Taxa de sucesso do procedimento é alta e recuperação é tranquila, afirma médico oftalmologista
Um divisor de águas. É assim que o jovem Alex Siqueira da Silva, 21 anos, poderia definir a cirurgia para correção de estrabismo que realizou no Hospital IPO, em Curitiba. Silva convivia com a condição desde o nascimento e, apesar de dizer que não sentia dificuldade em enxergar, tanto que é jóquei, profissão em que o cavaleiro participa de competições a cavalo e que exige muito do olhar, sofria muito.
“Tinha muita vergonha da minha condição. Cresci ouvindo ‘brincadeiras’ de mau gosto de colegas na escola e vizinhos, sofria bastante bullying. Era algo que me deixava triste, para baixo. A cirurgia era um sonho, minhas expectativas eram altas. Deu tudo certo e já estou 100% recuperado e trabalhando, inclusive”, comenta.
O estrabismo, também conhecido como “olho torto”, é um distúrbio visual que afeta o alinhamento ocular, caracterizado pelo desvio de um olho em relação ao outro. Pode ser congênito, isto é, característico do indivíduo desde o nascimento ou até mesmo antes dele, ou adquirido, menos comum, quando surge em outras fases da vida em decorrência de fatores como doenças neurológicas, traumatismos, hipermetropia, catarata e hidrocefalia, entre outros.
O distúrbio ocorre em razão de um desequilíbrio na função dos músculos responsáveis pelos movimentos oculares e pode ser convergente, quando o olho é desviado para dentro; divergente, quando o olho é desviado para fora; vertical, quando o olho é desviado para baixo ou para cima; alternante, quando se alterna entre os outros; e até mesmo intermitente, quando o problema se manifesta somente em determinados momentos. É possível, ainda, que haja uma combinação entre esses tipos.
O sintoma mais comum é o desvio dos olhos, mas pacientes com estrabismo também podem apresentar dores de cabeça, sonolência após a realização de tarefas que exijam mais dos olhos e até mesmo visão dupla. Em alguns casos, há redução do campo visual.
Diagnóstico precoce
Médico oftalmologista do IPO e responsável pela cirurgia de Alex Siqueira da Silva, Dr. Valentim Gonçalves conta que o estrabismo afeta de 2% a 3% da população, sendo mais comum em crianças. Por isso, quanto antes houver o diagnóstico, maiores as chances de sucesso do tratamento.
Ainda na maternidade os bebês passam pelo “teste do olhinho”, a fim de identificar problemas oftalmológicos na criança, uma espécie de triagem inicial que pode ser realizada pelos próprios pediatras. Já por volta dos seis meses de vida os pais devem levar os pequenos ao oftalmologista, visita que precisa ser realizada frequentemente.
Gonçalves explica ainda que o tratamento do estrabismo pode ser realizado com colírios, toxina botulínica para enfraquecer o músculo e uso de óculos e tampões. A cirurgia é indicada quando os outros métodos menos invasivos não se mostrarem efetivos e, ao contrário de procedimentos como cirurgias refrativas (“correção de grau”) e de catarata, não é realizada a laser.
“Como é uma cirurgia de músculos, ela não envolve laser, mas ganchos e pinças, aproximando-se de uma cirurgia ‘tradicional’. No procedimento, movemos os músculos que são responsáveis pelo desvio do olhar para que eles possam reduzir ou aumentar sua força, dependendo do desvio ou do ângulo”, explica o médico, acrescentando que a cirurgia é indicada não só para a melhora da função visual, nos casos em que esta é afetada, mas para cumprir uma função estética, a fim de recuperar a autoestima do paciente.
No caso das crianças, a anestesia é geral, enquanto em adolescentes e adultos o procedimento pode ser conduzido com sedação e anestesia local. A taxa de sucesso, de acordo com Gonçalves, é bastante alta: cerca de 85% dos casos não requerem outro procedimento. Além disso, há cirurgias chamadas de “ajustáveis”, geralmente feitas em adultos. Nesse caso, os pontos não são completamente cortados e pode haver um ajuste no pós-operatório, com a pessoa consciente.
Recuperação
Por envolver músculos muito finos e delicados, de cerca de um milímetro de espessura, a operação é realizada com o auxílio de microscópio. Quando feita por um cirurgião experiente, os riscos são muito pequenos.
O paciente se recupera dentro de uma semana e é normal que os olhos fiquem avermelhados por alguns dias. No caso das crianças, elas costumam sentir algum desconforto por conta dos pontos, ficando um pouco irritadas, mas nada mais que isso. Importante ressaltar que os fios dos pontos são absorvíveis e se decompõem sem apresentar riscos ao organismo. No caso de Alex, que foi para casa no mesmo dia da realização da cirurgia, a recuperação foi considerada tranquila.
“Para aqueles que possam ter algum receio de passar pelo procedimento, digo que fiquem calmos porque os médicos são de muita confiança. Essa cirurgia mudou minha vida, foi um verdadeiro presente”, finaliza o jóquei.