OMC baixa expectativa de crescimento do comércio de mercadorias em 2022

OMC baixa expectativa de crescimento do comércio de mercadorias em 2022

Já são quase três meses de guerra entre Rússia e Ucrânia e, além dos prejuízos para a população dos dois países envolvidos, o conflito segue causando impactos na economia e na vida de milhões de pessoas pelo mundo. Um desses impactos é no comércio de mercadorias que, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), teve a previsão de crescimento reduzida em 2022 de 4,7% para 3,0%.  

De acordo com a entidade, a previsão ainda é incerta devido à imprevisibilidade ante o conflito. Um dos principais impactos na economia foi o aumento do preço de commodities, impactado pelo fechamento de vários portos no Mar Negro, e com consequência direta na segurança alimentar de países pobres.

Mas a guerra no Leste Europeu, iniciada no dia 24 de fevereiro, não é o único fator que prejudica o comércio mundial, de acordo com a análise da OMC. Os bloqueios na China para impedir a propagação da Covid-19 interrompem o comércio marítimo e vêm prejudicando o abastecimento de cadeias de suprimentos. Um dos setores afetados é o de componentes eletrônicos, o que vem provocando aumento de preços de produtos eletrônicos e até paralisações de fábricas de automóveis por falta de insumos.

Nas empresas, um dos setores mais impactados pelos dois eventos é o setor de compras internacionais, como explica a administradora especialista em comércio exterior, Marcela Thalita Landin Sita. “A compra internacional é uma operação importante que garante que o negócio permaneça competitivo por meio de fornecimento de matérias-primas de forma rápida, eficaz e com maior custo-benefício”, diz.

A profissional explica também que essa interrupção da cadeia internacional de compras ocorre em um momento em que as empresas estão lutando para levantar capital para a compra de matérias-primas. “A guerra aumentou o atraso na entrega de matérias-primas devido ao fechamento de terminais da cadeia de suprimentos, pois os fornecedores temem se tornar alvo do conflito. Além disso, essa interrupção diminui a confiança do consumidor nas empresas e em sua capacidade de executar as operações que envolvam compras no exterior”, avalia Marcela Sita.

Preocupação – A falta e o alto custo de matérias-primas e suprimentos, que desencadeou uma crise que se arrasta desde 2020, continua sendo uma das principais preocupações do empresário industrial, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao analisar o primeiro trimestre do ano. Esse fator foi citado por 58,8% dos entrevistados com um dos principais problemas enfrentados nos primeiros três meses de 2022.

Além do aumento de matérias-primas e suprimentos, outro fator que pesou para quem depende de insumos do exterior foi o transporte, que também teve o custo reajustado devido à crise causada pela guerra e o lockdown na China. “O custo do transporte aumentou e alguns departamentos de compras internacionais têm pilhas de mercadorias esperando para serem enviadas enquanto outras estão ficando sem mercadoria devido à escassez”, ressalta Sita, que tem mais de 10 anos de experiência na área de compras.

Produtividade da indústria brasileira em 2021 foi a menor desde 2000

Os impactos causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, assim como o aumento de casos de Covid-19 na China, que obriga o país a decretar lockdowns para conter a doença, são fatores que influenciam a economia em todo o mundo e, no Brasil, pode influenciar no desempenho da produtividade industrial local também em 2022.

Ano passado, quando o problema maior ainda era a pandemia, aliada à crise econômica que atinge o país, a produtividade da indústria alcançou o menor patamar desde os anos 2000, conforme atestou pesquisa da CNI. Segundo a entidade, a produtividade do trabalho em 2021 recuou 4,6% em comparação com 2020. Até então, a maior queda anual registrada foi de 2,2% em 2008, ano marcado pela crise financeira global.

De acordo com a avaliação da Confederação, no curto prazo a perspectiva é de baixo crescimento, em nível semelhante aos registrados antes da crise sanitária causada pela pandemia. Em 2018 e 2019, a produtividade na indústria ficou abaixo de 1%. A expectativa da entidade é que, no longo prazo, pode haver um aumento sustentado da produtividade com as oportunidades relacionadas às tecnologias da Indústria 4.0 e ao desenvolvimento do 5G, o que ocorrerá somente se houver investimentos em inovação.