O nascimento de uma criança, na maioria das vezes, é motivo de muita alegria, principalmente, para as mães que têm muitas expectativas para esse momento, mas o que fazer quando o entusiasmo dá lugar a uma tristeza que parece não ter explicação? A depressão pós-parto é um transtorno que acomete as mães após o parto dos seus bebês e se não identificado precocemente pode trazer sérios problemas tanto para a saúde mental das mães, como para a estrutura familiar e também para o recém-nascido.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2016 por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgada recentemente, cerca de 25% das mães de recém-nascidos no Brasil desenvolvem a doença. Ou seja, 1 em cada 4 mães são diagnosticadas com depressão após darem à luz aos seus filhos. O estudo também identificou que, entre as mulheres acometidas pela depressão pós-parto, a maioria é da cor parda, de baixa condição socioeconômica, com histórico de transtornos mentais e que não planejaram a gravidez. A pesquisa na íntegra está disponível pelo link: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/factors-associated-with-postpartum-depressive-symptomatology-in-brazil-the-birth-in-brazil-national/
No entanto, a psicóloga Lorena Cotrim de Mattos, da clínica AmorSaúde de Itabuna (BA), explica que a doença pode atingir qualquer mulher e que há diferentes causas para o transtorno, as quais variam dependendo do caso. “Esse tipo de depressão pode estar relacionada a fatores físicos, hormonais, emocionais, ao estilo de vida da paciente ou estar ligado a transtornos psiquiátricos prévios, tais como depressão e ansiedade já diagnosticadas. A falta de apoio da família, do cônjuge e amigos durante a gestação e após o nascimento da criança também pode colaborar para o quadro; assim como o vício em drogas e álcool, isolamento, privação de sono e possíveis transtornos mentais na família ou uma gravidez não planejada, por exemplo”, aponta a psicóloga.
Lorena também alerta para a importância de observar possíveis alterações de comportamento em puérperas. “É possível identificar a doença quando a mãe não está dando mais conta das coisas e evita fazer vínculo com o bebê. Assim como no momento em que se percebe o descuido tanto da própria mãe consigo mesma quanto com a criança e se torna possível notar que vem aflorando nela um sentimento de incapacidade e medo que provoca choro fácil, irritação, nervosismo e fadiga”, aponta a profissional.
Os sintomas da doença são diversos e podem acabar sendo confundidos com um cansaço ou desânimo passageiro. No entanto, a psicóloga da AmorSaúde alerta que há alguns sintomas muito característicos da doença como a tristeza profunda, falta de interesse nas atividades prazerosas ou diárias, insônia ou excesso de sono, perda ou ganho rápido de peso, cansaço, ansiedade, preocupação excessiva, sentimento de menos valia, de culpa, dificuldade para se concentrar e tomar decisões ou até mesmo vontade de prejudicar ou fazer mal ao bebê ou a si própria.
Diante da gravidade dos sintomas apresentados, caso haja suspeita de um quadro de depressão pós-parto, torna-se imprescindível incentivar a mãe a buscar atendimento médico, além de prover a ela uma rede de apoio que diminua a pressão psicológica normalmente sofrida pelas mães nessa fase de grandes mudanças e novas responsabilidades. Considerando que há uma forte cobrança social para que a maternidade seja uma etapa perfeita da vida, a expectativa em relação a esse momento tão significativo pode gerar frustrações profundas, como enfatiza a psicóloga: “Quando a sensação de que tudo está perdido e de que não vão dar certo domina os indivíduos, eles se veem em uma situação de estresse, pressão e angústia contínuos e a qualidade de vida acaba sendo muito prejudicada. Nestas circunstâncias, é essencial procurar um auxílio profissional”.
Duração dos sintomas
O diagnóstico da depressão pós-parto não se limita apenas aos dias que se seguem ao nascimento do bebê, uma vez que muitas mulheres acabam desenvolvendo os sintomas meses depois do parto. Isso porque, “a duração dos sintomas varia de uma mulher para a outra, podendo iniciar logo após o nascimento da criança ou nos 12 meses seguintes. Em alguns casos a doença pode aparecer durante a gestação e, em seguida, piorar no pós-parto”, pontua.
Além disso, a psicóloga acrescenta que o transtorno pode acometer mães que já tiveram outros filhos, não sendo apenas uma doença comum em mães de primeira viagem, “a doença pode aparecer em qualquer gestação, seja do primeiro, segundo ou terceiro filho, e mães que apresentaram depressão pós-parto em uma gestação têm até maior chance de recorrência nas gestações seguintes. Muitas pessoas não sabem, mas pais adotivos também podem passar por esse tipo de transtorno”.
Após a detecção e confirmação da doença por um médico, além do tratamento, a mãe passa a precisar ainda mais da sua rede de apoio para recuperar a saúde mental e conseguir cuidar de si mesma e do seu filho, “parentes e amigos devem demonstrar interesse genuíno no bem-estar dessa mãe, dar suporte, apoiar e acompanhar em tudo. Neste período de tratamento, a mulher precisa ter atividades de lazer, se distrair, descansar e trabalhar a autoestima. Dessa forma será possível que ela reconheça e busque aceitar as mudanças ocorridas”, aconselha a psicóloga.