A sigla ESG tem ganhado força nos últimos anos, bem como sua relevância dentro do ambiente econômico. As letras são a sigla em inglês para Environmental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança), ou seja, uma empresa que leva o ESG em consideração está direta e indiretamente impactando positivamente seus indicadores econômicos e financeiros, bem como suas tomadas de decisão.
Segundo o Pacto Global da ONU – organização que cunhou o termo em 2004 – ESG nada mais é do que a própria sustentabilidade empresarial. As empresas que estão em conformidade com as práticas ESG entendem quais são seus impactos negativos e positivos na sociedade e conseguem agir sobre eles. Segundo um estudo original realizado pelo Google e pelo Sistema B Brasil, 4 em cada 5 brasileiros consideram importante a atuação de empresas e marcas em ações relacionadas ao meio ambiente e as áreas sociais e de governança.
Para Flavia Feliz, sócia da We.Flow – empresa B certificada de consultoria e educação sobre ESG e liderança consciente – considera-se que a parte Social do ESG aborda temas direcionados ao relacionamento com colaboradores, fornecedores, clientes e as comunidades onde a empresa atua. Também são consideradas questões dentro da dimensão Social: a forma como a empresa age em compromisso com a justiça, equidade, diversidade e inclusão; a promoção de saúde e segurança no trabalho; a redução de rotatividade, bem como o aumento da satisfação e do engajamento dos colaboradores; e investimentos na comunidade de entorno ou organizações da sociedade civil. Segundo a especialista, todas essas questões sociais do ESG passam pelo desenvolvimento de uma liderança consciente capaz de alinhar aspectos de visão, propósito e valores organizacionais à perspectiva social, de modo que a cultura organizacional conte com a integração entre impacto socioambiental e a estratégia do negócio.
As questões de ESG sempre estiveram presentes na sociedade como demandas necessárias, mas foi apenas em dezembro de 2015, durante a COP 21 (21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que foi firmado o Acordo de Paris e que trouxe à tona a grande crise climática. Neste ano, 195 nações se comprometeram a reduzir drasticamente a emissão de carbono. O governo brasileiro assumiu diferentes metas relacionadas ao Acordo de Paris, sendo as principais atreladas a redução de 50% das emissões dos gases associados ao efeito estufa até 2030 e a neutralização das emissões de carbono até 2050.
O tema é tão importante que, após a COP 26 (realizada em 2021), houve uma proposta pela Comissão do Meio Ambiente do Senado Federal (PL 65239/2010) de alteração da Lei 12.187 de 2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), sendo que tal proposição foi aprovada na casa iniciadora (Senado), e está aguardando aprovação pela Câmara dos Deputados para posterior sanção presidencial. Convém ressaltar que tal proposta, que aperfeiçoa essas diretrizes e os novos desafios relativos ao clima, de fato compromete o país com os acordos firmados em 2015 em Paris.
O consultor especialista em projetos de investimento de longo prazo e sócio da Macke Consultoria, André Moro Maieski, ressalta que as práticas ESG relacionadas às ações ambientais executadas por médias e grandes empresas significam não só atender a grandes demandas da sociedade, como também ter acesso às práticas do mercado financeiro nacional e global. Maieski destaca também a importância da participação das empresas do setor privado no tema ESG, e comenta que após a visita do presidente da COP-26 (Alok Sharma) ao país em março deste ano, ficou notória a necessidade de ação não apenas do setor público e sim de envolver também as organizações privadas, compromisso que deve ser ainda mais pontuado na COP 27, a ser realizada este mês (novembro), no Egito.
Esse movimento já é amplamente percebido no Brasil, a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), entidade que age como porta-voz do mercado financeiro, tem estabelecido uma série de ações relacionadas ao tema ESG no Brasil, principalmente no que diz respeito a boas práticas, realização de cursos e obrigatoriedade de conhecimento do tema em suas certificações para os diferentes agentes do mercado financeiro. Mesma importância tem dado a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) que em agosto desse ano realizou o evento “FEBRABAN TECH 2022: como o ESG impacta a alocação de recursos?” Onde especialistas debateram como novas regulações podem incentivar o desenvolvimento de finanças sustentáveis.
Agentes importantes do mercado como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm apoiado diferentes iniciativas que contribuem para que o Brasil atinja os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
André Moro Maieski, consultor que vivencia o cenário atual no setor de captação, identifica que o BNDES tem incentivado ações positivas de ESG e medido constantemente os impactos sociais e ambientais das atividades apoiadas por eles. É possível destacar linhas de financiamento subsidiadas com taxas de juros reduzidas nos financiamentos, aumento da participação do banco em projetos que trazem a questão ambiental e social, e mesmo em frentes como concessão de recursos não reembolsáveis envolvendo diferentes entidades. Para Maieski, o BNDES tem demonstrado grande capacidade de articular os agentes econômicos em torno do tema ESG, pois além de ter soluções em crédito para financiar diferentes iniciativas, seu corpo técnico desenvolveu ao longo dos anos grande expertise em identificar e medir indicadores de impactos sociais e ambientais relacionados ao tema.
“Para que grandes empresas possam captar recursos no BNDES de forma direta (sem agentes intermediários), é fundamental que elas trabalhem com iniciativas ESG, visto que é requisito necessário para a aprovação e boa condução do processo de financiamento e prestação de contas, nos quais indicadores e exigências contratuais são formalizados”, finaliza o especialista. Ele complementa ressaltando que a demanda da sociedade moderna estruturada já inclui essas questões, principalmente as ambientais e que não há mais espaço para que o setor privado deixe essas práticas de fora.