*Leo Benjamin Fischer, sócio da Law Works
A partir do início dos anos 90, com a abertura parcial do mercado nacional e o crescimento econômico que daí resultou, a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor e o aumento da conscientização da população no tocante a seus direitos, o mercado jurídico sofreu vigorosa e constante expansão.
Segundo recente pesquisa da Folhajus, o Brasil atualmente tem mais de 1,2 milhões de advogados. A maior parte atua de forma autônoma (62%), enquanto a minoria integra um escritório de advocacia (27%) – os demais trabalham em órgãos públicos, em departamentos jurídicos de empresas ou em outras atividades do setor.
Vale notar que só 4% das bancas pesquisadas pela Folhajus possuem mais de 50 integrantes. São justamente estas que atraem, ao menos na área empresarial, a clientela nacional e internacional capacitada a recompensar generosamente os serviços jurídicos necessários para avançar em seus negócios e defender seus interesses.
Estas bancas de grande porte, que possuem centenas de integrantes, várias filiais espalhadas pelo país e por vezes até no exterior (sempre nos melhores endereços) se esforçam para prestar serviços em todas as áreas do Direito (escritórios “full service”), de sorte a fidelizar a clientela e, por óbvio, aumentar o faturamento. Dificilmente advogados autônomos ou bancas de pequeno ou médio porte podem com elas competir porquanto lhes falta o capital para investir nos sofisticados recursos e assistência tecnológica necessários à otimização da moderna advocacia e locar espaços nos bairros mais nobres da cidade. Ademais, tampouco têm equipes multidisciplinares para assessorá-las em transações mais complexas e urgentes.
O bem sucedido modelo implementado pelas grandes bancas vem gerando, porém, problemas que estão forçando a revisão das atuais práticas. Enquanto que no passado os escritórios preocupavam-se principalmente em gerar receitas (porquanto as despesas eram em geral modestas), os custos com a folha de pagamento, com equipes de trabalho ociosas, com o aluguel, com a atualização tecnológica, etc. tornaram-se focos de constante atenção.
Sensíveis a este cenário, algumas das grandes bancas já estão introduzindo importantes mudanças em seu “modus operandi”: criaram modelos híbridos de trabalho (presencial e home office) e adotaram espaços abertos e rotativos de trabalho e convivência – tudo para otimizar o uso do espaço e diminuir os custos de aluguel. Tudo muito parecido, ao menos na aparência, a um coworking.
Sucede, porém, que os coworkings especializados em advogados têm alguns diferenciais importantes, a começar pelo fato que abrigam advogados autônomos e pequenas e médias bancas que poderão, ou não, juntar-se ad hoc (caso a caso) para orientar e defender clientes em transações e litígios que exijam a participação de profissionais de múltiplas especialidades. Por não contarem com os custos fixos das grandes bancas, estão habilitados a submeter aos clientes propostas competitivas. Ademais, as equipes formadas ad hoc contam, não raro, com profissionais selecionados dentro e fora do coworking através de redes virtuais, permitindo assim um refinamento na formação do time jurídico.
A tendência dos advogados autônomos e pequenas e médias bancas migrarem para espaços compartilhados especializados parece irreversível, já que a complexidade, sofisticação e custos associados ao exercício da profissão em espaço próprio não favorece o trabalho artesanal (exceção feita eventualmente para profissionais e bancas altamente especializadas em uma área específica do Direito). Ademais, é na convivência com colegas e o trabalho em equipe que o profissional do Direito realiza todo seu potencial e aumenta suas receitas. É por esta razão, aliás, que o home office é quando muito uma solução parcial para alguns dias da semana até porque advogados não podem prescindir de espaços para reunir-se presencialmente com seus clientes.
Seja lá como for, certamente continuarão a existir no futuro advogados autônomos e pequenas, médias e grandes bancas. As grandes bancas, porém, deverão cada vez mais se parecer com coworkings e muitos advogados autônomos e pequenas e médias bancas deverão juntar-se a coworkings de nicho dedicados ao mundo do Direito.
*Leo Fischer é sócio da Law Works, primeiro coworking jurídico internacional com presença no Brasil. Também é mestrando de Direito Civil na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)