No final de janeiro, a marca chamou a atenção pelas peças apresentadas durante a Semana de Alta-Costura.
A Schiaparelli não é uma marca recente do mercado da moda. Foi fundada em 1927 por Elsa Schiaparelli com a ideia de misturar duas de suas paixões, as artes plásticas e a alta-costura. Com isso, ela criou uma grife irreverente que sempre surpreendeu nas passarelas.
No mês de janeiro, em Paris, aconteceu a Semana de Alta-Costura e a grife esteve presente, surpreendendo quem viu de perto os desfiles com peças hiper-realistas, trazendo cabeça de animais selvagens como parte da vestimenta.
Ainda assim, não é a primeira vez que a Schiaparelli surpreende e dá o que falar. No ano anterior, no mesmo evento, também se destacou com um vestido tubinho que mais parecia uma estátua viva.
O surgimento da Schiaparelli
Elsa sempre foi uma mulher criativa, mas não pensava em trabalhar com moda. Ao menos, não antes de 1927. Ela casou, teve uma filha e em 1922 viu sua união chegar ao fim, o que a fez voltar para Paris e conhecer Paul Poiret.
O imperador da moda parisiense dos anos 1920 via futuro no que a jovem produzia e a incentivou a continuar neste mundo, tanto que ela vendeu suas peças de forma informal até finalmente abrir seu ateliê.
A primeira coleção lançada não tinha nada de extravagante em comparação ao que se vê hoje nas passarelas. Muito pelo contrário, eram suéteres feitos à mão com estampas de inspiração cubista. Seguindo essa linha, ela vê seu primeiro sucesso dois anos depois, em 1929, com o suéter preto e branco estampado tromp l’oiel.
Na época seu foco foi as peças casuais, para o dia a dia, mas com um toque inovador e até mesmo futurista. Além das roupas, Schiaparelli também gostava de acessórios e, em 1936, em parceria com Salvador Dalí, lançou um pó compacto com embalagem que lembrava um telefone.
Os modelos diferentes
A estilista nunca gostou do tradicional, ela era fã do diferente, daquilo que se destaca, tanto que ela tinha suas divergências com Coco Channel. O grande destaque de sua grife, tido como uma de suas marcas registradas, era o efeito de ilusão de ótica.
Além disso, Elsa também criava itens diferenciados, como luvas com unhas pintadas de vermelho, chapéus em forma de sapatos e roupas estampadas com figuras de animais, como a lagosta.
Ela deixou a marca em 1954 e faleceu em 1973, porém, outros grandes estilistas continuavam dizendo que Schiaparelli era um exemplo de criatividade e irreverência.
O retorno da grife
Em 2007, Diego Della Valle comprou a grife e decidiu trazê-la de volta para as passarelas sem perder a marca registrada de Elsa. A primeira coleção chegou em 2013, mas foi em 2019 que a Schiaparelli voltou a se destacar.
Daniel Roseberry assumiu a maison de alta-costura e começou a apresentar roupas bem diferentes e chamativas. Ele pegou a mensagem original da criadora da marca e conseguiu trazer para os dias atuais, sem perder o toque futurista.
O desfile que deu o que falar
O desfile que trouxe a marca de volta para a mídia e deixou muita gente chocada aconteceu no final de janeiro. As modelos vestiam peças com detalhes hiper-realistas de cabeças de leão, leopardo e loba.
Segundo Roseberry, ele se inspirou em “A Divina Comédia” para trazer o desfile desta temporada. Isso é tão claro que a coleção se chama Inferno Couture a Schiaparelli.
O estilista seguiu a ideia dos extremos, destaque em uma frase do livro de Dante Alighieri, no qual fala que o paraíso não pode existir sem o inferno. Por isso essa dramaticidade intensa e peças de roupa tão marcantes. Se o objetivo era chocar os presentes, Daniel com certeza conseguiu, assim como Elsa já o fez antes.