*Por Felipe Henzel
Antes de falarmos especificamente de pneus para motocicletas no Brasil, é importante entendermos o mercado duas rodas de uma forma mais ampla. O começo de tudo foi no início dos anos 70, quando as duas principais montadoras, oriundas do Japão, iniciaram a importação de alguns modelos para o Brasil. Rapidamente, este processo se transformou em projetos muito mais robustos, com plantas próprias em nosso território e que geraram amplo domínio de market share por parte destas marcas até hoje, sendo a uma delas, a protagonista, com média de 80% de mercado.
Desde então, durante os mais de 30 anos que se seguiram, ambas marcas experimentaram períodos de amplo crescimento e de consolidação da motocicleta como um símbolo nacional de mobilidade e trabalho. A partir do ano de 2008, contudo, o conturbado cenário político/econômico do país transformou um histórico de crescimento em um “eletrocardiograma” até os dias atuais. Vários fatores colaboraram para esta inconstância, principalmente ligados à disponibilidade de crédito para financiamento da compra da motocicleta nova. Ainda assim, resiliente, o mercado de duas rodas conseguiu navegar muitas vezes à margem de momentos ruins da economia por se tratar de um produto algumas vezes alternativo.
Assim, formou-se a nossa atual frota de motocicletas, que hoje é superior a 30 milhões de unidades em todo o Brasil. Com o mercado de pneus para estas motocicletas não foi muito diferente. Havia a necessidade num primeiro momento de equipar a motocicleta nova que saía da fábrica, bem como iniciar o processo de reposição a partir do fim da vida útil do primeiro pneu. Dessa forma, as indústrias pneumáticas foram buscando o seu espaço por meio de planos de expansão, mesclados com políticas de importação de alguns produtos a fim de atender a demanda.
Os principais players possuem larga experiência neste segmento e muitos anos de convívio comercial, formando, assim, características individuais de cada marca como qualidade, disponibilidade, política comercial e preço. Cada fabricante foi aos poucos criando uma identidade junto ao mercado, tanto para o público final quanto para os distribuidores de motopeças, principal canal para pulverização deste produto.
Importante lembrar que, diferentemente do mercado de pneus para automóveis, por exemplo, pneus para motocicletas são comercializados em lojas especializadas, onde a diversidade muitas vezes chega a mais de 10 mil produtos distintos, desde partes plásticas até peças para motor e lubrificantes, em geral multimarcas. Ou seja, um ambiente de alta competitividade.
No atual cenário brasileiro, a relação de oferta e demanda foi muito oscilante nos últimos 15 anos, o que trouxe certa incerteza aos projetos de expansão. Vivemos um período de forte pressão pelos preços das matérias-primas, oriundos da quebra da cadeia produtiva mundial de fornecimento de insumos, muito por conta da pandemia. O mercado hoje está aquecido, por isso há fabricantes com vistas a ampliar sua capacidade produtiva e continuar oferecendo produtos de qualidade de modo a tornarem-se cada vez mais competitivas.
A pandemia criou um cenário muito peculiar ao mercado de motocicletas, capaz de gerar desafios, mas também oportunidades. Até março de 2020, vivíamos um período de certa estabilidade entre oferta e demanda, porém, vieram as restrições de mobilidade, e com isso, as coisas tiveram que chegar até as pessoas e não as pessoas até elas de uma forma jamais vista até então. Assim, motocicletas viraram um instrumento fundamental para o mantenimento mínimo da cadeia comercial de consumo de itens muitas vezes básicos.
Acredito que, mesmo com o gradual retorno da normalidade nas atividades, uma nova cultura de compras fortemente ligada à expansão do e-commerce deixará um legado e, assim, a moto não perderá seu preponderante papel já conquistado nesta engrenagem. Além disso, a expansão dos negócios no território nacional, bem como para mercados externos, já se mostrava promissora antes mesmo da pandemia, tanto no segmento de reposição quanto no de equipamento original.
No entanto, a pandemia fez com que este processo de estudos fosse acelerado. Por isso, neste momento estamos trabalhando de forma muito intensa para converter estes estudos e cenários em realidade. Sabemos que temos etapas a vencer pela frente, mas o sinal está verde para quem souber aproveitar. Imprescindível, porém, será a manutenção da qualidade dos produtos, haja vista a maturidade do consumidor e o alto nível de competitividade. Quem trilhar por esta pista da oportunidade com assertividade, se condicionará a buscar novas frentes, novas tecnologias e novas soluções a um mercado em franca expansão.
*Gerente de Duas Rodas da Vipal Pneus de Moto
Martha Becker Connections
Daniel Rodrigues
daniel@marthabecker.com.br
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