Por Arthur Bernd*
O desejo de ser professor, muitas vezes, tem origem no próprio período escolar. Esta fase da vida não raro é especial para aqueles que optaram por seguir tal caminho tendo em vista ser uma época que remete diretamente à felicidade. A formação de vínculos de amizade, bem como a relação harmoniosa com professores e com o ato de aprender, ficam para sempre gravadas, de modo que o ato de ensinar se lhes torna natural e consequente.
Entretanto, os tempos são outros. A vida digital e a relação das novas gerações com o mundo influem neste contexto, provocando muitas vezes uma desestruturação de aspectos elementares para o crescimento humano. As pesquisas e as salas de aula mostram que muitas crianças e adolescentes sofrem cada vez mais com depressão e outras questões de saúde mental, aprofundadas pela pandemia e pelo contexto da hiper conexão nas redes sociais (que, no fundo, pode gerar isolamento).
Evidentemente que, neste cenário, não haja estímulo à formação de jovens interessados na docência. É o que podemos chamar de “apagão de professores”. Há uma preocupante desvalorização profissional do professor, sobretudo na educação pública, em termos financeiros e de condições laborais, com perspectivas de adoecimento psicológico, sobrecarga de trabalho em casa, infelizmente podendo levar ao abandono da profissão.
Causa e consequência disso é a baixa procura pelos cursos de graduação em licenciatura no Brasil. Nas universidades particulares, vê-se fechamento de cursos, quando não instituições “de baixo custo” com um nível de formação questionável ou apenas o recurso do EAD. Nas universidades públicas, ainda que qualificadas, o cenário não é melhor: baixíssima concorrência, geralmente com menos candidatos que vagas, e pouco incentivo para permanência e conclusão do curso, sobretudo nos últimos anos, com limitação em bolsas de pesquisa, especialmente com ênfase na formação de professores.
Cabe questionarmo-nos: há luz no fim deste túnel? A valorização do professor como um dos pilares para uma sociedade mais justa e saudável passa, antes de tudo, pela por uma mudança profunda na formação de indivíduos. Somente assim, dando-se importância a valores essenciais, que este inquietante apagão possa ser sanado. E a ferramenta mais eficiente para isso é a própria Educação.
* Professor de Matemática e Vice-diretor do Colégio Anglo Porto Alegre