A produção global de alimentos terá que aumentar em 60% para suprir as demandas de uma população que pode superar os nove bilhões até 2050, estima a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Paralelamente, o órgão aponta que cerca de 40% das safras agrícolas no mundo são atualmente perdidas para as pragas, que estão se tornando mais destrutivas devido às mudanças climáticas. Para lidar com os desafios, a tecnologia é a aposta. O setor caminha para uma agricultura totalmente automatizada, a agricultura 5.0.
Drones, satélites, sensores colocados em plantas e animais, equipamentos e veículos conectados remotamente entre si são exemplos de ferramentas que já são empregadas. Porém, o grande volume de dados que vem sendo produzido em todas as etapas da cadeia produtiva do agronegócio depende do uso de ferramentas de inteligência artificial para processar as informações e extrair conhecimento.
Neste sentido, o Brasil está andando em sintonia com a transformação digital. Uma pesquisa da consultoria McKinsey, de 2022, aponta que cerca de 50% dos agricultores já adotam ou estão dispostos a adotar tecnologias de agricultura de precisão, especialmente sensoriamento remoto, drones e aplicação de fertilizantes em taxa variável – isto é, a inserção de porções diferentes de fertilizante em cada parte do campo.
Para Adevanio Rodrigues, CEO da empresa AD USA Consulting, a agricultura 5.0 pode ser uma ferramenta para garantir a segurança alimentar com preços acessíveis. “A agricultura 5.0 tem a capacidade de aumentar a produção, aumentar a eficiência, gerar lucro adicional e ajudar no abastecimento global de alimentos”, diz.
As soluções tecnológicas que podem ser adotadas no campo incluem a IoT (Internet das Coisas) e o monitoramento online em tempo real. No primeiro caso, a aplicação pode ocorrer na integração dos dados ao sistema de gestão das fazendas, o que, segundo Rodrigues, facilita a tomada de decisão dos gestores. Já o monitoramento, “permite ao produtor ter dados sobre clima, solo e pragas”.
Sobre este último aspecto, no estudo McKinsey, o país destaca-se também na adoção de práticas de sustentabilidade por meio do plantio direto, cultura de cobertura e controle biológico. Mas, perde no uso de créditos de carbono: apenas 6% dos agricultores brasileiros fazem uso do programa, metade do percentual detectado pela mesma pesquisa na Europa.
O CEO da AD USA Consulting vê na agricultura 5.0 também um caminho para frear as mudanças climáticas por meio da eficiência energética. “O próximo passo da agricultura é tornar o setor mais inteligente e significativamente mais eficiente em termos energéticos”.
De acordo com a publicação “A transformação digital no campo rumo à agricultura sustentável e inteligente”, da Embrapa, a agricultura 5.0 precisa também fomentar políticas públicas e estratégias para abordar os aspectos sociais e políticos dos sistemas agrícolas; contribuir para reduzir as perdas de alimentos e entender as necessidades do consumidor e suas dietas, procurando mitigar o impacto no uso dos recursos naturais e no ambiente.
As expectativas do agro 5.0 são promissoras, mas antes o Brasil precisa lidar com um grande entrave: a conectividade. Atualmente, apenas 23% da área rural é conectada no país. Um estudo realizado pelo Ministério da Agricultura, em 2021, aponta que a instalação de antenas em 4.400 torres já existentes em conjunto com a instalação de mais 15 mil novas antenas resultaria em uma cobertura praticamente total da necessidade de conexão rural no país.