Passados pouco mais de dois anos desde que o diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom, anunciou o estado de pandemia de Covid-19, o mundo já perdeu 6,2 milhões de vidas no mundo – 662 mil apenas no Brasil, segundo dados da Our World In Data e JHU CSSE COVID-19 Data.
Além da perda de vidas humanas, o prejuízo acumulado para a economia mundial devido à crise sanitária será de US$ 13,8 trilhões (R$ 64,4 trilhões) até 2024, conforme estimativa que integra o Panorama da Economia Mundial 2022. O documento anual é coordenado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pelo Banco Mundial e faz parte do estudo “Uma estratégia global para gerenciar os riscos de longo prazo da covid-19”, divulgado na primeira semana de abril.
O trabalho chama a atenção para a necessidade de mais investimentos nos mecanismos mundiais de combate à pandemia e sinaliza o perigo do surgimento de novas variantes, com potencial de transmissão e letalidade ainda maior. A análise contou com a participação de outras três organizações: Cepi (Coalizão para a Inovação no Preparo para Epidemia), The Global Fund e a Fundação Wellcome.
Felicio Sammarco Valarelli, consultor especialista em economia e finanças, destaca que o crescimento global tem apresentado uma melhora gradual conforme a recuperação dos Estados Unidos vem ganhando força, dia após dia. E isso se dá apesar das incertezas trazidas pela guerra na Ucrânia.
“Não havia como prever a reação das economias frente ao impacto da Covid-19. Enfim, o que teria de oferta regular e oferta afetada? Por conta disso, as oscilações foram ocorrendo, o que não se observou no real em relação ao dólar, de forma significativa, nos últimos anos”, afirma. “Apesar de fatores internos contribuírem para isso, o maior peso ainda é da pandemia e suas consequências”.
Com isso, segundo o consultor, o cenário foi se tornando mais previsível com o tempo, e a situação hoje está mais próxima de uma estabilidade. Entretanto, qualquer novidade ligada ao tema, como o surgimento de uma nova variante, reativa temores e favorece o dólar, moeda tradicionalmente usada como “proteção” por investidores.
“De um lado, temos a taxa de juros, que passa por um dos mais intensos ciclos de alta em meio a uma inflação elevada. Em tese, uma Selic alta atrai mais investimentos estrangeiros, já que o rendimento dos títulos do Tesouro é atrelado a ela, o que aumenta a entrada de dólar e valoriza o real”, explica.
Na visão de Valarelli, esse cenário vem trazendo uma perspectiva mais otimista para o segundo semestre de 2022. A expectativa de alta de exportação com commodities também favorece o câmbio, já que há mais entrada de dólar. A expectativa de queda da inflação é, ainda, um ponto positivo nesse contexto.
“Diante do cenário atual, a realidade exige cautela em todos os âmbitos e traz consigo fortes problemáticas socioeconômicas – além de todas as preocupações ligadas à saúde dos indivíduos, com a existência de novas variantes”, reflete.
Brasil deve encarar caminho de recuperação
O especialista em economia e finanças observa que os empreendedores e gestores brasileiros já passaram por diversas crises internas e externas. “Os países com economia estável e eficaz conseguem responder em pouco tempo a fatores negativos, mas países com mais fragilidades demoram para se recuperar e voltar ao status anterior à crise”, explica. “O governo e as políticas econômicas implementadas contribuem para influenciar o desempenho econômico, porém depende se as mesmas são utilizadas nas ações mais propícias para aquele momento”.
Valarelli destaca que, diante de uma crise inédita, não há um “manual pronto”: devem ser utilizadas boas práticas com quem está vivendo o mesmo desafio, que é de escala global. “Isto é algo que deve ser revisto todos os dias, porque as ações são implementadas diariamente, conforme a mudança de cenário, uma vez que, todos os dias, novas decisões tomadas impactarão a vida de milhares de pessoas, a exemplo da atual crise dos combustíveis”.
Para concluir, o consultor afirma que, só agora, está ficando claro como as implicações da pandemia e da guerra na Europa refletem para o empreendedorismo no Brasil. “Para seguir em frente, não será suficiente esperar que as coisas voltem ‘ao normal’. O caminho a seguir requer equilibrar a construção de resiliência, bem como estar pronto para novas oportunidades empresariais, pois não podemos nos esquecer de que, através do tempo, inúmeros países já transitaram em períodos de crises, longos ou curtos, independentes de natureza ou extensão”.