Palavras difíceis e letras pequenas, essas são algumas das dificuldades que o público da terceira idade pode encontrar ao ler a bula de um medicamento. A bula é um documento técnico e científico, que acompanha o medicamento, para informar sua composição, características e recomendações de uso. Esse simples documento pode ser considerado dispensável por algumas pessoas, mas, para parte da população idosa do país, a leitura correta da bula pode prevenir complicações.
Recentemente, o Projeto de Lei 3846/21, do deputado federal André Fufuca (PP-MA), que institui a bula digital de medicamentos disponível por meio da tecnologia de QR Code, foi votado e aprovado – com ressalva – na Câmara dos Deputados, em 16 de dezembro do ano passado. Na sequência, seguiu para o Senado Federal, onde foi aprovado sem alterações no texto. Em 11 de maio de 2022 a lei foi sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.
A ressalva contida no projeto diz respeito à continuidade da obrigação do acompanhamento da bula impressa, exceto em casos a serem definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A ANVISA, por sua vez, emitiu uma nota técnica (48/2021), enquanto o PL ainda tramitava na Câmara dos Deputados, onde afirma, entre outros pontos, que o projeto de lei e a extinção da bula impressa “são inadequados e inoportunos para a saúde da população”.
No Retiro dos Artistas, instituição do Rio de Janeiro que acolhe artistas idosos, alguns residentes compartilham seu descontentamento diante dessa nova regulamentação do governo federal.
O ator André Luís, que iniciou sua trajetória aos 17 anos no Teatro Municipal de Niterói, conta que faz uso de 5 medicamentos diferentes e, por conta disso, acredita na necessidade da bula impressa. “Recentemente estava me sentido fraco e pedi ao meu médico vitaminas. Ele me receitou uma suplementação. Alguns dias depois, comecei a sentir dores horríveis nas costas. Voltei ao médico e foi diagnosticado que era uma crise renal. Realmente tenho problema no rim, por esse motivo, não poderia tomar aquela suplementação. Isso estava descrito na bula, uma informação importantíssima que me livrou de um problema muito mais grave”, relata o ator.
O radialista esportivo Carlos Albuquerque faz parte do grupo de residentes há dois anos. Por conta de um problema na próstata, toma remédio de uso contínuo. Para ele, a bula impressa é essencial. “Só com ela posso entender os efeitos do medicamento no meu organismo. Quem não sabe ler, ou tem dificuldade, deve pedir ajuda. No caso do acesso apenas pela internet, seria muito difícil para mim. Quem me ajuda com essas tecnologias são os meus netos”, comenta.
O iluminador de shows e eventos artísticos Kari Lage, que sofre de algumas condições de saúde, comenta que utiliza cerca de 9 medicamentos. “Sempre leio a bula impressa para saber onde estão os perigos se o remédio não for administrado corretamente. Inclusive, faço uma análise entre as recomendações do médico e da bula, quero saber onde as informações são compatíveis. Me interesso pela dosagem, o intervalo entre elas, quantos dias devo tomar. Essas informações estão na bula e me deixam mais seguro. Ela é essencial para a nossa segurança”, afirma.
Em conjunto, os residentes reafirmaram que a bula tem suma importância para eles e que o item deveria continuar sendo de forma impressa pois a opção on-line, principalmente para a terceira idade, dificulta o acesso à informação.