com entusiastas da tecnologia feita pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE).
Os pagamentos, afinal, podem ser realizados por aplicativos ou sites, via Near Field Communication (NFC) ou sem contato (contactless) – tecnologia que permite a transação quando há a aproximação do celular de um leitor móvel ou máquina de cartão, ou mesmo de outro celular. O novo panorama instiga, cada vez mais, as empresas a criarem aplicativos para smartphones que não só reduzem significativamente a dependência do pagamento tradicional, mas também fornecem uma experiência única do cliente ao aumentar o engajamento e a suavizar os pontos de fricção tradicionais do comércio.
Explosão do mobile
Estudos comprovam e registram essa movimentação. Aproximadamente 13% do total gasto on-line no mundo todo em 2015 aconteceu por meio de smartphone, de acordo com a Pesquisa Ipsos/PayPal, publicada pela companhia no começo de 2016. O levantamento revelou ainda que o e-commerce tradicional no Brasil cresce a uma taxa de 29% ao ano, tendo registrado movimentação perto de R$ 120 bilhões em 2016. Em contrapartida, o mobile commerce cresce três vezes mais: 107%.
A estimativa é de que 8,4 milhões de dispositivos conectados serão utilizados em todo o mundo em 2017, de acordo com estudo divulgado pelo Gartner. O avanço desse mercado é de 31% em relação a 2016 e a previsão é chegar a 20,4 bilhões até 2020. Esses números despertam cada vez mais para a criação de meios de pagamento que simplificam a vida do novo consumidor.
É um mercado em franca ebulição. Para a Forrester Reseach, em estudo a pedido do Google, as vendas na internet no Brasil dobrarão até 2021, impulsionadas pelo crescimento no uso de smartphones. Significa que o segmento registrará expansão média de 12,4% ao ano e atingirá um total de R$ 85 bilhões em vendas.
Assim, o comércio virtual exigirá pagamentos mais simplificados. E isso é possível por meio da tecnologia. Coisas que efetuam pagamentos via Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) – conexão via internet de dispositivos computacionais inseridos em objetos de uso cotidiano, permitindo que eles recebam, enviem e interajam com informações. Coisas que podem realizar compras e, consequentemente, pagamentos.
Essa evolução está em pleno desenvolvimento e certamente nos reserva muitas surpresas com o surgimento de tecnologias inovadoras, que darão origem a novos serviços e modelos de negócios. E pensar que tudo começou com escambo, quando a negociação acontecia por meio da troca de mercadorias.
No mundo e no Brasil
O Reino Unido se tornou o primeiro país do mundo a ter um supermercado onde é permitido que os clientes paguem as compras a partir da tecnologia de impressão digital. Um sistema infravermelho escaneia as veias dos dedos das pessoas e vincula o mapa biométrico às contas bancárias de cada cliente, efetuando o pagamento.
A rede norte-americana de fast food KFC lançou recentemente na China um sistema de pagamento via reconhecimento facial, coincidindo com o uso crescente da tecnologia no país. O terminal de pedidos funciona comparando os rostos dos clientes com a foto que tem em sua conta do Alipay para validar o pagamento.
A rede de farmácias Walgreens é um exemplo de pagamento físico via dispositivo móvel no PDV (ponto de venda). O telefone e o PDV são compatíveis e se comunicam para permitir o pagamento juntamente com recursos de marketing adicionais, como visualização de ofertas do dia, reconhecimento do número fidelidade e outros.
Já o Amazon Go é uma loja na qual o cliente não precisa passar por filas para pagar por seus produtos – ele apenas escolhe os produtos e tudo é transferido para seu smartphone. A fatura chega posteriormente para pagamento digital. Nela, a experiência do cliente sem atritos impera. O conceito utiliza sensores, que detectam a entrada do consumidor no supermercado e, com inteligência artificial, identificam os produtos que o cliente coloca na sacola de compras. A plataforma identifica até se o cliente desistiu de um produto e devolveu às prateleiras. O processo é semelhante ao utilizado por carros autônomos, com visão computacional e reconhecimento via sensores. E pensar que tudo começou com escambo, quando a negociação acontecia por meio da troca de mercadorias.
Essa evolução está em pleno desenvolvimento e certamente nos reserva muitas surpresas com o surgimento de tecnologias inovadoras que darão origem a novos serviços e modelos de negócios.
Já o mercado brasileiro não está somente atento à evolução dos meios de pagamento, mas também segue em plena atividade. Os bancos já oferecem possibilidades disruptivas. O Banco do Brasil (BB), por exemplo, lançou neste ano uma ferramenta de envio de dados por meio de QR Codes e de redes sociais que facilita a vida de amigos em bares e restaurantes que desejam dividir suas contas.
A Visa, por exemplo, divulgou no primeiro trimestre deste ano óculos capazes de efetuar pagamentos. Eles têm uma tecnologia chamada NFC (que permite comunicação por proximidade). Imagine que basta encostar o objeto para realizar um pagamento!
Muitas outras iniciativas extremamente inovadoras ao redor do mundo provam que ainda vamos assistir a outras formas de pagamento disruptivas. Isso porque o mundo se movimenta natural e freneticamente para isso. Quase que de maneira intuitiva. A tecnologia segue como esteira para materializar as possibilidades de inovação fabricadas pelo incansável cérebro humano.