André Frota (*)
O ano de 2022 reserva incertezas de ordem social, econômica e política, que já permitem um curto ensaio de previsão. Dois cenários aparecem como possibilidades para o Brasil ao longo do ano que chega.
Um primeiro, otimista, combina uma transição política ocorrendo dentro da normalidade democrática, mediante uma eleição acompanhada por regras compartilhadas, independente, aceita pelos setores da sociedade, referendada pelas instituições e aceita pelos candidatos envolvidos. Esse primeiro cenário contempla a possibilidade da alternância de poder e confirma as regras do jogo democrático se impondo acima dos interesses personalistas, presentes em parcela da classe política brasileira.
Combinado a esse cenário de transição pacífica, o controle da pandemia no Brasil mantém as taxas atuais, sinalizando para números brandos de contaminação e mortalidade, sem o impacto de variantes agressivas, ou mesmo que escapem da resposta imune oferecida pela vacinação. Trata-se de um cenário de equilíbrio e de expansão da curva de possibilidades de produção.
Dentro desse cenário otimista, tanto político quanto social, somam-se os indicadores macroeconômicos: inflação e juros. Nessa perspectiva, a trajetória dos juros se eleva dentro da curva de equilíbrio, para se manter dentro do limite máximo da meta de inflação.
O cenário otimista, portanto, sinaliza para uma transição política pacífica, um controle social da pandemia e uma atenuação da curva inflacionária, dentro do limite superior da meta.
Já o segundo cenário, o pessimista, inverte as variáveis já descritas. O processo eleitoral ocorre de forma conturbada, seguido de contestação institucional ou, na pior das hipóteses, alguma forma de ruptura. A incerteza institucional impacta todas as variáveis econômicas, que, no cenário otimista, permitiriam o ano pós-eleitoral se consolidar como um ano de transição e novas possibilidades surgirem com a inflação dentro do regime de metas.
Entretanto, somado ao peso da instabilidade institucional, ocorre um descontrole das taxas de contaminação e mortalidade, influenciadas pela penetração e disseminação de cepas virais, que escapam às respostas vacinais dadas. Nessa projeção, a pandemia tem uma nova curva ascendente no Brasil, o que impacta diretamente o ritmo das atividades econômicas.
Uma nova rodada de desaceleração, em uma economia já fragilizada, consolida um cenário de estagflação com uma taxa de juros alta. Trata-se de uma combinação péssima entre desemprego, inflação, juros altos e contaminação biológica. Em vias de síntese, os dois cenários representam possibilidades extremas. Entre esses dois cenários, existem múltiplas formas de combinação intermediárias.
Enfim, o que este ensaio de previsão procurou enfatizar é um horizonte otimista de transição política, econômica e social equilibrada, ou uma potencial deterioração dessas três dimensões para a população brasileira.
Veremos.
*André Frota é professor de Relações Internacionais, Ciência Política e Geografia do Centro Universitário Internacional Uninter.