Por Eduardo Estima*
Na primeira semana de março, visitei uma indústria de tecnologia gaúcha, que nasceu num apartamento próximo à Universidade Federal do RS. Como os grandes empreendedores que atingiram níveis elevados de sucesso, o engenheiro Anderson Dick acreditou num projeto da escola e desenvolveu um módulo de monitoramento e programação de injeção de combustível para automóveis. Isso, lá em 1999. Hoje, com mais de 300 profissionais em quatro continentes, a Fueltech é líder mundial em seu mercado, recebendo cerca de 5 mil currículos por mês de profissionais ansiosos por uma vaga na empresa, na maioria engenheiros.
Do apartamento na Rua Barros Cassal, passando pelos galpões – que foram sendo emendados um ao outro conforme crescia a empresa – até a nova sede fabril, a loja, o centro de treinamento e a área administrativa e financeira, ou as unidades norte-americana, australiana, alemã e holandesa… Anderson nos ensina que nem tudo é salário para a retenção de seus talentos: ali existe o amor à marca e seus produtos.
E constatei que até o vigilante terceirizado do portão da fábrica é um gearhead apaixonado pela Fueltech. Conversando com funcionárias enquanto operavam suas máquinas, todas tinham a certeza de que aquele produto que estavam manuseando seria responsável pela vitória de um cliente numa pista de arrancada ou numa competição de jet-ski num lago americano. Os olhos brilhavam enquanto falavam de sua empresa e seus produtos, dos colegas de trabalho, dos patrões e de seus clientes.
O que mais eu ouvi? Sobre o registro de uma única reclamatória trabalhista na história da empresa. O que mais vi? Salas de descompressão climatizadas, com mesas de pingue-pongue e sinuca, simuladores com games de corridas de carros e frigobar. Além disso, a seriedade com que Anderson nos respondeu sobre a importância do bem-estar do time. Isso visivelmente corre nas veias dos líderes da empresa, o que me tornou um admirador dela. Que desafio levar para nossas empresas esse entendimento de que somos realmente um time! Como aplicar essa mentalidade, por exemplo, numa metalúrgica, numa recicladora? Ou numa prestadora de serviços de limpeza e portaria?
É possível, sim. Pergunte-se: o que faria você AMAR seu posto de trabalho, imaginando-se em qualquer função de sua empresa? Achou dificuldade em se enxergar em algum cargo? Então, repense como amar aquela função e passe a melhorar o ambiente e a mentalidade daquele setor, pois somente a verdade, a transparência e o amor ao que se faz pode e deve ser premiado. Não apenas com bônus ou prêmios por metas atingidas, mas, sim, pelo sorriso de se dirigir feliz ao seu posto de trabalho, seja num belo e convidativo dia ou numa segunda-feira chuvosa.
* Diretor da Mydwalls Vida e Saúde e VP do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio Grande do Sul (IBEF-RS)