Pela primeira vez na história, os cursos de graduação à distância no Brasil receberam mais alunos novos do que os presenciais. É o que apontou o Censo de Educação Superior 2020, divulgado em fevereiro de 2022 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). De acordo com o estudo, dos 3,7 milhões de ingressantes no ensino superior em 2020, 53,4% escolheram o ensino à distância (EAD), enquanto 46,6% optaram por cursos presenciais.
É fato que a Covid-19 contribuiu com o aumento do interesse pelo EAD, especialmente em 2020, mas o próprio Censo mostra que esta é uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Segundo o órgão vinculado ao Ministério da Educação, o índice de novos alunos de EAD aumentou 428,2% nos últimos 10 anos.
Com a expansão do ensino remoto, quem ganhou espaço foram as edtechs – startups que atuam com educação e tecnologia. De acordo com um estudo divulgado em 2021 pelo Mapeamento Edtech, desenvolvido pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), o Brasil possui cerca de 566 startups de educação ativas, número 26% maior do que o registrado em 2019.
Enquanto diversos setores da economia foram severamente impactados pela pandemia, 64% das startups com foco em educação e tecnologia mantiveram ou aumentaram o faturamento em 2020; 89% não realizaram cortes na folha de pagamento e 40% aumentaram o quadro de funcionários.
Cresce busca por educação continuada
A procura por cursos de pós-graduação e mestrados cresceu 4,8% em 2021. A informação é resultado de uma análise elaborada pelo Instituto Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino superior do país, que aponta que o número de matriculados em cursos de pós-graduação foi de 1,3 milhão.
Para Antonio Carbonari, educador e fundador da MUST University – universidade brasileira fundada na Flórida (EUA) com foco em mestrados à distância, o crescimento por cursos de especialização deve-se, sobretudo, ao contexto da pandemia e do isolamento social, que contribuiu diretamente na busca por cursos online. “Entre 2020 e 2021, as faculdades não puderam trabalhar de forma presencial, tendo que se adaptar, em pouco tempo, ao ensino remoto. As empresas que investiram no EAD conseguiram suprir um volume de demandas”, afirma.
Segundo o estudo da Semesp ainda, a categoria de mestrado e doutorado cresceu 18,1% no último ano, com 441 mil matrículas. Entre 2019 e 2020, a categoria sofreu uma redução de 1,7%. “O ensino remoto assumiu um papel relevante no contexto educacional. Neste cenário, o professor precisou se reinventar para garantir um bom desempenho do aluno e, para se consolidar no mercado, o profissional de ensino, por exemplo, precisa se modernizar, saber tirar partido das tecnologias disponíveis e, principalmente, reconhecer que não são mais os únicos agentes no processo de aprendizagem”, destaca Carbonari, que também foi conselheiro do Conselheiro Nacional de Educação (CNE) entre 2016 e 2020.
Formada em pedagogia, Tauana Chíxaro Lima decidiu trabalhar com ensino à distância e, para lidar com os novos desafios da profissão, buscou aperfeiçoamento por meio do mestrado. Aluna do curso de Tecnologias Emergentes em Educação na MUST University, ela afirma que o título de mestre sempre lhe interessou, mas não via muitas possibilidades para alcançá-lo porque todas as instituições que conhecia exigiam sua presença física. “Para mim, o EAD simboliza a democratização do ensino, sem contar as trocas profissionais que os eventos e seminários online proporcionam”, revela a professora.