Após intensificação de tensões entre união europeia e a Rússia por conta da guerra contra a Ucrânia, autoridades enxergam o Mercosul como um aliado para fortalecimento de relações exteriores, entre os dois blocos e durante a COP27, representantes conversaram na busca de uma nova aliança.
Após a realização da COP27 no último mês, no Egito, segundo o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ybáñez, com a agressão da Rússia à Ucrânia, a busca por parceiros confiáveis é ainda mais importante do que era no passado. Ybáñez, indicou que a Comissão Europeia já teria um esboço do documento que será apresentado como exigência de países europeus ao Brasil, para assegurar que o país cumprirá com os compromissos ambientais, que não ocorreram no primeiro acordo em 2019.
Para Ybáñez, em entrevista durante a COP27: “Podemos dizer que há um interesse reforçado. Seria muito bom neste momento sair um acordo UE/Mercosul, é importante para as duas regiões.”
Relembrando o acordo de 2019
Segundo fontes do Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), órgão do governo Federal, em 2019 o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE) concluíram a negociação e fecharam o acordo de livre comércio entre os dois blocos. Na época as estimativas do Ministério da Economia, com o acordo era de um incremento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) brasileiro de cerca de US$87,5 bilhões de dólares em 15 anos.
Mas em contrapartida ao acordo, em 2020 e 2021 os índices de desmatamento do Brasil não deixaram de crescer, surgindo uma desconfiança de países da União Europeia de que, com esses números, não seria possível para o Brasil cumprir seus compromissos ambientais.
A perspectiva agora, ainda segundo Ybáñez, é de que com um novo documento adicional do acordo, haja a recuperação de confiança através de compromissos bem estabelecidos em relação ao desmatamento. Por exemplo, o Brasil terá como obrigações a serem cumpridas, voltar a colocar orçamento dentro dos órgãos que têm de fazer controle de desmatamento, como Ibama e ICMbio. Ainda segundo ele, ninguém na União Europeia nem nos Estados-membros discutem a soberania brasileira sobre a Amazônia, mas oferecem cooperação.
Segundo o especialista em logística e Trade América Latina-Europa, Luis Felipe Campos: “A retomada de diálogo e estipulação de um novo acordo, abre portas para uma nova perspectiva diplomática e para o comércio exterior brasileiro. As oportunidades que surgem de um acordo entre União Europeia e Mercosul são passíveis de grandes transformações econômicas a níveis globais, que podem beneficiar ambos, a exemplo, com a conciliação no aumento da produção mas com o desenvolvimento sustentável.”
Porém ele ainda alerta que é preciso estar atento às diretrizes adotadas nesse acordo, que precisam ser muito bem estipuladas para que ambos se beneficiem ao mesmo nível, pois “O Mercosul e a UE têm inegáveis assimetrias econômicas”. Se o acordo de fato ocorrer, quando em vigor, irá manter e aprofundar essas assimetrias. Os setores beneficiados [pelo acordo] em ambos os blocos são aqueles que já são os mais competitivos: na União Europeia, os setores industrial e de exportação de capitais; no Mercosul, o agronegócio.”