Investir em tecnologia de aprendizagem tem sido uma tendência para adequar o setor educacional no Brasil com o que há de referência no mundo. Trabalhar com processos de ensino na educação básica e superior requer não só aplicação de conteúdos, provas e notas no boletim. É preciso levantar dados, analisar números e interpretar contextos individuais que compõem cada sala de aula para reduzir desigualdades e alcançar objetivos de aprendizagem de forma efetiva.
Nesse contexto, surgiu em 2015 em João Pessoa (PB), a plataforma Qstione, focada em questões pedagógicas que envolvem processos de avaliação de estudantes. As principais tecnologias desenvolvidas pela startup nordestina oferecem um sistema completo de gerenciamento de avaliações e o Planeje, softwares capazes de nortear escolas e universidades na geração e correção de avaliações, construção de planos de ensino e matrizes de referência da avaliação.
Empresas como a Qstione têm atraído a atenção de grandes grupos de investimento do setor educacional. E foi por isso que os olhares da Square Knowledge Ventures se voltaram para a startup, elencando-a como sua mais nova investida.
Com um aporte financeiro dentro da classificação série A, a holding aposta na atuação da startup em âmbito nacional. “Avaliação é um pilar estratégico extremamente relevante quando se fala de educação de qualquer natureza. O conjunto de competências, experiências, a qualificação dos empreendedores e produtos coloca a Qstione como única no cenário das startups brasileiras do setor”, afirma Alex Pinheiro, CEO da Square.
A Qstione já recebeu três propostas de aporte financeiro de grandes instituições anteriormente, tendo considerado a decisão pela Square por conta do histórico de atuação da holding e de suas lideranças no mercado. “A bagagem que a Square possui traz credibilidade para essa parceria, já que temos objetivos similares focados na transformação na educação por meio de impactos factíveis”, aponta Fabrício Garcia, CEO da Qstione.
O objetivo da Square é aprimorar o mercado educacional brasileiro com inovações que fazem parte das instituições de ensino de excelência no mundo, construindo um ecossistema de startups que poderá atuar como um “cardume de golfinhos” para criar uma oferta conjunta e elevar o nível educacional do país.
Inovação na forma de avaliar
A Qstione foi fundada por Fabrício Garcia, professor da área da saúde apaixonado por tecnologias educacionais. Ao observar falhas no sistema avaliativo em universidades, decidiu estruturar um modelo no qual o professor é estimulado a elaborar avaliações seguindo boas práticas pedagógicas, com maiores aprofundamentos, explorando ao máximo as competências dos alunos.
Segundo o professor, “não basta criar bons modelos de avaliação, é preciso criar uma cultura de boas práticas avaliativas dentro das próprias instituições de ensino, agregando valor pedagógico ao corpo docente por meio do uso da tecnologia.”
O conceito aplicado por Garcia nas faculdades em que trabalhou recebeu, já em 2016, a certificação de boas práticas em sistemas de avaliação de estudantes de medicina, do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas, e se tornou referência. A ideia de implementar tecnologias que, além de solucionar problemas inerentes a avaliação, também capacitam continuamente o corpo docente, atraiu a atenção de outras instituições de ensino, e a tecnologia, até então, recém-criada, foi logo validada em 25 cursos.
O sistema que, inicialmente, trabalhava o processo de elaboração da avaliação, em 2017 recebeu um upgrade significativo com a adição de tecnologias que permitem a análise contínua de dados acerca dos resultados dos estudantes, além de enviar devolutivas personalizadas aos alunos, professores e gestores.
A Qstione ainda oferece um software (Planeje), integrado à plataforma, que faz a gestão de planos de ensinos em que as matrizes escolares são usadas como referência, além de gerar planos de aulas e cronogramas. “O professor que não sabe elaborar uma boa prova certamente deve encontrar dificuldades em formatar uma boa aula. Ao instrumentalizar os professores a estruturarem uma avaliação de qualidade, a ferramenta contribui com a formação dos educadores”, explica Garcia.
Com o software, reitores de universidades e gestores escolares conseguem ter acesso aos dados das turmas, verificando se o plano de ensino foi executado e se os objetivos de aprendizagem foram alcançados.
“Nas escolas, em grande parte dos casos, a forma de elaborar e construir as avaliações ainda segue o norteamento direto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ou utiliza currículos pouco ambiciosos e construídos precariamente. É preciso instrumentalizar as escolas para que elas construam seus próprios currículos seguindo as melhores práticas pedagógicas, pois a precariedade dos currículos afeta não só a qualidade da avaliação, mas também o planejamento de todas as outras etapas de ensino e a própria qualidade de construção do material didático”, explica o professor.
Desde a sua fundação, a startup realizou mais de 115 mil provas por ano, capacitando e auxiliando mais de 7 mil professores com cerca de 400 mil questões construídas e validadas por meio da plataforma; foram mais de 80 mil alunos beneficiados.
“A nossa meta para 2022 foi atingida no primeiro trimestre do ano; desde a fundação da empresa, tivemos um crescimento médio anual de 45%. Com o aporte recebido, pretendemos expandir ainda mais nossa atuação para estudantes da Educação Básica e do Setor Público de ensino, além de finalizar o desenvolvimento de novas tecnologias que vão ampliar a atuação da Qstione no mercado educacional brasileiro”, ressalta o CEO da Qstione. Segundo ele, a previsão é de que a plataforma atenda 450 mil alunos/170 instituições/30 mil professores nos próximos 36 meses.
Para Alex Pinheiro, CEO da Square, o maior ativo desta parceria é o resultado conquistado no longo prazo. “Temos uma característica única no mercado de investimento em startups: nos últimos 20 anos, como empreendedores criamos do zero mais de 10 startups. Nosso apoio começa na estratégia e segue para a execução técnica além do networking nacional e internacional, sempre com uma visão de longo prazo, com foco na transformação da educação no Brasil e no mundo”.