A decadência dos escritórios tradicionais

A decadência dos escritórios tradicionais

Entende-se tradição como um conjunto de sistemas simbólicos que são passados de geração a geração e que tem um caráter repetitivo. A tradição deve ser considerada dinâmica e não estática, uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo futuro.

Se fizermos uma regressão na história, observaremos que inúmeros Impérios tradicionais sucumbiram ao logo do tempo. Uma lição óbvia é que nenhum império dura para sempre, e alguns podem ter uma vida muito curta. Pensemos no Reich de Hitler, que não durou nem mesmo uma década. Outros impérios duraram séculos, o Império Romano por exemplo, é considerado a maior civilização da história ocidental. Durou cinco séculos.

Por que impérios entram em decadência e queda?

Os historiadores têm tentado responder a essa pergunta há muito tempo, existindo uma corrente predominante que acredita por uma espécie de teoria psíquica que afirma que um império ascende, atinge o seu auge e então, entra em declínio, numa analogia similar aos seres humanos, que nascem, crescem rapidamente, atingem o seu ápice, começam a envelhecer e depois morrem.

Mas segundo o historiador Niall Ferguson, esta corrente é questionável. O historiador afirma que não se pode comparar os impérios aos seres humanos. Afirma ainda, que prefere pensar nos impérios tradicionais como um sistema complexo, podendo existir durante muito tempo aparentemente em equilíbrio e então, dramaticamente desabar. Ainda segundo Ferguson, o colapso repentino de um império é muito mais convincente do que um declínio gradual. Como exemplos são citados o império da União Soviética e o Império Britânico, após a 2º Guerra Mundial.

No mundo corporativo, empresas familiares representam 80% das companhias existentes no Brasil, contribuindo com 50% do PIB nacional. Apesar dos números relevantes, apenas 12% desses negócios sobrevivem após a terceira geração familiar assumir a gestão, segundo dados da Pesquisa de Empresas Familiares no Brasil, da PWC.

Nos últimos anos, a preocupação com a sucessão, antes restrita às empresas, tem crescido nas bancas advocatícias. Trata-se de um fenômeno comparável à profissionalização de grupos familiares brasileiros, como o Votorantim. Até uma década atrás, era comum ver o comando dos escritórios passar de pai para filho pelo tradicionalismo do nome, inclusive.

A sucessão em escritórios prestigiados é uma iniciativa essencial para a “manutenção do império”.  Em 2010, 15 advogados deixaram o Pinheiro Neto para fundar o MMPK Advogados. Anteriormente, cinco sócios saíram do Machado, Meyer para fundar o Souza Cescon – o que levou os fundadores a acelerar o processo de profissionalização.

“A única constante é a mudança”, expressão preconizada pelo filósofo Heraclito de Éfeso é tão válida hoje como no seu tempo. De fato, se pensarmos nas mudanças vertiginosas que se tem vindo a assistir no mundo, nas sociedades, e nos modelos de negócio em particular, rapidamente conseguimos perceber que esta é uma condição contemporânea, com a particularidade dessas mudanças acontecerem a uma velocidade cada vez mais acelerada.

Isso faz com que paradigmas, até então imutáveis, cedam lugar a novos procedimentos e realidades, passando a prevalecer em larga escala, revelando a necessidade de resinificarmos a tradição como algo que não depende isoladamente do fator tempo, mas sim, como nos posicionamos de forma relevante ao longo do tempo.

O sucesso conferido na tradição, no seu sentido restrito, é a personalidade dos obsoletos.

Escritórios com mais de 50 anos de tradição estão cada vez mais perdendo espaço para bancas com menos de 10 anos de tradição, pois esses últimas carregam em seu DNA a inovação constante e o diálogo com novas ciências. Por exemplo, o maior escritório da América Latina, a NWADV possui tímidos 20 anos, e desponta como maior escritório empresarial full-service do continente com mais de 20 mil clientes.

Conforme disse Thomas J. Peters, “para a empresa excelente, a inovação é a única coisa permanente”.

As transformações na sociedade nunca foram tão radicais como as que constatamos em tempos recentes. O modo de se operar o Direito não poderia ficar fora desse contexto, particularmente no tocante às novas tecnologias e novos meios para troca de informações que aportaram no mundo digital.

Na prática, não há como negar que esses novos tempos, somando tudo o que temos disponível, fatalmente tornará o modelo da advocacia tradicional obsoleto.

Sêneca já havia intuído que “o destino conduz o que consente e arrasta o que resiste”.

Podemos respeitar a postura dos tradicionalistas na lida da profissão, mas quem insistir nessa mentalidade estará fadado ao “arrastamento inevitável”, só lhes restando o consolo dos velhos e ultrapassados paradigmas e axiomas de uma advocacia jurássica.

A advocacia contemporânea está pautada por mudanças que não podem ser desprezadas, pois serão elas que darão o rumo da profissão nos anos que se seguem.

E quais as principais razões que levam a queda dos escritórios tradicionais que são observadas em novos modelos de gestão advocatícia?

1. Falha de gestão profissionalizada;

2. Velhos paradigmas enraizados;

3. Ausência de uma linguagem humanizada nas redes sociais;

4. Falta de política de transparência e baixo engajamento com os colaboradores;

5. Falta de “humildade intelectual” no aprendizado de novas ciências e tecnologias; e,

6. A supervalorização do academicismo e a miopia do modelo de negócio jurídico.

Já se falou que na natureza não sobrevivem as espécies mais fortes ou mais inteligentes, mas sim aquelas capazes de se adaptar às transformações. Cabe a cada um de nós escolher se queremos ser conduzidos ou arrastados pela inevitável mudança.

*Bruno Pedro Bom, advogado e publicitário, fundador da BBDE Marketing Jurídico, diretor de Marketing do IBDP. Autor da obra Marketing Jurídico na Prática publicado pela editora Revista dos Tribunais