Campeã da ginástica Flávia Saraiva ensina como evitar burnout e ter saúde mental

Campeã da ginástica Flávia Saraiva ensina como evitar burnout e ter saúde mental

Flávia Saraiva está na Europa com a seleção brasileira de ginástica artística que vai disputar o Campeonato Mundial de 2022 em Liverpool, na Inglaterra, a partir de 29 de outubro. A competição distribuirá as primeiras vagas da ginástica artística para os Jogos Olímpicos Paris 2024. As três equipes mais bem colocadas no feminino e no masculino se classificam.

A ginasta Flávia Saraiva está recuperada de uma lesão no pé e promete tentar elementos mais difíceis para compor suas séries no Campeonato Mundial deste ano. Aos 23 anos de idade, está confiante e feliz em competir e representar o Brasil.

Há quatro anos, porém, a situação era bem diferente. “Em 2018, eu tive burnout. Foi um momento muito difícil, porque eu queria muito permanecer treinando e não conseguia. Não foi um burnout físico, mas mental. Eu fiquei dois meses sem dormir. Dormia três horas por noite e treinava sete horas por dia. Fui ficando desesperada. Tinha vontade de chorar o tempo todo. Eu entrava no ginásio e já falava: ´preciso ir embora´”, conta

Para entrar no processo de cura, Flavinha contou com apoio de psicóloga, familiares e treinador. Se convenceu de que precisava cuidar primeiro da Flávia pessoa e depois da atleta. Aceitou uma folga de três dias e, a partir daí, começou o tratamento direcionado até chegar à cura.

Consciente do seu papel em inspirar jovens, Flávia não se furta a falar abertamente sobre o problema. Durante a competição estudantil Liga Esportiva NESCAU, ela listou 10 atitudes para enfrentar problemas mentais decorrentes da intensa pressão, seja no esporte, na escola ou no trabalho.

1 – Manter a mente descansada

“O principal é manter o descanso mental. Apesar de ter que estudar, trabalhar ou treinar, as pessoas precisam encontrar meios de recuperar não só o físico, mas o mental. Isso é fundamental para conseguir exercer suas atividades da melhor forma possível”.

2 – Encontrar válvulas de escape

“Pode ser música, família, se divertir, fazer uma leitura. Não importa qual será, o importante é que cada um encontre o seu meio de relaxar, desligar da atividade profissional, esportiva ou estudantil”.

3 – Entender quais são as válvulas de escape certas

“Não se engane com coisas que te farão sentir muito bem, mas por apenas um momento. Eu, por exemplo, busquei coisas com as quais me sentia verdadeiramente feliz. Fui para a praia. Eu acredito muito em Deus e lá me conectava com Ele e com a natureza. Aquele era o meu momento. O que eu quero dizer é que, pelo menos para mim, valia muito mais isso, ou estar com amigos e amigas do que ir para uma festa. É a diferença entre uma sensação de bem-estar mais suave e duradoura em relação a algo intenso e passageiro”.

4 – Aceitar que o problema existe

“Caso um problema mental apareça, é preciso ter calma e agir. Sei que, no início, é difícil aceitar e falar sobre o problema. Porém, esse primeiro passo é essencial. A partir daí, você consegue dar o passo seguinte. Eu entendi a necessidade de me aceitar como pessoa e, a partir daí, fazer o melhor para mim no momento que estou passando”.

5 – Entender o que está sentindo

“Depois que você aceitar que está vivendo um problema, é hora de começar a tentar entender o que está sentindo para conseguir explicar para as pessoas e encontrar ajuda”.

6 – Confiar nos familiares e amigos

“Conversar com os pais, familiares e amigos que são pessoas que te amam é um passo importante. Porque eles te aceitarão, entenderão e te ajudarão. Eu, por exemplo, demorei a contar para minha família, pois precisava entender o que eu sentia antes. E quando falei, foi ótimo, pois recebi todo o suporte”.

7 – Procurar ajuda de um profissional de saúde

“Um psicólogo ou psiquiatra é o profissional da saúde que vai te ajudar a entender e lidar com o problema, seja ele qual for. Inclusive, se a pessoa sentir dificuldade em falar com os familiares ou eles tenham dificuldade em entender, são esses especialistas que farão a diferença”. 

8 – Fazer da rotina uma coisa boa

“Desde os 13 anos, tenho uma rotina de treinos de sete horas, de segunda a sábado. E ter rotina é uma das coisas mais importantes. Mas é preciso entender, aceitar e fazer dela uma situação prazerosa. Passo mais tempo com as pessoas no ginásio, que também são minha família, que em casa, e procuro conversar bastante com todos e tirar o melhor proveito desses momentos”.

9 – Não se esconder, ficar sozinho ou sentir vergonha

“Por mais que todos nós precisemos de um tempo a sós, ninguém deve atravessar uma crise sozinho. Muito menos ter vergonha por se sentir mal e evitar pedir ajuda. Peça ajuda e as pessoas que te amam ajudarão. Sei que essa vergonha nasce do receio de decepcionar as pessoas. Eu passei por isso em relação ao meu treinador. No fim, era ele quem me levava para a praia, me deu o maior apoio e isso me incentivou ainda mais a me recuperar e voltar a fazer o que gosto”.

10 – Voltar à vida normal com calma

“Após a crise e quando os resultados começam a aparecer, a retomada funciona de forma divertida. Afinal, você está descansado e feliz em retornar a fazer o que gosta. Porém, tem que entender que não pode dar 100% logo de cara. Voltar aos poucos e gradativamente garante continuidade. E, fundamental, manter o tratamento até a liberação médica”.

Após as dicas, Flávia Saraiva deixa uma mensagem final, especialmente aos jovens que, como ela, enfrentaram ou enfrentam problemas. “Continuem acreditando nos sonhos, descansem a mente para que consigam atingir os objetivos. E se precisarem de ajuda, contem com as pessoas que você ama. Elas irão entender e ajudar”.