A pecuária de corte vem se diferenciando a cada ano, com a novidade do boi verde. Hoje o Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina, com 1.867.594 toneladas exportadas em 2021, conforme a Abrafrigo. Essa qualidade na carne brasileira vem fazendo os importadores a pagarem um ágio na hora da compra. Esse ágio varia de R$ 15,00 a R$ 20,00 a mais na arroba, segundo a Safras & Mercado.
O boi começou a receber nomes e classificações que atendem a critérios do mercado interno e externos, nomes esses: o Boi Europa, a Cota Hilton e o Boi China. Esses são passíveis de ágio. Enquanto o boi comum, é o preço da arroba negociada no mercado interno. Para diferenciar no mercado interno e externo, um novo conceito e classificação de boi surgiu, o boi verde. Esse conceito surgiu no início dos anos 2000 e vem ganhando força a cada ano, segundo a (ACNB) Associação dos Criadores de Nelore do Brasil.
A principal diferença do boi verde do boi comum é a forma de manejo, onde o boi verde existe uma preocupação de uma alimentação mais saudável, a pasto, e bem-estar animal. Diferente de sistemas de confinamento, muito utilizados na pecuária europeia e norte-americana.
O que é boi verde?
O boi verde não é um tipo de gado, é um conceito, independente da região, raça de gado, grau de sangue ou idade do animal. Conceito este onde a criação do gado de corte é feita através de um sistema de manejo e pastagem mais livre e sustentável e com alguma suplementação em cocho. O animal é criado solto no pasto e a alimentação é baseada na plantação existente (capim), com usos reduzidos ou inexistentes de agrotóxicos. Embora é permitido o uso de adubos sintéticos.
Geralmente nos últimos 90 dias antes do abate o boi verde passa a ficar confinado. Nessa etapa o animal deve receber no cocho alimentos como silagem com caroço de cereais, farelo de soja ou outros à base de grãos.
Qual a diferença do boi verde com o boi orgânico?
O boi orgânico possui muito mais restrições do que o boi verde. No boi orgânico o uso de adubos sintéticos, inseminação artificial, transferência de embriões, uso de medicamentos alopáticos e suplementação de origem vegetal de culturas convencionais, não são permitidas. O boi orgânico precisa ter a certificação orgânica, proveniente de auditoria ou participativa. Além disso no sistema orgânico não é permitida queimadas. O que eles têm em comum é a vacinação oficial obrigatória, febre aftosa e brucelose. Além da preocupação com o bem-estar animal.
Uma das vantagens do boi verde é a permissão do uso da suplementação vegetal convencional, oriundo de lavouras tradicionais como: milho, soja, sorgo, entre outros. Embora o sistema orgânico seja permitido apenas 20% essa suplementação convencional, sem procedência orgânica.
Benefícios da criação do boi verde
O conceito de criação do boi verde permite ser mais sustentável comparado com o boi comum, pois faz maior o uso de pastagens, utilizando o pastejo rotacionado. O pastejo rotacionado nada mais é o pasto dividido em piquetes, pequenos pedaços, onde o boi passa parte do dia ou dias neste piquete, até ir para outro piquete. Dando tempo para o capim recuperar. Esse tempo de descanso no piquete depende muito do tipo de capim está sendo utilizado, mais geralmente tem uma variação de 28 dias.
Outro benefício é a preferência do consumidor, que procura por produtos de melhor qualidade, saudável e que impacte menos a natureza. Como o boi verde, tem um pastejo mais intensificado, um posto de melhor qualidade, ele ganha mais peso, um maior GMD (Ganho Médio Diário). Permitindo ir mais cedo para o abate.
Enquanto no método tradicional leva em média 30 meses para o abate, no boi verde isso é reduzido entre 18 e 24 meses. Contudo se fizer uso de raça de gado superprecoce, alinhado ao conceito do boi verde, o bate pode chegar entre os 13 e 16 meses. Estas vantagens garantem uma melhor relação custo/benefício com lucros para o pecuarista, permitindo maior giro de animais por hectare/ano, além de um animal saudável e de boa qualidade.
Boi verde uma pecuária mais sustentável
Como o boi verde faz uso do pastejo rotacionado, o pasto é adubado frequentemente permitindo um maior crescimento foliar do capim, assim deixando o solo sempre coberto e protegido contra erosões. Outro ponto da sustentabilidade é o tempo certo para entrada e saída dos animais, evitando o superpastejo e compactação do solo.
Contudo um pasto, sempre coberto de folhas pode reduzir em até 12% a emissão de gás carbônico (CO2) segundo a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Do ponto de vista financeiro, uma capineira de qualidade, permite o gado ganhar mais peso, ter um GMD maior. Uma rentabilidade para o pecuarista.
A prática de uma pecuária mais sustentável traz outras vantagens: redução no uso de agrotóxicos, animais saudáveis, solo enriquecido e protegido e facilidade de manejo.
Como criar o boi verde?
Para produzir carne de corte com o sistema de boi verde é necessário ter em mente que a produção será natural e ecológica. E que demanda um bom planejamento e aproveite o máximo dos recursos existentes na propriedade.
Um passo decisivo é a escolha da pastagem. Charles Dal Gallo, pecuarista do Sítio Pema, recomenda que primeiramente se deve tirar o máximo proveito da pastagem atual, antes de pensar na trocar do capim. Um pasto pode ser recuperado ou renovação. No processo de recuperação compreende uma correção do solo com adubação, remoção de plantas invasoras e alguma semeadura nas partes danificadas, é ideia é manter o pasto e deixando melhor.
Já o processo de renovação compreende preparar o solo completamente, com aração, gradagem, calagem, adubação e sementes. A formação do pasto na reforma pode ser com a mesma capineira ou não. Qualquer tipo de capineira escolhida a atenção do pecuarista se faz necessária quanto as características do capim: produção de MV (Matéria Verde) e MS (Matéria Seca) por toneladas/hectare/ano, exigências nutricionais da planta, resistência a pragas e doenças, estresse e exigência hídrica, resistência a geada e encharcamento, se é ideal para solos argilosos ou arenosos, indicado para a região (bioma), indicado com topografia da propriedade (morro), palatabilidade (o gado aceita bem), teores nutricionais da planta (proteína e energia).