No mundo corporativo atual, onde a pressão e o estresse são frequentes, a prática de mindfulness tem ganhado cada vez mais atenção. Mas será que essa abordagem é apenas uma moda passageira ou uma solução eficaz para lidar com os desafios do ambiente de trabalho? Especialistas e pesquisas científicas mostram que a prática pode realmente trazer benefícios tangíveis quando implementado de forma consistente e abrangente nas empresas.
O mindfulness, também conhecido como atenção plena, consiste em direcionar a atenção para o momento presente de forma consciente e sem julgamentos. Essa prática promove a consciência do corpo, das emoções e dos pensamentos, permitindo uma maior clareza mental e controle emocional. No contexto do ambiente de trabalho, isso pode resultar em uma série de vantagens para os funcionários e para as organizações como um todo.
Segundo David Gelles, autor do livro Mindful Work, um colaborador com altos níveis de estresse pode custar cerca de R$ 2,000,00 por ano. Isso se deve aos custos médicos e a perda de produtividade no trabalho, resultando em baixos números para a empresa. Em seu livro, Gelles demonstra a redução de 7% de custos com despesas médicas por parte da gigante dos seguros Aetna, quando a empresa incentivou seus funcionários a fazerem pausas, para focar na respiração durante o trabalho. O que resultou em uma economia de 6,3 milhões por parte da empresa.
Mas para Charles Betito, especialista em treinamento de lideranças e promoção de saúde mental no trabalho, o mindfulness vai além de simplesmente oferecer workshops ou palestras esporádicas nas empresas. “É necessário cultivar uma cultura de mindfulness, onde os colaboradores sejam encorajados a conectar a prática com as atividades diárias, assim como é importante oferecer recursos e suporte adequados”, aponta o profissional que está a frente da Mind Station, empresa de consultoria de RH especializada em desenvolvimento humano e educação corporativa.
Para ele, um dos erros mais comuns das empresas ao aplicar o mindfulness está em transformá-lo em um produto comercial, em vez de compreender sua essência como uma ferramenta valiosa. “Muitas organizações recorrem a abordagens superficiais, como workshops rápidos e aplicativos, na esperança de obter resultados imediatos”, alerta o especialista, assegurando que quando não há um entendimento profundo da prática e uma integração consistente no ambiente de trabalho, os benefícios reais do mindfulness são perdidos. “É necessário ir além das soluções superficiais e investir na compreensão da mentalidade e na construção de uma cultura organizacional que apoie a prática, oferecendo recursos adequados aos colaboradores.”
Betito pontua que os benefícios da prática estão relacionados desde melhora da memória, desaceleração do envelhecimento cerebral até redução dos níveis de estresse e alívio da ansiedade. Esses pontos também são esclarecidos em um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Washington, que avaliou os efeitos da meditação no comportamento multitarefa de trabalhadores em um ambiente com alto nível de estresse. Os pesquisadores observaram que apenas os participantes que receberam o treinamento de meditação, conseguiram se manter focados por períodos mais longos e fizeram menos interrupções nas atividades, em comparação com os outros participantes. Além disso, o grupo relatou menos emoções negativas após o experimento, e também teve melhorias na memória nas tarefas realizadas.
No entanto, o profissional, que tem mais de 13 anos de experiência no ensino desse assunto em grandes organizações, ressalta que o mindfulness não é uma solução mágica que resolverá todos os problemas do ambiente de trabalho. Betito garante que é preciso combinar a prática com mudanças na cultura organizacional, estabelecendo um ambiente que valorize a saúde mental, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e a colaboração entre os colaboradores. Ele lembra que ao cultivar a prática do mindfulness, estimular interações humanas conscientes e promover o foco e a atenção no trabalho, as organizações podem criar um ambiente mais saudável, colaborativo e produtivo, resultando em resultados positivos a médio e longo prazo.
“É preciso incorporar à cultura organizacional elementos que estimulam os indivíduos a serem mais conscientes e atentos no seu dia a dia”, aponta o especialista, ressaltando que fornecer treinamento formal e incentivar a prática individual, é crucial aplicar esses conceitos no cotidiano para reduzir a quantidade de reuniões diárias, adaptar o ambiente de trabalho de forma a minimizar as distrações e utilizar a tecnologia de maneira mais saudável e eficiente, priorizando a saúde mental e o desempenho. No entanto, Betito lembra que, acima de tudo, é essencial criar uma compreensão interna de que, para manter a saúde e ter um bom desempenho, corpo e mente formam um sistema único onde o corpo precisa de movimento e a mente de quietude.