Embora um número cada vez maior de brasileiros tenha acesso à escola, a evasão escolar ainda é um tema bem preocupante no Brasil. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgados em 2019, mais da metade da população brasileira, o que corresponde a 69,5 milhões de pessoas (51,2%), não concluiu uma das etapas da Educação Básica. Dentre essas, segundo a pesquisa, somente 8% concluíram o ensino fundamental, 4,5% possuíam o ensino médio incompleto e 6,4% não tinham instrução.
Tal cenário tende a se tornar ainda mais agravante se considerarmos a atual taxa de evasão escolar entre crianças e adolescentes que chegou a bater recordes durante a pandemia da COVID-19. Conforme relatório divulgado pela organização Todos Pela Educação, após o retorno das aulas presenciais em escolas particulares e públicas do Brasil, no mês de novembro de 2021, cerca de 240 mil alunos entre 6 e 14 anos não voltaram para a sala de aula, o equivalente a um aumento de 171% em comparação ao mesmo período de 2019. Falta de recursos para estudar remotamente, dificuldade de aprendizagem e a necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar, diante da crise econômica, são os principais fatores que levaram muitos estudantes a abandonar a escola, conforme apontou o diretor executivo da Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, em entrevista ao Portal Istoé.
Assim, são necessárias medidas de incentivo para que essas crianças e jovens voltem aos estudos, ou a taxa de adultos sem formação escolar completa será ainda maior. Preocupada com esse panorama, a Faculdade de Educação Paulistana (FAEP), localizada no bairro Parada de Taipas, região noroeste de São Paulo, em parceria com o Instituto Educa Mais e o Centro de Integração de Cidadania Oeste (CIC Oeste) lançou, em 2021, o projeto Quebrada Atualizada. Em 8 de junho de 2022, a instituição já abriu edital para a 2ª edição do projeto.
De acordo com Vânia Aparecida da Costa, diretora acadêmica da FAEP, a proposta tem como objetivo oferecer o acesso à educação básica, por meio do ensino à distância (EAD), para jovens e adultos de baixa renda que não concluíram os estudos no tempo regular, valorizando a cidadania de acordo com a realidade de cada aluno, através de metodologias educacionais sociais e construtivas. Para que aconteça, o projeto tem como base o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Vânia também afirma que, durante os cursos da EJA, além das aulas na modalidade EAD, os alunos ainda terão, de acordo com o cronograma, uma aula presencial ou atividade prática na faculdade que poderá ocorrer em sala de aula, laboratório de informática ou biblioteca. “Os participantes terão prioridade no projeto Oportunidades Solidárias, que encaminha cidadãos da região da FAEP para entrevista de emprego e cursos que proporcionem geração de renda, tais como: manicure, depilação, designer de sobrancelha, corte e costura, modelagem, entre outros. Essas formações serão integradas aos estudos e ações que também contribuirão para formação completa dos indivíduos e, por consequência, da comunidade como um todo”, completa.
Os alunos promovidos contarão com um certificado do Curso EJA, com qualificação profissional em Administração, com validade em todo território nacional, expedido pelo Instituto Educa Mais.
Sobre as vagas oferecidas
Por meio do Quebrada Atualizada, a FAEP oferecerá 100 vagas para formação educacional gratuita à comunidade localizada no entorno da instituição. Na 1ª edição, realizada em 2021, a faculdade reservou 10% das vagas para pessoas transexuais, transgêneros e travestis. Nesta 2ª edição, a instituição também reservará mais 10% das vagas a mulheres ou pessoas que se identificam com o gênero feminino, vítimas da violência doméstica, e outros 10% a estrangeiros, portadores do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE). “Sabemos dos entraves enfrentados por muitas pessoas pertencentes a esses grupos para realizarem seus estudos, por isso nos preocupamos com elas e oferecemos essa oportunidade”, declara Vânia.
No caso das mulheres que sofrem violência doméstica, por exemplo, a diretora ressalta a relevância da formação escolar para desenvolvimento da própria autonomia e entrada no mercado de trabalho. Afinal, a dependência financeira ainda é um dos principais fatores que impedem muitas mulheres de denunciarem as agressões sofridas. Somente em 2020, inclusive, a cada minuto, 8 brasileiras foram agredidas no Brasil, totalizando mais de 17 milhões, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Diante de tudo isso, nós incentivamos a participação desse grupo em nosso projeto, principalmente por meio do apoio da educadora Edilaine Daniel, professora de Pedagogia da FAEP e diretora do CIC-Oeste, onde ela criou, recentemente, o Centro de Atendimento à Mulher (CAM), destinado a atender vítimas de violência doméstica”, destaca Vânia. No CAM, as atendidas são incentivadas a serem protagonistas de sua vida, conquistando a independência financeira e, aquelas que não concluíram o ensino médio, são orientadas a se inscrever no Quebrada Atualizada.
Em novembro de 2021, inclusive, a Professora Edilaine, juntamente com a assistente social Meirejane de Souza, promoveu uma palestra online voltada para alunas da FAEP e o público feminino de modo geral sobre uma série de orientações a respeito das redes de proteção, às quais as vítimas de agressão podem recorrer para obter ajuda. A palestra pode ser acessada na íntegra pelo canal da FAEP no YouTube.
Os interessados em se inscreverem no projeto Quebrada Atualizada deverão ler o regulamento completo. Caso tenham o perfil condizente com a vaga, deverão preencher o formulário de inscrição até o dia 20 de junho.