Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que o transplante de córnea foi um dos procedimentos mais afetados pela pandemia da Covid-19 no país. Segundo o levantamento, o número de operações realizadas diminuiu de 14,9 mil, em 2019, para 7,1 mil em 2020, ano marcado pelo início da crise sanitária e pela implementação de medidas de restrição social.
Apesar da melhora, em 2021, os resultados ainda permaneceram 16% abaixo do registrado no período pré-pandemia, com 12,7 mil cirurgias óticas. Como consequência dessa queda, a fila de pacientes esperando por um transplante aumentou cerca de 80%: 10,7 mil inscritos em dezembro de 2019 para 18,8 mil no final do ano passado.
Paraná possui mais de 800 pessoas na fila de transplante de córnea
Somente no Paraná, no Sul do Brasil, a fila de espera para o procedimento ocular já conta com 800 pessoas, segundo o Banco de Olhos Regional de Londrina (BOL). O único banco de doações público do estado registrou a queda no número de captações, desde o início da pandemia, fato que prejudicou ainda mais o andamento da fila.
Se, em 2019, foram registradas 307 doações de córneas e globos oculares no BOL, no ano seguinte, a quantidade era de apenas 76, uma redução de 75,2%. Já em 2021, o crescimento foi de 112%, totalizando 168 concessões. A expectativa para 2022 é de que esses números aumentem. Desde a criação, no ano de 2011, o banco paranaense registrou cerca de duas mil doações, número correspondente a quatro mil córneas captadas em uma década.
Apesar de simples, o procedimento de doação de córnea, assim como de outros órgãos, deve ser autorizado pela família do doador. A captação do tecido é feita em poucas horas após o óbito do paciente. São impedidas de ceder o globo ocular pessoas infectadas por vírus, como HIV, sífilis, leptospirose e hepatites B e C, as que tiveram leucemias e linfomas ativos, algum tipo de infecção generalizada, endocardite bacteriana ou raiva.
Segundo o BOL, após extraída, a córnea é preservada por 14 dias, e os transplantes podem ser feitos em hospitais credenciados pelo Ministério da Saúde, em todo o Brasil. O Banco de Olhos se responsabiliza por todo o procedimento de segurança, qualificação e avaliação do tecido, enquanto a pasta federal de saúde é encarregada pelo processo de doação, por meio do Sistema Nacional de Transplante.
No cenário nacional, o impacto da pandemia também reduziu o número de doações de tecidos oculares. Se, de 2017 a 2019, a média anual de doadores era de 16.850, em 2020, o número diminuiu para cerca de 3.060, nos oito primeiros meses do ano, segundo dados de 37 bancos de captação de 20 estados brasileiros. O levantamento foi feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e divulgado em 2022.